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Entrevista: PM não descarta voltar à presidência

Notícia
Historico
Publicada em 4 de junho de 2007 às 12:45 por Da Redação

Um nome na história do clube, Paulo Maracajá aceitou tirar as dúvidas da torcida. Embora não convença grande parte dos tricolores, nega ser o cartola-mor do Bahia, como dizem os opositores ávidos por sua caveira. Seus bajuladores o consideram “eterno” presidente, mas a função seria incompatível com o cargo de conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios, onde recebeu o repórter Nelson Barros Neto. O maior vencedor da história do Bahia se defende de várias acusações e ainda dá pitaco sobre reforços.

foto: Eduardo Martins/Ag. A TardeO senhor é o presidente de fato do Bahia?
Em junho de 1994, assumi o Tribunal de Contas e renunciei à presidencia do Bahia, então eu vou fazer agora 13 anos no TCM. Todo ex-presidente é membro nato do Conselho Deliberativo, por isso sou grande benemérito do clube e não preciso ser eleito. Então eu tenho minha vida, desde pequeno, sempre ligada ao Bahia. Se eu fui vereador e deputado estadual e estou no Tribunal de Contas, eu devo em parte ao Bahia. Se eu não tivesse a projeção que eu tive no Bahia, não estaria nesses cargos, tenho consciência. Então até quando tiver saúde, ajudarei naquilo que puder. Agora, não sou presidente de fato do Bahia, de jeito nenhum. Gosto do meu clube, não recebo remuneração, não tenho cargo, mas naquilo que eu puder, eu ajudo, não tenha nem dúvida.

Nas suas campanhas políticas, o senhor usava o slogan `Vote no Bahia, vote em Maracajá´. Alegava sempre ser o deputado do Bahia. Em que consistiu essa ajuda?
Eu não nego a ninguém que eu me elegi, sempre, baseado na torcida do Bahia. Fui vereador em 76, eleito exclusivamente pela torcida do Bahia e por amigos. Já nas eleições de deputado, em 82, 86 e 90, contei com a ajuda do senador Antonio Carlos Magalhães e do deputado federal Luiz Eduardo Magalhães, que me ajudaram em bases no interior do Estado. Todo deputado tinha uma verba, essa verba eu destinava ao Bahia. O que eu consegui? Por exemplo, aquele campo do Fazendão, que até foi dado o meu nome. Na sede de praia, toda aquela encosta pro mar, para as ondas não invadirem, com o prefeito Mário Kertsz. O ginásio de esportes também, com o governador João Durval.

O senhor tem receio de ser investigado pelo Ministério Público sobre sua suposta incompatibilidade no TCM?
Em primeiro lugar, eu respeito muito o MP, mas eu não fiz nada de errado. Estou só tentando ajudar meu clube. Vou citar para você um fato. Antonio Roque Citadini é do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo. Ele lá ajuda o Corinthians, dá entrevista… E ele faz até mais do que eu. Ele chegou a ser vice-presidente de futebol do Corintians, você sabe. Uma pessoa que foi presidente do Sport, Severino (Otávio), era do TCE de Pernambuco. Eu não, eu prefiro ficar como conselheiro e ajudar. Tanto que doutora Rita Tourinho perguntou e eu disse que participo de reuniões do Conselho, eu participo da vida do clube naquilo que eu posso. Agora, eu não assino cheque, não tenho função, não tenho remuneração nenhuma do Bahia. Nunca tive. Gastei com o Bahia.

Enquanto membro do conselho, o senhor participou da aprovação das contas do exercício de 2006? Elas foram efetivamente prestadas, no prazo determinado?
Todo ano tem reunião e é aprovada pelo Conselho (pausa). Agora, a de 2006 eu não tô com cabeça… Eu não posso lhe assegurar. Eu sei que todo ano é aprovada pelo Conselho Fiscal, mas a de 2006 não tô me lembrando e não gosto de dar informação que seja imprecisa ou inverídica. Eu tenho que conversar isso com Ruy (Accioly), Petrônio (Barradas) e o financeiro do Bahia…

Antonio Garrido, que é vice-presidente do Conselho do Bahia, diz que seu nome apareceu na assinatura do distrato com o Banco Opportunity sem ele concordar e, subitamente, em seguida, desapareceu. O senhor sabe por quê?
É, ele teve opinião contrária… Não estou informado sobre isso, agora, naturalmente, eu vou fazer por dedução. O nome dele foi retirado do contrato porque ele estava contra o contrato. Foi colocado o nome de Marco Costa.

