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‘Me senti como parte do normal na Bahia’, diz Roger Machado no dia da Consciência Negra

Notícia
História
Publicada em 20 de novembro de 2024 às 17:25 por Victor de Freitas
Foto: Divulgação / EC Bahia

Pela primeira vez na história do Brasil, o dia da Consciência Negra é feriado nacional. Em meio a inúmeras ações de combate ao racismo no futebol, em especial várias delas partindo do Bahia, um dos personagens que mais vestiram a camisa da luta antirracista no Esquadrão foi o técnico Roger Machado.

Treinador tricolor entre 2019 e 2020, Roger é uma voz ativa no combate ao racismo dentro do futebol brasileiro e, sobretudo, na sociedade. Em sua passagem pelo Bahia, participou de ações representativas e expôs suas opiniões.

No site “The Players Tribune Brasil”, Roger Machado teve seu texto publicado exatamente neste dia 20 de novembro, dia da Consciência Negra, e destacou a importância da sua passagem pelo Bahia por fatores não só profissionais, mas sobretudo como pessoa, por, em suas palavras “ter se sentindo parte do normal” vivendo em Salvador.

Roger Machado em ação do Observatório da Discriminação do Futebol

Leia o texto escrito por Roger Machado sobre seu trabalho no Bahia:

“O futebol também me abriu muitas janelas. Talvez a mais representativa delas, contribuindo para que eu me enxergasse de forma completamente diferente, é a do Bahia. Ou melhor, da Bahia.

Ter morado por 18 meses em Salvador foi uma experiência memorável. Não só por ter trabalhado num clube onde eu me senti encorajado e empoderado para falar sobre valores sociais que compartilhamos, mas por ter sido o lugar onde resgatei minha ancestralidade.

Deveria parecer normal sair de casa e enxergar no outdoor ou na propaganda de televisão uma pessoa de pele escura com cabelo black solto, mas a gente sabe que não é. A sociedade tem outros padrões.

Mas em Salvador isso é normal. Tu olha pro lado, vê um homem negro num carro importado e passa a imaginar que ele pode ser um advogado, um engenheiro ou um empresário, e não um motorista, um jogador de futebol ou um pagodeiro. Tu desconstrói teus preconceitos, porque tu começa a te enxergar no rosto dos outros. Automaticamente, tu revigora tua autoestima.

Eu me senti como parte do normal na Bahia. A tal ponto de tomar a iniciativa de fazer o teste de DNA para tentar me descobrir mais a fundo, descobrir a minha identidade. E aí eu tive uma revelação surpreendente.

25% mesoamericano e andino. 22% queniano. 19% nigeriano. 18% italiano!

O restante é uma mistura de seis grupos étnicos distintos.

A partir do momento que tu conhece tuas origens e se vê representado na televisão, nos jornais e nos livros, teu entendimento sobre a vida ganha outra dimensão.

Desde criança, eu fui ensinado a pensar que a história negra começou nos navios que traziam indivíduos escravizados. A escola não mostrava meu povo como protagonista da formação do Brasil. Pelos ensinamentos que aprendi, eu hoje deveria achar normal que no shopping perguntem à minha parceira Camile, que é branca, se uma das nossas filhas, que puxou a minha cor e o meu cabelo, é adotada.

As janelas que o futebol — e os livros — me abriram mostram que não, isso não deve ser aceito como parte do normal. Nossa história não se resume à escravidão nem ao racismo.”

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