De Herbem Gramacho, sub-editor de Esportes do Correio, na edição desta segunda do jornal:
“Um a zero lá, dois a zero cá. Se existe alguma vantagem nas derrotas de Bahia e Vitória ocorridas ontem, no retorno do Brasileirão, é poder pensar em coisa mais séria do que a atuação de cada um no campeonato. Que o Goiás ganhou o jogo no detalhe, que o Corinthians é uma equipe muito qualificada e não à toa atual campeã do mundo, tudo isso é verdade inquestionável, mas é resenha sem graça.
Quero saber é quem vai devolver o sono do meu amigo Nelson: Ô vei, no final do jogo tinha torcedor do Bahia pedindo a camisa de Guerrero! Tô falando sério. Eu vi!, exclamou, incrédulo, ciente de que uma cena dessa é pior do qualquer derrota no campo. Afinal, perder do Corinthians é do jogo, pois Madson entregou os dois gols e, como disse Cristóvão, o adversário é muito qualificado, campeão do mundo (ele não disse que o Corinthians ganhou no detalhe) e blablablá… O que não é do jogo e, ressalte-se, não seria sequer aceitável mesmo que existisse um Manual do Torcedor de Arena, é ver um dito tricolor pedir a camisa do jogador corintiano no apito final, fosse qual fosse o placar.
Isso leva à seguinte pergunta, ainda sem resposta: onde foi parar o torcedor do Bahia? O torcedor de arquibancada, como se dizia nem tão antigamente assim. E ampliando: onde está o Bahia que era mandante na Fonte Nova? Não precisa ser aquele Bahia de 88, pois mesmo nos anos 2000, quase sempre com time fraco, o Bahia sabia se impor.
De uns meses pra cá, o torcedor de arquibancada deu lugar à nova modalidade do torcedor de arena, aquele que não está nem aí para nenhum dos dois times e vai ao jogo só pra conhecer a nova arena que será utilizada na Copa. Isso é natural e será compreensível até 2014. Afinal, foi tanto dinheiro gasto e tanto tempo em obras que os estádios acabaram virando atração turística. É uma mudança cultural muito grande, e sem a certeza de que está sendo conduzida da maneira certa. Além da elitização do futebol, pois alguém precisa pagar essa conta, vivemos um momento de espetacularização em torno dos estádios cinematográficos: são luzes de cinema, som de cinema, poltronas de cinema e, o problema, comportamento de cinema.
O torcedor que levanta na iminência de um gol é logo alertado pelos seus pares com senta, senta e o que xinga um jogador recebe olhares enviesados da plateia ao redor (plateia assiste, torcedor vibra), além de ser monitorado pelo steward, aquele segurança privado que usa colete florescente e fica em frente à escadinha para não deixar o ídolo ir comemorar o gol junto com os torcedores. Em tempo: é de se elogiar as luzes, o som e as poltronas de cinema, tudo realmente em prol do conforto e à altura do alto custo das arenas. Mas quem vai ao estádio, ou à arena, caso prefira, precisa saber que estádio não é cinema.
Por mais moderno e seja na Alemanha, na Inglaterra ou no Brasil, estádio é lugar de pressão, de intimidação ao adversário, de vaias, de xingar o juiz, o atacante, o treinador, o presidente, de reclamar até do tom do verde do gramado se for o caso. São coisas do jogo sim senhor, e quem vai ao estádio precisa saber disso. E o time mandante deveria dar o exemplo. Não fazer como o Bahia, que descaracterizou seu uniforme e jogou de branco e vermelho ontem para permitir que o adversário, alvinegro há mais de 100 anos, estreasse um uniforme azul por puro marketing. Quem escolhe a roupa é o time da casa. Se bem que talvez o Corinthians estivesse em casa mesmo. Substituição: sai nosso Romarinho, número 31, anunciou o locutor da Fonte Nova durante o segundo tempo. Com essa, melhor ir embora. O futebol acabou.”
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