Em entrevista no final do ano passado, no auge da pressão da torcida, o senhor disse que era a favor de uma reforma urgente e imediata no estatuto do Bahia. Por que até hoje ela não aconteceu, se até a minuta do novo documento já está pronta?
Sou a favor, sou a favor de eleição direta, agora somente alertando a vocês… ficam dizendo coisas aqui na Bahia que não são verdadeiras. Só quem tem eleição direta em Rio e São Paulo é o Flamengo. Agora, o que eu acho, é natural, o Bahia tá na Série C, o Vitória na Série B. O Vitória é atual campeão, o Bahia é vice-campeão estadual. A cobrança em torno do Bahia é maior. No Vitória, nem se fala em eleição direta. Nem se fala em reforma do estatuto. Agora, eu continuo dizendo – e você vai estar aqui para ver – que no dia que tiver, eu vou votar por eleição direta. E talvez seja candidato…

Já vai ter se desligado do Tribunal de Contas?
Eu não ficarei aqui eternamente. Eu me aposentando no Tribunal, eu posso tranqüilamente concorrer. Eu já posso me aposentar, se eu quiser. Eleição direta é bom, inclusive, para mim, é mais fácil eu me eleger no Bahia com eleição direta do que com eleição de Conselho. Não tenho medo nenhum de eleição direta.

O senhor já disse algumas vezes que enxergava Osório (VillasBôas) como seu ídolo, mas gente ligada ao Bahia acusa o senhor de ter grande inveja dele. Quando o Bahia ganhou o Brasileiro em 88, teria dito que era apenas campeão, tentando minimizar a conquista de 59…
Não é verdade. É mentira, é mentira. Eu tenho admiração por Osório, mesmo ele falecido. Eu considero que Osório foi o maior presidente da história do Bahia. Osório ganhou a Taça Brasil que, pra mim, é tão importante quanto o Campeonato Brasileiro. Osório popularizou o Bahia, e ganhar do Santos de Pelé não é para qualquer um. Então, pra mim, o Bahia é um legítimo bicampeão brasileiro. O Campeonato Brasileiro que o Bahia ganhou é tão bom quanto aquele que Osório ganhou.

E a história do cinzeiro?
É verdade, é verdade. Nós tivemos uma discussão, no antigo Ed. Saga… Aí, Osório (risos) arrumou o cinzeiro, eu tirei o rosto da frente, e o cinzeiro não pegou. Nós discutimos. O fato é verídico.

É verdade que o senhor já pediu diversos favores a jornais?
Por exemplo, você veja que A TARDE de um tempo para cá tem criticado muito o Bahia. Em dia nenhum procurei, até quando fui criticado, você ou outros companheiros seus para fazer queixa de ninguém. Não fiz e não tenho me envolvido nisso. Agora, eu tenho 40 anos de vida no futebol e na política, e quando sou criticado, eu quero responder. Eu acho profundamente democrático o que A TARDE está fazendo, você estar me ouvindo. Quero ter chance de defesa, principalmente quando acho de forma injusta. Mas de estar mudando nota, não existe isso.

Matéria da revista Placar, de 85, diz que o senhor era capaz de espancar inimigos pelo Bahia…
Você tem brigas com as pessoas… Realmente houve essas brigas. Aqui, com Joca, Carlos Tertuliano de Goes (conselheiro do Vitória), tivemos uma discussão em 76, é verdade. Brigamos realmente. Com Edmundo Portugal (diretor do Leônico)? É verdade. Brigamos. Esses dois casos são verdadeiros, eu não nego, não. Mas perfeitamente superados. Hoje me dou com Joca e com Portugal. Mas isso tem 30 anos…

Na mesma reportagem, é dito que a frota de táxi do senhor era envolvida em constantes casos de seguros – 56 dos seus 60 carros teriam sido sinistrados. O senhor é chamado de incendiário.
Você quando chega a uma certa posição na vida é complicado… Criaram esse fato, que é mentira. Eu tinha na realidade 40 carros e nunca tive nenhum incendiado. Aí gente inimiga minha faz um negócio desse e coloca aí. Já se vão quase 40 anos e nunca aconteceu incêndio de carro (em entrevista ao jornalista Bob Fernandes, em 2003, Maracajá afirmou que um dos 41 carros que tinha pegou fogo)

