Leia abaixo o “Pingue-Pongue” feito pelo repórter Luiz Teles com o atacante Viola, 36 anos, que fala ao jornal Correio da Bahia sobre os benefícios que a experiência lhe trouxe, suas primeiras semanas no Esquadrão de Aço, as expectativas para o clássico deste domingo e muito mais. Veja:
Ao chegar ao Bahia, você disse que não iria mais prometer gols, porque o amadurecimento havia lhe ensinado que isso só traz prejuízos. O que mudou no Viola de 1988 para cá?
Com o tempo, qualquer ser humano, de qualquer setor, quando quer, acaba assimilando as coisas boas de sua profissão. Eu, nestes quase 18 anos de futebol profissional, tive felicidades e tristezas, e aprendi que todas as vezes que você promete uma coisa e não cumpre, isso trás uma energia negativa, uma desconfiança, que não combina com minha personalidade e nem com o esporte. Cada jogo é um jogo e você torna as coisas fáceis de acordo com o seu trabalho. Então acho que hoje eu tenho que saber da minha responsabilidade, não provocar frustrações, e sim dar o máximo para que os gols aconteçam. Isso eu posso prometer e a torcida já deve ter reparado: luta não vai faltar.
Sua personalidade também mudou?
Não. Eu prometia gols, mas nunca atropelei ninguém por conta disso. Sou um atleta que joga pela equipe e não penso duas vezes antes de tocar a bola para um companheiro melhor colocado. É só lembrar da Copa de 94, quando eu era jovem, que tive a chance de marcar após uma linda jogada individual, mas tentei o passe e o gol acabou não acontecendo. Continuo com a mesma humildade, com a mesma simpatia, apesar de saber que o nome, a marca “Viola”, é referência em qualquer lugar que eu passe. Vim de família humilde e sei como isso é importante para se manter um ambiente saudável e estável, tanto no clube, como na minha própria casa.
Só que a irreverência nas comemorações e pequenas provocações não entram no pacote vindo com a maturidade, não?
Pois é. Minha irreverência sempre foi uma coisa natural, nunca esteve propositalmente inserida para aumentar o marketing da marca “Viola”. Nunca forcei isso. Sempre fui espontâneo. Inclusive, engana-se quem acha que eu planejo especificamente uma coreografia para os gols. Tenho idéias, mas só decido o que fazer na hora. Então, o negócio das provocações é uma coisa do futebol, mas não faço para polemizar. Aquela imitação do porco, contra o Palmeiras, só aconteceu porque na hora que chutei a bola, cai naquela posição, então tive a idéia e executei. Não tive a noção da dimensão que aquilo tomaria depois. No meu discurso, com toda sinceridade, o que prego é o espírito esportivo e o respeito ao adversário.
Na cultura do futebol, centroavante só estréia quando faz gol. Como foi marcar pela primeira vez com a camisa tricolor (Viola fez o gol da vitória por 2×1 sobre o Grêmio, na Fonte Nova, pela Copa do Brasil)?
Foi muito bom, mas antes mesmo de fazer o gol eu já falava que o importante era o triunfo do grupo, fosse o gol meu ou não. Tenho que dividir aquele gol com todos os meus companheiros, mas principalmente com o Paulinho, que me deixou de cara no segundo pau. Durante a semana conversei com ele sobre meu posicionamento e ele foi inteligente. Fez a bola chegar certinha para que eu marcasse de cabeça.
Você fez o gol contra o Grêmio, mas não apresentou uma coreografia marcante. Já tem alguma em mente?
Como falei, não tenho nada específico. Já pensei em algumas coisas, mas isso depende muito do que acontecer na hora do gol, da minha emoção, do clima da partida. Cada caso é um caso, mas espero não demorar para criar algo legal. Sei que a torcida gosta disso e que faz parte da minha história dentro do futebol.
O que mais te agradou até aqui em Salvador e mais especificamente no Bahia?
Certamente o carinho e o respeito que as pessoas têm tido comigo. É impressionante sair em Salvador e ser cumprimentado em todos os lugares que visito: shoppings, restaurantes, pontos históricos. Até torcedores de outros times vêm falar comigo e dar uma força. A cidade é bela, mas o povo e seu comportamento é o que chama mais atenção. Aqui no Bahia a receptividade foi fantástica, não somente por parte do elenco, mas também pelos funcionários e diretoria. Estou muito feliz pelos companheiros que tenho.
Quais foram as maiores dificuldades?
Sinceramente, não houve nenhum problema até agora.
A idade trouxe maturidade e experiência, mas diminui outras valências importantes como velocidade e explosão física. Suas características de jogo mudaram também?
A experiência existe justamente para equilibrar essa perda de algumas qualidades como a velocidade e a explosão, apesar de eu achar que não caí tanto assim nesses quesitos, uma vez que continuo vindo buscar jogo no meio-de-campo e, sempre que possível, dou uma pressionada nos zagueiros. Graças a Deus nunca me contundi seriamente na carreira e isso ajuda muito. Hoje sei que controlo melhor meu gasto de energia, sou menos afobado e me posiciono mais corretamente. A adaptação a tudo isso é um processo natural.
Você teve outras ofertas além da do Bahia. Por que escolheu o tricolor e não outro clube?
Porque já era para eu ter vindo no ano passado, quando o presidente Marcelo Guimarães e o Vadão tentaram me trazer do Guarani, mas eu sou um homem de palavra e tinha acordado com os dirigentes que ficaria no clube campineiro até o final do ano. Quando recebi o novo convite para jogar aqui, não titubeei. Poderia estar em um clube da primeira divisão ou num da terceira, mas escolhi o Bahia por causa do interesse do passado e porque é um clube grande, de massa, do jeito que gosto de defender.
Qual a expectativa para o primeiro clássico?
A expectativa é a melhor possível. A gente, que é jogador de futebol, se dedica ao máximo em qualquer partida, mas num clássico, como nas finais, há um ingrediente a mais, às vezes um frio na barriga, uma pressão maior. Certamente também há mais atenção por parte do público, o que deixa as emoções mais acirradas. Acho o Vitória uma grande equipe, que está se preparando para o Ba-Vi tanto quanto a gente. Então espero que tudo se resolva em campo. E como cada jogo é um jogo diferente, que vença o melhor naquele dia.
É verdade que você tem o rubro-negro como um dos clubes que te dá mais sorte na hora de marcar contra?
Não é que eu tenha isso na mente, mas realmente, na minha carreira, aconteceu isso de eu marcar muitos gols contra o Vitória. Não credito isso a nada específico, uma coincidência boa certamente, mas não há nada em particular para que aconteça.
Será que a tradição vai se repetir?
Espero que se repita a tradição de vitórias. Mas sabemos que do outro lado há um time bem treinado e que está se esforçando tanto quanto a gente. Se eu marcar, ótimo, mas prefiro que o Bahia saia com o triunfo e eu passe o jogo em branco. Tivemos uma semana boa e a confiança no nosso potencial é maior, mas será preciso entrar em campo com humildade e atenção, além de toda vontade de vencer.
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