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Confira uma longa entrevista com Anderson Talisca

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Historico
Publicada em 17 de maio de 2014 às 12:33 por Da Redação

Em longa entrevista ao jornalista Nelson Oliveira, para o portal Terra, Anderson Talisca falou sobre o atual momento na carreira, Seleção Brasileira, nova gestão do Bahia, entre outros assuntos. Confira na íntegra:

Você sempre assiste aos jogos que fez? Por quê?
Sim, sempre assisto. Eu gosto. É importante para saber o que a gente fez em campo. Sempre assisto aos jogos que faço, principalmente para saber o que errei e o que posso corrigir.

Já que você analisa bastante o seu trabalho, no que você acha que precisa evoluir no seu futebol?
Acho que preciso evoluir mais na marcação, que é um dos meus defeitos. Mas acho que com o tempo a gente vai adquirindo. Na base não me deram tanto a obrigação de marcar, exploraram pouco essa parte. No profissional é diferente e a gente sente um pouco. Mas tem um bom tempo que estou melhorando. Também acho que preciso melhorar a parte física e tenho feito um trabalho específico na academia. Até porque muitas vezes jogo de costas para o ataque, a marcação chega e tenho que segurar a bola para me posicionar. Estou trabalhando nisso.

Seus esforços parecem estar agradando ao técnico Marquinhos Santos. Hoje você é titular do time e ontem, contra o América-MG, teve de sair carregado do gramado ao fim do jogo.
Tenho feito uma sequência de jogos grande. Desde o Estadual, eu joguei todos os jogos, e a partir da metade eu atuei em todas as partidas, não fui substituído em nenhuma. Senti cãibras, mas precisávamos da vitória e o jogo estava no final. As pernas cansam, a mente fica sobrecarregada, mas o importante é que nos classificamos.

Essa mudança de relação com a torcida fez com que os tricolores começassem até a te chamar de “Yaya Talisca”, em referência ao Yaya Touré, meia do Manchester City e da Costa do Marfim. Você se espelha nele?
Eu jogo muito com ele no vídeogame, cara. Sempre escolho o Manchester City. Ele é um jogador de alto nível. É alto que nem eu, joga em uma posição parecida com a minha. Mas me espelhar, não. Gosto do futebol dele, mas não é o caso de me espelhar.

Tem algum jogador em que você se inspira?
Paulinho. O Paulinho é um jogador de alto nível. Na minha visão, ele é completo, marca e ataca, tem qualidade na saída de bola, faz gols. É um jogador que sigo muito.

Você tem jogado mais avançado hoje. No futuro, como você se espelha no Paulinho, você pensa em jogar mais atrás, mas com a mesma versatilidade que o jogador da Seleção?
Sim. Eu gosto da posição que estou jogando, estou feliz, fazendo gols. Mas pretendo jogar mais atrás, porque tenho estatura para jogar na Europa, e às vezes fico pensando que vou sentir dificuldades se for jogar lá como estou jogando aqui no Brasil. Lá é outro tipo de marcação, outro tipo de jogo. Acho que meu futebol, jogando mais de frente para o ataque, vai render mais. Vai me favorecer.

Quais seus planos? Ficar mais tempo no Bahia e se consolidar como um ídolo, se transferir para um outro time brasileiro ou europeu, ou está deixando tudo correr naturalmente?
Me sinto bem no Bahia. Por tudo o que passei e estou vivendo no clube. Estou tranquilo, acho que estou fazendo as coisas certas e é só dar continuidade. Penso em ficar no Bahia e se puder terminar o meu contrato, que vai até 2017, ótimo. Mas a vida de jogador é curta, várias coisas acontecem e só Deus que sabe. Todos os jogadores pensam em jogar fora do país um dia. Especialmente na minha vida, a gente trabalha para isso.

Antes de renovar o seu contrato até 2017, você teve problemas com a antiga gestão do clube, do ex-presidente Marcelo Guimarães Filho, e divergências sobre o salário. A divisão dos seus direitos econômicos também é um pouco confusa. Isso não te atrapalha?
Agora está tudo tranquilo com o meu contrato. Mas, sinceramente, não me interesso muito em saber quem são os donos dos meus direitos e quanto cada um tem. Me foco no campo.

Muitos jogadores do Bahia têm comentado sobre as diferenças entre a atual gestão do clube, comandada por Fernando Schmidt, e da anterior, de Guimarães Filho. Você também vê diferenças? Quais?
Sim, muita diferença. Os “caras” são bem organizados, fazem as coisas certas. Se preocupam em fazer tudo corretamente, brigam pelo Bahia e por nós jogadores. São muito decentes, também, respeitadores, falam com todo mundo. Os caras cumprem o que prometem. Acho que uma coisa importante é essa. O que você fala, você tem de cumprir. O ambiente está mais tranquilo do que antes. O clube está se ajeitando, está mais arrumado. Acho que a diretoria está fazendo o papel dela bem feito.

