Quando ainda era um mini torcedor do Esquadrão, no auge dos meus oito anos, em 2009, vi no Jogo Aberto da Band a apresentadora Juliana Guimarães falar sobre um problema crônico que o Bahia da época apresentava no campeonato. Disputando a Série B do Brasileirão, o tricolor começava jogando bem e ia para o intervalo das partidas com vantagem no placar em alguns jogos, mas um apagão generalizado fazia com que os times adversários conseguissem se sobressair na segunda etapa e empatar ou virar o placar.
Esse fenômeno foi apelidado por ela (ou alguém da bancada) de “síndrome do segundo tempo”. Não sei exatamente o motivo, até porque é difícil tentar compreender a cabeça de uma criança de oito anos, mas esse termo ficou cravado na minha cabeça e eu comecei a falar disso na escola durante a rodinha de discussão de futebol no intervalo com meus amigos. “Não é isso, Joãozinho, o problema do Bahia é que ele sofre de síndrome do segundo tempo e por isso não consegue ganhar” o engraçado nisso é que provavelmente eu nem sabia o significado da palavra “síndrome”, muito menos onde isso se aplicava no futebol, só repetia, assim como muitos torcedores mirins, o que ouvia nos programas de TV.
Lembro até do momento em que o fim dessa síndrome foi decretado pelo programa. Foi em um Bahia x ABC, em Pituaçu, onde o tricolor venceu o alvinegro de Natal por 4×0. Depois disso, segui a vida e nunca mais pensei nesse termo futebolístico.
Hoje, 14 anos depois, tentando digerir uma derrota traumática diante do Santos, em uma Fonte Nova lotada, esse termo voltou a flutuar em minha mente, mas com uma pequena mudança: a síndrome do segundo tempo deu lugar para outra que pode causar ainda mais angústia aos torcedores, a síndrome dos 49 minutos.
Em uma matéria recém-publicada por mim, aqui no ecbahia.com, constatei a quantidade assustadora de gols que o Bahia tomou após os 49 minutos do segundo tempo. Ao todo, o Esquadrão sofreu gols no apagar das luzes em seis partidas, sendo duas da Copa do Brasil. Destas seis, quatro aconteceram na Fonte Nova e foram protagonizadas por dois times: Grêmio (13ª rodada e quartas da Copa do Brasil) e Santos (oitavas da Copa do Brasil e 24ª rodada). Os outros gols sofridos aconteceram nas partidas contra o Inter, na 8ª rodada, e Coritiba, na 23ª.
Esse tanto de gols cedidos de “mãos beijadas” aos adversários nos minutos finais me remetem aos tempos de infância, onde via um Bahia frágil que não conseguia manter os resultados, seja fora ou dentro de casa.
Ao meu ver, isso só mostra o quão desligado o Bahia fica nos minutos finais, seja por cansaço ou ansiedade por já estar preto do fim do jogo e com o objetivo guardado nos braços. Esse é um dos pontos que Rogério Ceni precisa levar em consideração e trabalhar para corrigir, já que dois desses gols foram tomados em suas duas únicas partidas comandando o Esquadrão.
É inadmissível um time que almeja brigar por coisas maiores levar essa quantidade absurda de gols faltando tão pouco para o fim da partida e o inaceitável passa a ser doloroso pois estamos falando de Bahia. O tricolor sempre foi conhecido pela mística de marcar gols milagrosos nos minutos finais das partidas, mas em 2023 a situação foi invertida. A conclusão (supersticiosa, é claro) que consigo tirar nisso tudo é que a mística não somente nos abandonou, como também resolveu nos punir e não quer mais nos agraciar com um saboroso milagre tardio.
A partir de agora, pelo menos para mim, todos próximos os angustiantes “minutos 49” durarão uma eternidade, com um amargo retrogosto de infância.
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