Para um torcedor como eu, não é nada agradável ficar escrevendo para fazer críticas negativas sobre o time, para fazer ponderações sobre aspectos extra-campo nada elogiáveis ou condenáveis ou deploráveis. Há quem goste e sinta até um prazer mórbido em ficar incessantemente apontando falhas e dizendo que está tudo errado. Há quem faça as críticas para exercer o seu sagrado direito à livre manifestação da opinião. Há quem critique por achar que será ouvido e que conseguirá sensibilizar os alvos para reverter aquilo que está fora dos eixos. Há quem critique e chame isso de feedback, porque ajuda o outro a crescer e a ter melhoria contínua. Não lhes tiro os méritos nem as razões. A crítica é necessária, mas é melhor feita quando a gente não está tão envolvida emocionalmente com o objeto dela. Corre-se o risco de se pecar pelo excesso, pela imprecisão ou pela falta de objetividade, dando um tom mais passional do que racional ao conteúdo.
Eu me dei um tempo para me poupar desse sacrifício de escrever para criticar. Decretei um armistício. Cansei de ficar batendo numa tecla que já está muda. Preferi ficar sem escrever enquanto as matérias sobre as quais eu teria que me debruçar fossem uma repetição da comédia de erros que temos presenciado nesses intermináveis anos de mediocridade. Ainda por cima, descobri que quando espinafro o Bahia estou dando material para os torcedores do vice se deleitarem e ficarem enviando os meus textos uns pros outros via e-mail (e ainda me incluem na lista de distribuição).
O tempo tem passado muito rápido para mim (fiz 53 anos há 2 semanas). Como disse, magistralmente, Otto Lara Resende, ultimamente transcorreram-se vários anos. E já que estou sem palavras próprias, deixem-me parafrasear Drummond e dizer que vivi os últimos anos com a seguinte sensação: o Bahia é só um pôster na parede, mas como dói.
O que mais me incomodou no Bahia dos últimos céleres anos não foi nem o jejum de títulos, mas a perda (temporária) da identidade de time lutador, de time que se incendeia com o apoio da torcida, de time que não desiste de correr atrás do triunfo ou da goleada até o árbitro apitar o final da partida, de time que confia no seu potencial. O time se apequenou psicologicamente nesse período. Como sói acontecer na vida cotidiana, um indivíduo, mesmo sadio, que fica com medo de brochar diante de uma beldade, acaba sendo conduzido a uma inevitável e constrangedora manifestação de impotência.
O Bahia que venho acompanhando historicamente nunca teve elencos que primassem pelo brilhantismo individual dos jogadores de cabo a rabo. Nunca houve unanimidades em relação à qualidade ou à condição de titularidade de alguns jogadores. Havia os ídolos e craques inesquecíveis e inquestionáveis, mas sempre havia também uns patinhos feios, mesmo nos times que hoje achamos que foram perfeitos. O diferencial daqueles times estava na confiança que tinham em si, na mística e também no respaldo que lhes era dado pela diretoria, torcida e imprensa.
O Bahia que virou o BAvi final do Barradão e o Bahia que virou o jogo de sábado contra o Ipatinga me deram de volta o alento que espero ser aquele que está no Hino como oriundo da nossa voz e que insuflará esse time novamente e doravante.
Esses jogadores que hoje estão envergando nossa camisa têm potencial. Eles precisam saber disso. O técnico precisa saber disso. Eles precisam acreditar nisso. A torcida, idem. A Série B está aí pedindo para que a conquistemos. Não falo nem em classificar-se entre os quatro. Ser campeão é perfeitamente possível e plausível com o elenco que temos hoje, quanto mais com os reforços que estão por vir. Da mesma forma que o Campeonato Baiano era possível e deixamos escapar por equívocos estratégicos.
Eu estou querendo cantar loas ao meu time. Os cautelosos e os gatos escaldados não querem nem ousar se comprometer com isso. Mas eu preciso aproveitar essa oportunidade para levantar o astral dos nossos meninos. Nem quero saber se vou imitar Binha de São Caetano, que estava lá no Ipatingão vibrando solitariamente e ostentando a sua indefectível touca tricolor de esqui, que certamente é lavada e higienizada após cada jogo e cada viagem que ele faz para acompanhar o time do nosso coração.
