Até quando MGF resistirá? A edição desta quarta-feira do jornal A Tarde traz um artigo na seção “Opinião” de João Carlos Teixeira Gomes, jornalista, escritor e membro da Academia de Letras da Bahia. Filho do primeiro goleiro da história tricolor, ele é o autor do famoso livro “Memória das Trevas”, sobre o ex-senador Antonio Carlos Magalhães, morto em 2007. Em 2009, Joca –como é conhecido– chegou a ser processado por Marcelo Guimarães Filho.
Confira abaixo o artigo, intitulado “Respeitem o E.C. Bahia”:
“Voltei de prolongadas viagens e tencionava escrever sobre elas, mas a situação catastrófica que o Esporte Clube Bahia está vivendo me obriga a dar prioridade ao assunto: não o considero apenas um clube de futebol, mas sim uma força social do nosso Estado, tal a relevância da sua imensa torcida na vida baiana em variados aspectos, incluindo a economia.
Em sua trajetória, jamais o Bahia atravessou fase tão degradante, cobrindo de tristeza a sua ruidosa torcida, hoje silenciada. Grandes equipes podem sofrer declínios episódicos. O problema é quando essas fases traduzem não uma crise passageira, mas uma decadência crônica, nascida da falta de comando, da incompetência e do oportunismo dos seus dirigentes. E a grande verdade é que o Bahia vem sendo vítima há mais de 12 anos de administrações desastrosas, culminando com a presença de Marcelo Guimarães Filho na presidência do clube.
Não é preciso sequer evocar os desastres recentes. A questão não é perder de goleada para o Vitória, pois isto fez aflorar apenas o descalabro reinante de longa data. Em 2012, quase o Bahia volta à Segunda Divisão. A Copa do Nordeste foi outro constrangimento. O último campeonato ganho, após inacreditável jejum, só foi conseguido com um empate heroico na final.
Os humilhantes vexames resultam do comportamento antidemocrático do presidente Marcelo, que, agindo como ditador, se arvorou a dono do Bahia, tentando transformar um clube que é uma potência nas arquibancadas em timezinho de várzea, sujeito à sua exclusiva vontade pessoal. Faz o que quer lá dentro. É o dono da bola, mas de bola murcha.
Agindo como tirano, o cartola, em primeiro lugar, montou um esquema de mando que desconhece oposição, calando a voz dos dissidentes. No Bahia, o público em geral não conhece outro dirigente que não seja Marcelo Guimarães Filho, pois os demais são coadjuvantes subalternos, para fazer coro às suas ambições políticas. Sim, porque está mais do que claro que um dirigente que leva o Bahia à desmoralização atual não pode amar verdadeiramente o clube, mas apenas tentar fazê-lo de trampolim. O tiro agora está lhe saindo pela culatra.
Justamente por causa da conduta arbitrária, sem ouvir ninguém e sem respeito à torcida, Marcelo e seu amigo Angioni desenvolveram uma política absurda de contratações: a imprensa noticiou que foram 103 jogadores em cerca de três anos, o que dava para armar quase dez times de futebol! Em sua maioria, jogadores que nem mereciam vestir a camisa do Bahia, alguns já no ocaso ou ultrapassados, pagos todavia a peso de ouro.
O que jorrou de dinheiro nessas contratações está sendo alvo de graves denúncias recentes. A TARDE, em sua edição do último dia 14, confirmou que “Marcelo Guimarães foi alvo de uma notícia crime protocolada pelos advogados Antônio Rodrigo Machado e Marcus Tonnae Silva em Brasília. Eles apontam possíveis crimes de lavagem de dinheiro, estelionato e formação de quadrilha na qual o mandatário tricolor estaria envolvido, juntamente com o ex-gestor Paulo Angioni, o diretor de base Newton Mota e o dono da empresa Cálcio Investimentos, André Garcia”.
O jornal informa que a denúncia se baseou em reportagem de sua autoria. Assim, embora antiga, até hoje não foi sequer contestada, pelo menos publicamente, pelo presidente do clube. Os denunciados se envolveram inclusive na transação do meia Gabriel. Ao vendê-lo ao Flamengo, Marcelo Filho desestabilizou o meio de campo do Bahia, tornando a equipe vulnerável e levando-a à desmoralização em todo o fraco campeonato baiano.
Para abafar a indignação da torcida, o cartola anunciou várias demissões, inclusive as de Joel Santana e de Angioni. É a encenação costumeira dos derrotados, buscando transferir culpas. Para ser coerente e revelar um mínimo de respeito às tradições do Bahia, deveria ser ele próprio o primeiro a demitir-se, fato, aliás, que já foi aconselhado por Fernando Schmidt, ex-presidente do Bahia e secretário do governo estadual. E é o que toda a torcida exige, abrindo caminho para a recuperação moral e esportiva do Bahia, que, grande demais, tem que ser respeitado.”
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