E como você vê a sua nova relação com a torcida do Bahia, que antes pegava muito no seu pé, talvez até de forma exagerada, e hoje te considera um dos destaques do time?
Isso acontece na vida de todos os jogadores e temos de estar preparados não só para as glórias. É normal. Os torcedores às vezes criticam e depois aplaudem, a gente tem de entender isso. No meu caso, que sou um jogador jovem, tenho de acreditar que as coisas vão melhorar na frente, por isso procuro ficar tranquilo.

Acha que faltou paciência da torcida não só com você, mas com outros jogadores da base, como o Madson, que acabou sendo emprestado ao ABC-RN? Os resultados ruins do time nos anos anteriores influenciaram nisso?
No meu modo de ver, sim. O jogador que vem da base não pode ser tão cobrado como acontece aqui. Quando um atleta vem da base, ele tem que se sentir à vontade para demonstrar o seu futebol. Porque, senão, como não tem experiência, vai se sentir preso para fazer as coisas. No meu ponto de vista, Madson vai ser um grande jogador. Ele tem velocidade, marca, chega bem na frente. Acho que precisava sair daqui, respirar novos ares. Às vezes o jogador necessita disso para evoluir. Acho importante.

E a boa fase atual tem ajudado Pará, revelação da lateral esquerda?
Fico feliz pelo Pará, mas ele está no começo, não tem nem 15 jogos como profissional. Está entrando num momento bom, isso ajuda bastante. Eu não entrei em um momento bom. Entrei em uma fase conturbada no Campeonato Baiano, com o Bahia levando goleada do Vitória na final. Joel Santana me colocou como titular em um Bahia desacreditado e aí muita gente achou que eu entrei para resolver, entendeu? Muita gente não vê isso. Ali ainda era o começo da minha carreira e ainda estava muito imaturo, muito verde, longe de como estou hoje. Passei por muitas situações no Bahia e está tudo escrito para eu não esquecer de nada.

Mas, apesar das críticas, você nunca pareceu se sentir muito abalado, e às vezes a torcida perdia ainda mais a paciência com você, nas partidas.
No meu caso, tenho muita personalidade, não tenho medo de nada, e faço as coisas. Tem hora que é para finalizar, tem hora que é para passar. Dentro de campo eu gosto de jogar com alegria, só fora é que eu sou tímido mesmo. Às vezes falo com uma moça que trabalha na Fonte Nova, a chamo de “senhora” e ela não gosta (risos). Mas sou assim mesmo, é o meu jeito.

Muita gente diz que a sua mulher colocou você nos eixos, trouxe mais tranquilidade e você focou mais no futebol. Como era antes dela e como é agora?
Não, eu sempre fui focado. Até porque, se não fosse, não chegaria no profissional. Não foi por acaso. Não bebo nem fumo, sou um cara tranquilo. E quem é jogador de futebol e trabalha com o corpo precisa se cuidar. Mas ela me ajudou bastante, até em casa. É bom chegar em casa e encontrar com ela. Dá mais gosto de jogar. Me ajuda bastante, todos os dias, está sempre do meu lado, assim como o pessoal da minha família e da família dela.

Como foi a sua formação até chegar ao profissional?
Em Feira de Santana, me formei no astro, clube da Fazenda do Menor, um projeto social da cidade. Eu ia para a escola, mas nunca me interessei muito. Colégio era uma “coisa pequena”. Meu vício sempre foi a bola. Meu pai me levava para os lugares e eu levava uma bola junto. Eu queria jogar bola de manhã, de tarde, de noite. Não tinha horário. Nunca trabalhei antes de chegar ao Bahia, me dedicava só ao futebol. No futuro penso em terminar os estudos, já conversei com minha mulher, ela vai me ajudar.

Sua ausência foi uma surpresa na convocação de Alexandre Gallo para o Torneio de Toulon, com a seleção olímpica. Você acha que esse seu comportamento antigo pesou nisso?
Se ele não chamou porque talvez tenha opções melhores. Estou tranquilo. Das vezes que joguei na seleção, fui bem, não só com o Gallo mas com o Emerson Ávila (técnico anterior). Todo mundo me conhece, sabe o futebol que jogo. Não guardo rancor nem mágoas, até porque não briguei, não discuti com ninguém. Foi a opção dele. Mas estou tranquilo, porque nem sempre o jogador que está na seleção de base chega aonde ele quer, na seleção principal.

O Bahia começou o Brasileiro com uma campanha segura. Quais são os sonhos e limites do time na temporada?
Dá para esperar um Bahia forte. Humilde, com os pés no chão, mas vamos chegar fazendo as coisas certas, que o professor Marquinhos está pedindo. A gente tá com o planejamento de não perder nenhum jogo até a Copa do Mundo e estamos buscando algo maior lá na frente.

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