Quero pedir ao Departamento Médico do Bahia que nem pense em vacinar Ananias contra a gripe, porque se ele já rende bem em condições normais, quando gripado e febril rende muito melhor. Vamos infectar Ananias toda a semana agora. Aquela roubada de bola que ele fez no segundo gol contra o Ipatinga só é possível em pleno e bendito delírio febril.
O Departamento Médico também não precisa ter pressa em apressar o tratamento de concentrado de plaquetas no tendão de Fernando, porque Omar já caiu nas graças da torcida e Fernando só deve retornar se estiver absolutamente curado. Omar sai bem do gol. Omar repõe a bola em jogo com as mãos muito bem. Omar rima com titular.
Marcone deixou de ser a baiana do acarajé, comparação que PC, o huno, utilizou ano passado para se referir ao seu excesso de peso na reapresentação do time. Marcone consegue desarmar eficazmente e sem falta (me lembra Paulo Rodrigues). Tem um passe e um potente chute a gol que estão se aprimorando jogo a jogo. Eu ainda espero pelo golaço estufando a rede que ele vai fazer em breve.
Bruno Silva, tão execrado ano passado quando jogou ainda fora de forma, num time desencontrado, está mostrando serviço inestimável tanto na marcação quanto na chegada à área para concluir.
Alison e Nen só têm um problema: ainda não têm substitutos à altura, mas já me fizeram o grande favor de reduzir o número de doses de uísque que tomo durante os jogos. Não tenho mais tantos sobressaltos quando estamos sendo atacados ou na nossa saída de bola da defesa.
Leandro ainda está oscilando, mas já num patamar superior. Precisa deixar de marcar o adversário fazendo terra um tanto truculentamente. Fazer terra é uma arte delicada.
Ávine, meu jogador predileto, você sabe o quanto tenho elogiado a sua técnica, o seu índice de acertos nos chutes a gol, nos lançamentos, no tempo de bola… Mas, sem ser irônico, o grande papel de Ávine no time é o de dar o exemplo de amor à camisa. Por isso o respeito, pois sei que os seus eventuais desacertos são muito bem intencionados. Ávine acerta nos desacertos.
Rogerinho está prendendo a bola. Rogerinho está soltando a bola na trave. Rogerinho está soltando a bola no gol, nas redes. Rogerinho só precisa é esquecer as jogadas ensaiadas por Renato para os escanteios e para a cobrança de faltas. Meter as bolas direto na cabeça dos atacantes e pronto.
Vander entrou numa fria nesse jogo contra o Ipatinga e deu conta do recado num nível até superior ao que eu esperava ou supunha que ele fosse capaz. Tem talento e personalidade. Vai dar certo. Vai ser ídolo. Mas suponho que vai ser vendido antes de dar ao time todo o retorno que o seu talento é capaz. Azar o nosso. Sorte do Bahia, que vai fazer um dinheirinho.
Para Rodrigo Gral, a quem a torcida já chama de Lobo Gral, vou me permitir um trocadilho meio cretino: ele é o nosso Santo Gral! A sua técnica, seu altruísmo, sua simpatia e a empatia conseguida com a torcida com a exposição daquela bandeirazinha do Bahia para as câmeras após seus gols, já são garantia de bom desempenho no campeonato.
Os pontos preocupantes ficam por conta do ainda inseguro e cambaleante técnico Renato, que colocou em campo o pobre do Diego que ficou sem saber o que fazer direito, sem um GPS para se orientar e se localizar, o que redundou na opção em correr diagonalmente para marcar o árbitro! Felizmente Diego não pegou na bola. Não comprometeu o time com nenhum erro, apenas com a sua presença ausente. Eu já disse aqui que não gosto de Renato, não confio em Renato, não acho nem que Renato seja técnico na acepção da palavra. