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MGF fala e diz que “tem que estar com quem manda”

Notícia
Historico
Publicada em 10 de abril de 2013 às 13:20 por Da Redação

Alvo da ira da torcida, sobretudo após o vexame do último domingo, o presidente Marcelo Guimarães Filho deu longa entrevista para a edição desta quarta-feira do jornal A Tarde. Entre outras coisas, disse que não pode se basear “em resultados de enquetes” e que “a gente tem que estar dentro dessa turma que está mandando”. Confira o ping-pong, na íntegra:

“Depois de um fracasso, é comum que até os mais autoconfiantes demonstrem algum tipo de abalo em suas convicções. Não foi o que aconteceu com o presidente do Bahia, Marcelo Guimarães Filho, que veio à redação do jornal para uma entrevista exclusiva.

Ele falou da humilhação do domingo, 7, quando o tricolor levou 5 a 1 do rival na inauguração da nova Fonte, e de temas polêmicos como a controversa contratação do técnico Joel Santana no dia seguinte. Afirmou que o time do Esquadrão é superior ao do Vitória, garantiu que o título estadual irá para o Fazendão e admitiu que a escolha de Joel se deu de forma emergencial. Além disso, falou sobre outros assuntos relevantes, como a relação do clube com a empresa Calcio e seu comportamento explosivo nas redes sociais.

Nos seus piores pesadelos, você chegou a imaginar uma derrota como a que aconteceu na estreia da Arena Fonte Nova?
Não. Nunca tive uma derrota tão doída. Isso vai acontecer de tempos em tempos. Imaginei que seria um jogo equilibrado, pois não acho que eles estejam melhores do que a gente. Foram as circustâncias do jogo que permitiram que eles ganhassem da forma que ganharam. Mas estão de parabéns, jogaram com inteligência. O que eu vi foi, até o pênalti, o Bahia pressionando. Depois, o jogo ficou diferente. Continuamos tentando fazer o gol de forma atabalhoada e o Vitória foi inteligente.

Fazendo uma análise geral, você não acha que o Vitória contratou melhor do que o Bahia para esta temporada?
Acho que Renato Cajá, Luís Alberto – que realmente se propôs a voltar ao Bahia, mas eu não sabia como ele estava e vem mostrando estar muito bem – jogariam em qualquer equipe do Brasil. Mas reafirmo o que já disse: nosso time tem ótimas opções, é melhor do que o Vitória e nós vamos vencer o campeonato. Esse time que está aí foi campeão baiano no ano passado, ainda com reforços. Claro que não vou, depois de tomar 5 a 1, chegar aqui e dizer que o time do Vitória é ruim. Por mais que eu ache isso, vou negar a informação.

Você acha que o fato de o time ter se desestabilizado durante a partida tem relação com toda a repercussão que teve o caso Souza, que, por problemas com o ex-técnico Jorginho, não foi relacionado para o Ba-Vi?
Qualquer situação extracampo que seja incomum, mesmo que as informações não expressem exatamente o que aconteceu, atrapalha. Cria uma ansiedade maior. Por exemplo, no sábado, assim que saiu a notícia de que Souza teria dito que não jogaria mais no Bahia com Jorginho, liguei pra Jayme (assessor de imprensa), pro próprio Souza e outros funcionários. Ninguém viu nada, não teve nada. Souza disse que treinou, tomou banho, suplementos, trocou de roupa e foi embora. E ainda disse: `Pensei em ir pro Rio, mas vou ficar pra ver o jogo´. Falou pra gente desmentir tudo. Óbvio que, no fim, desviamos o foco um pouco para isso, e os jogadores fizeram o mesmo.

Você acha que eles tomaram partido de Souza?
Sinceramente, não. Jogaram pra ganhar, mas as circunstâncias da partida fizeram a goleada acontecer. Não acho que houve má vontade.

Nem uma comoção por conta da exclusão de Souza?
Não. É óbvio que cada jogador tem sua preferência entre jogar com Obina, Souza ou com os dois, mas não creio que isso tenha refletido a ponto de eles questionarem a liderança de Jorginho.

Caso fosse o treinador, você teria levado Souza?
Teria. Mas não sou eu que escalo. Nunca fiz isso, embora dê opiniões. A responsabilidade é de quem está no cargo de treinador. Ele que tem que sabe gerir o grupo de jogadores. Aqueles que vão a campo, os sete do banco e os que ficam de fora.

Faltou tarimba a Jorginho?
Não quis dizer isso. Acho que os melhores técnicos, como Mourinho, são os que têm essa capacidade. A de, além de comandar dentro de campo, gerir as relações com os atletas fora dele. Mas não acho que Jorginho tenha perdido a mão do time.

O que definiu a demissão de Jorginho foi apenas o resultado do clássico?
Pura e simplesmente isso. Até porque, se formos analisar do ponto de vista dos objetivos, a eliminação na primeira fase da Copa do Nordeste foi muito pior, pois tínhamos a obrigação de chegar no mínimo à final. Mas, com o peso que tem o clássico, ele mesmo admitiu que não havia clima, e eu compartilho da mesma opinião. Não é todo dia que se toma uma goleada de cinco do maior rival.

Definida a saída de Jorginho, você pensou logo de cara em Joel Santana?
A decisão por Joel tem um motivo claro. Eu acho ele um dos melhores treinadores do futebol brasileiro, mas eu ouço as pessoas e a imprensa. Sei o que está acontecendo. Há essa resistência do torcedor, que é muito sentimental, mas não adianta criticar Joel e pedir Mourinho. Também queria contratar Mourinho, mas não temos essa condição. Dentre as opções que tínhamos no mercado, e dentro das nossas possibilidades, escolhemos Joel. Por que? Ele tem a aceitação do grupo… e contratar um treinador agora não é a mesma coisa de trazer um pro Brasileiro. O Estadual termina daqui a um mês e Joel não vai precisar de tempo pra se entrosar com jogadores, diretoria e funcionários. Ele vai chegar, empurrar porta e sentar na cadeira. Conhece todos os funcionários e 18 jogadores do atual elenco.

Parece, então, que contratar Joel sempre é uma medida emergencial.
O momento exigia uma decisão emergencial. Não dava pra planejar. Não estamos em dezembro. Outra coisa: com Joel, não estamos tendo nenhum acréscimo na folha. Ele vai ganhar exatamente o que Jorginho ganhava.

As escolhas de treinadores no Bahia não têm uma coerência. São sempre estilos e personalidades diferentes. Essa é uma falha da diretoria?
Eu entendo a avaliação, mas discordo em parte. É preciso levar outros fatores em consideração, como a cultura do futebol brasileiro. Não temos, salvo exceções, a tradição de manter o treinador no cargo por muito tempo. Há também as circunstâncias da contratação. Não tínhamos um leque grande de opções e precisamos ganhar um campeonato que termina daqui a um mês. Tudo isso levou à escolha de Joel. Mas eu concordo que a gente tem que encontrar o treinador com o perfil ideal para ficar no Bahia por um, dois anos.

Mas você não parece ter essa ideia com Joel.
Bom. Os resultados é que vão dizer isso. Mas já falei com ele que não haverá possibilidade de ele sair antes do final do ano, que é o quando acaba o contrato que fizemos.

Em 2012, o Bahia não se resguardou com a cláusula da multa rescisória e Joel acabou indo para o Flamengo. O clube corrigiu isso desta vez?
Foi uma falha lá atrás, mas fizemos isso agora com Joel. Está bem claro, a não ser que haja uma tragédia.

O que mais a torcida fala é: “Joel não respeitou o Bahia”. A rejeição foi realmente levada em consideração pela diretoria?
Eu compreendo o sentimento do torcedor, é natural. Mas eu já vi vários jogadores saírem do Bahia e beijarem o escudo do Vitória. Neste caso, a torcida perdoa. Vários jogadores são ídolos dos dois. Com o treinador, é diferente. Mas eu tomei essa decisão levando em conta uma série de outros fatores. O gestor tem que ter coragem, isso nunca faltou à minha administração. Eu tinha que decidir, e fiz isso. O que eu não podia era tomar uma atitude por conta de resultados de enquetes.

Você tem pesadelos com a possibilidade de rebaixamento?
Não. Tenho total confiança de que não vamos cair.

Na Era dos pontos corridos, nenhum time do Nordeste aguentou o terceiro ano seguido na Série A. Sabe disso?
Claro. Nenhum dos clubes de fora dos dois grupos que ganham mais em cotas de TV conseguiu resultado expressivo no Brasileiro de pontos corridos, à exceção Goiás, que chegou uma vez à Libertadores. Há uma clara ligação da divisão da receita com os resultados do campeonato.

E não pode haver uma revolução quanto a isso?
Teria de haver uma união maior dos clubes. Agora, nós não temos mais o Clube dos 13, que era onde a gente tinha a oportunidade de discutir assuntos como esse. Tínhamos de ter uma mesa, um fórum, para tratar dessas coisas com os clubes, não apenas com a imprensa, como estamos fazendo agora.

