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Italianos desmentem versão da Calcio

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Historico
Publicada em 27 de junho de 2012 às 15:57 por Da Redação

Doze dias depois, os repórteres André Uzêda e Daniel Dórea trouxeram no jornal A Tarde desta quarta-feira mais novidades sobre o chamado “caso Calcio”, a empresa criada no ano passado que tem fatia de grande parte da divisão de base do Esquadrão de Aço e que lucrou com as transferências de Maranhão e Filipe, por exemplo, apenas nos últimos meses. Confira os textos:

Foto: Evandro Veiga/Correio*“ width=

`A justificativa dada, no último dia 15, pelo presidente do Esporte Clube Bahia, Marcelo Guimarães Filho, para ter repassado 20% dos direitos econômicos do volante Filipe à empresa baiana de agenciamento de atletas Calcio Esportes, não corresponde aos dados apurados junto aos organizadores da competição, disputada em Crema, na Itália, da qual a equipe sub-21 do Tricolor participou.

Em consulta à organização do troféu Angelo Dossena, do qual o Bahia foi vencedor em 2011, esta revelou que se encarregou dos gastos da estada tricolor.

Segundo o italiano Alvaro Stella, responsável pela organização do torneio, os gastos de hospedagem de delegações estrangeiras em Crema ou proximidades, foram – e sempre são – bancados pelo próprio evento. Apenas as despesas com passagens aéreas teriam ficado a cargo dos clubes, valor muito abaixo do recebido pela Calcio na negociação de Filipe.

Em cálculo feito pela reportagem, baseado em preços atuais de passagens aéreas, chegou-se ao valor aproximado de R$ 125 mil, referente a gastos de ida e volta para 31 pessoas (25 jogadores, mais comissão técnica). A Calcio recebeu R$ 1,1 milhão pela venda de Filipe. Via assessoria de imprensa, o vice-presidente financeiro do Bahia, Tiago Cintra, disse que não poderia divulgar o valor real gasto, por se tratar informação confidencial do clube.

Tanto o presidente Marcelo Filho como a Calcio, empresa que tem como sócio majoritário o delegado de tóxicos e entorpecentes André Silva Garcia, também conselheiro do Bahia, afirmaram que o repasse dos 20% era para compensar investimento feito no clube. As declarações foram publicadas por A TARDE no último dia 16.

“Ficamos com 20% de Filipe por meio de uma permuta (com o Bahia). Financiamos a viagem – pagamos passagens e hospedagem – e recebemos a contrapartida”, explicou André Garcia naquela ocasião. O empresário voltou a ser procurado, mas não quis mais falar com a reportagem.

André Garcia tinha a prática de viajar juntamente com a base do Bahia para a disputa de competições internacionais. Aparece em fotos e vídeos da comemoração do título na Itália, em meio à festa dos jogadores. O empresário também viajou com a delegação tricolor para a Copa Manchester United Premier sub-15 (antiga Copa Nike), na Inglaterra. Neste torneio, todas as despesas operacionais foram bancadas pela organização.

Presidente se cala – Documento oficial do Bahia comprova que o clube tinha 70% dos direitos econômicos de Filipe antes do surgimento da Calcio, em abril de 2011. Depois, passou a ter 50%. Os outros 30% são a parte devida ao empresário Marcus Vinicius, que trouxe o atleta do Cruzeiro para a divisão de base do Bahia.

Procurado pela reportagem durante dois dias para comentar o assunto, Marcelo Guimarães Filho afirmou, via assessoria de imprensa, que não tem mais interesse em falar sobre o caso Calcio. No dia 15, antes de A TARDE ter a informação repassada pela organização do torneio italiano, ele havia declarado: “Não lembro de cabeça, mas com certeza a Calcio não ajudou só com essa viagem”.

OUTROS TIMES NÃO FAZEM ESCAMBO

No site da Calcio, retirado do ar na mesma semana em que A TARDE publicou a matéria revelando a participação da empresa na venda do jogador Filipe, havia a informação que a Calcio teria jogadores na Bahia e em Minas Gerais, o que também foi confirmado pelo próprio André Garcia quando indagado sobre o assunto.

A reportagem de A TARDE entrou em contato com os diretores das divisões de base do Vitória, Atlético-MG e Cruzeiro, grandes clubes dos dois estados. Em todos eles, não existem permutas envolvendo porcentagem de jogadores, conforme informaram os clubes.

No Vitória, a Calcio tem três atletas, segundo informações de João Paulo, coordenador da base rubro-negra – um jogador do júnior (até 20 anos) e dois no juvenil (até 17). “Esses jogadores foram trazidos pela Calcio para o Vitória, e por isso os representantes recebem uma porcentagem dos direitos econômicos. Aqui no Vitória isso acontece dependendo da idade deles (10% se for infantil; 20% se for juvenil e 30% sendo júnior). Não fazemos permutas por viagens. É uma política do nosso clube”, diz João Paulo.

No Atlético, segundo o diretor da base André Figueredo, a Calcio não possui nenhum jogador. Porém, Figueiredo afirmou que na base do Galo há dois jogadores – um do juvenil e outro do infantil – vindos do Real Minas Futebol Clube, que tem parceria com a Calcio.

No Cruzeiro, segundo o diretor de comunicação Guilherme Mendes, não há atletas ligados à Calcio, mas já houve jogadores do Real Minas. “Aqui, o empresário só tem porcentagem do jogador se o trouxer”, garantiu Mendes.

Parceria – A Calcio explicitava em seu site que mantinha parceria com o Real Minas, que pertence ao ex-jogador do Atlético-MG Kal Baiano e tem como sócio o empresário Lacir Santos. Segundo a descrição no site, trataria-se de um “clube tradicional de Minas Gerais, que tem como objetivo revelar grandes craques”.

Empresários que têm atletas no Bahia trabalham com garimpagem

Na entrevista do dia 15, ao comentar a ligação da Calcio com o Bahia, o presidente Marcelo Guimarães Filho explicou: “Há duas formas de uma empresa ter porcentagem de um jogador da base do Bahia. Ou trazendo o atleta, ou fazendo um investimento no clube“. Depois, em entrevista à rádio Itapoan FM, anunciou que, no Bahia, 28 empresas têm parceria com atletas das categorias inferiores.

Baseada em lista divulgada em 2010 (o clube negou-se a apresentar a atualização), a reportagem de A TARDE falou com representantes das quatro empresas que possuem mais atletas no clube. Nenhum deles diz ter conseguido porcentagens por meio de permuta.

“Trabalho com garimpagem de jogadores e os levo para os clubes”, resume Marcus Vinicius, da ADM Esportes, ex-empresário do volante Filipe. Antônio Garrido, sócio da Antoniu’s, disse que não conhece no Estado outras empresas que trabalham com permutas.

“Tenho observadores que giram o Brasil atrás de jogadores. Assumo os gastos de meus atletas, o clube não gasta nada”, diz Nadson José, da Top Foot.

Sócio da Bahia Soccer, Reginaldo Santos afirma que apenas empresas grandes fazem investimentos em clubes em troca de porcentagens. “Quem vejo fazer isso é a Traffic, Sondas, Ability, Rogon… só as poderosas”, enfatiza. Procurado para comentar o assunto, o coordenador da base do Bahia, Newton Mota, não foi encontrado.`

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