Além do episódio do consórcio Ba-Vi, envolvendo Newton Mota, que o senhor já admitiu ter errado, houve alguma outra coisa que se arrependeu?
Foi um erro, por exemplo, brigar fisicamente com Carlos Tertuliano de Goes e Edmundo Portugal. Se eu pudesse voltar atrás, não tinha brigado. Mas às vezes com sangue quente e com a mocidade, a pessoa briga. Eu sou acostumado a trabalhar desde os 18 anos de idade, de manhã e de tarde. Chegava de noite, tinha faculdade. Me formei com 22 anos advogado, quando já tinha quatro filhos. Então sempre fui uma pessoa que labutou, batalhou, agora você nesse período de tempo adquire amigos e inimigos. Mas eu tenho 1% de inimigos e 99% de amigos.

O senhor disse, em entrevista a Bob Fernandes, que dirigentes são homens públicos e que, por isso, têm que ter o sigilo bancário quebrado, ser investigados, informar o patrimônio etc. O senhor faria isso? Se colocaria à disposição dos órgãos competentes do Poder Judiciário?
Mantenho tudo que disse.

Qual a sua atual relação com o ex-presidente Marcelo Guimarães?
Nós nos dávamos muito bem até 27 de março de 2003. Até esse dia, pessoas que cercavam Marcelo começaram a fazer xaveco no ouvido de Marcelo. ´É Maracajá que manda! Maracajá quer mandar em você, não sei quê`. Resultado, tivemos um rompimento e ficamos sem nos falar quase dois anos, mas depois reatamos e voltamos a ter amizade e somos amigos até hoje. Agora, realmente fiquei dois anos sem ir ao Fazendão. De 2003 a 2005.

Está correndo uma investigação na Polícia Federal sobre supostas operações fraudulentas do Bahia, como a venda de Daniel Alves. O senhor está sabendo de algo? Chegou a ser ouvido?
Não existe isso. Quando soube, eu estive no Bahia, conversei, e foi tudo feito por dentro, tudo feito pelo Banco Itaú.

É óbvio que o senhor ama o Bahia, mas há quem diga ser um amor patológico, doentio, que faz mal ao clube. O que o senhor diria a essas pessoas?
Eu acho que a gente tem que viver na vida com divergências e convergências. Eu disse que tenho 99% de amigos e 1% de inimigos, e se eu puder não ter nenhum, eu não tenho, porque eu acho que inimigo não leva a nada. Eu não fico guardando rancor. Agora, essas pessoas que ficam me criticando, me agredindo, eu procuro só responder quando alguma pessoa de imprensa me pergunta, porque eu procuro me esquecer. O ódio faz mal a quem tem. Se você fica odiando uma porção de gente, você não vive. Mesmo os adversários que me criticam, eu não tenho ódio deles. Aqueles que me ofendem moralmente… Aí, por exemplo, você… Nunca me criticou moralmente, hora nenhuma. Então tenho que respeitar seu ponto de vista. Eu posso discordar de uma critica, se é severa, se é acida, mas não se pode também inventar coisa. Quando você me perguntou sobre Joca. É verdade? É. Eu me arrependo? Me arrependo, não devia ter brigado não. Ah, mas acontece que aquele calor do negócio… Depois o tempo vai passando, você vê que isso não constrói.

E o Bahia vai subir mesmo esse ano, finalmente?
Nós esperamos.Eu acho que Petrônio e Ruy Accioly estão tentando fazer um time competitivo. Agora, acho que ainda faltam três jogadores pro Bahia: um lateral-direito, um beque e um senhor meio de campo.

QUEM É | Paulo Virgílio Maracajá Pereira tem 63 anos, 22 deles como dirigente do Bahia. Formado em direito, recebe salário de conselheiro do TCM (estimado em R$ 17 mil) e de deputado estadual aposentado. Foi diretor de futebol por seis anos, a partir de 1973. De 79 a 94, esteve na presidência. Acumulou prestígio e títulos, como o Brasileiro de 88. Tem cinco filhos, incluindo uma neném do segundo casamento.

Entrevista publicada originalmente, por esse mesmo autor, na edição desta segunda-feira 04/06/2007 do suplemento A Tarde Esporte Clube

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