Nos últimos tempos, você acabou ficando conhecido pelos palavrões usados nas redes sociais, principalmente em discussões com torcedores. A Revista Placar chegou a te chamar de `Rei da Baixaria´. Deveria agir de forma mais moderada?
Pelos cargos que ocupo, admito que errei [ele também é deputado federal]. Por mais motivo que eu achasse que tivesse para reagir daquela forma, foi uma atitude que não condiz com as minhas funções. Gosto muito do Twitter, mas agora estou falando menos (risos). Estou usando mais para ver notícias.

Falando em contratações, esse é o Bahia que vai para o Campeonato Brasileiro?
Não. Virão reforços. Não tem como a gente disputar o Brasileiro sem fazer contratações. Agora, só virão para o Brasileiro. A não ser que alguém me ligue hoje ou amanhã e traga um grande negócio. Mas não estamos procurando jogadores. E vamos começar a avaliar as renovações de contrato de jogadores que têm vínculo até o final do primeiro semestre.

Como está a questão do contrato com a Arena Fonte Nova? Houve adiantamento de cota?
Não. Não tivemos adiantamento nem do estádio nem de cotas de TV. Com relação à Arena, não podemos divulgar valores, pois há cláusula de confidencialidade no contrato. Posso dizer que temos um fluxo de renda fixo durante o ano, mais um percentual de recebimento extra. Outra: não recebemos nada ainda da Arena, mas não há estresse por conta disso, embora estejamos cumprindo com nossas obrigações sem receber o referente aos meses de janeiro, fevereiro e março.

Contesta-se muito o fato de o Bahia ter muitos jogadores do mesmo empresário, Carlos Leite. Por que esse privilégio?
Não são tantos assim. Tem Souza, Titi, Magno, Brinner… Mas não teria nenhum problema se tivesse mais. Estamos nos relacionando com quem é importante no futebol. E Carlos Leite agencia o ex-treinador da Seleção [Mano Menezes]. A gente tem que estar dentro dessa turma que está mandando.

Como ele passou a agenciar Gabriel, hoje no Flamengo?
Mudanças de empresário acontecem todos os dias. Carlos Leite não pegou o telefone pra oferecer o trabalho dele, mas o próprio Gabriel devia ouvir de Titi, Souza… `Pô! Meu agente só tem jogador de primeira, botou um técnico na Seleção´. E essa coisa da procuração diz respeito só ao jogador e ao empresário. O clube não influencia.

Paulo Angioni está em seu quarto ano como gestor de futebol do Bahia. Há um prazo para que se tenha uma conclusão do trabalho dele no clube?
Nunca conversamos sobre isso, mas tudo tem um ciclo. O meu vai chegar e o dele também. Ou porque vou achar que já ou porque ele mesmo vai querer seguir a vida.

Os resultados com ele são expressivos a ponto de ele ter essa segurança no cargo?
A gente quer mais, mas, para a forma que encontramos o clube, está dentro do esperado. Minhas únicas grandes decepções foram a perda do Baiano de 2011 e a eliminação na Copa do Nordeste.

E sobre a ligação do Bahia com a empresa Calcio? Como uma empresa que surgiu só em 2011 consegue ter direitos sobre tantos jogadores da base do clube? Filipe e Maranhão, vendidos no ano passado, renderam a ela cerca de R$ 1,5 milhão.
Os direitos ela conquistou ou trazendo os jogadores ou injetando recursos no clube. E a Calcio não tem tantos jogadores assim no Bahia. Não tem nem 15. Sobre Filipe e Maranhão, ela fez investimentos na base do clube.

Mas a Calcio lucrou muito com essas vendas. Qual contrapartida compatível ao ganho ela deu ao clube?
É porque você está se atendo a esses dois atletas. Mas certamente eles investiram em outros que não lhes renderam ganho nenhum. Eu quero que a Calcio e outras empresas continuem no Bahia, desde que não prejudiquem o clube. Este é o mercado.

Recebemos denúncias de pessoas ligadas a jogadores que trocaram o Bahia pelo Vitória. Estas dizem que atletas saíram porque não quiseram assinar com a Calcio. Você confirma?
Não. Desminto e desafio qualquer jogador ou empresário a fazer essa denúncia nominalmente. Se houver um caso concreto, vamos apurar e tomar providências, mas tenho convicção de que isso não aconteceu.

Vander foi um dos que trocaram o Bahia pelo Vitória e fez um gol no clássico…
Conversamos com seus empresários (Gessé e Sandro), mas não chegamos a um acordo. Eles pediam mais do que poderíamos dar.

E por que vocês divulgaram que ele foi dispensado por deficiência técnica?
Porque, depois desse litígio, até por ter ficado desmotivado, ele teve realmente uma queda técnica.

E o novo CT?
Está indo bem, mas não vou dar mais prazo para a conclusão. Existe até a possibilidade de a gente ir se mudando gradativamente e só passar em definitivo para lá no ano que vem”.

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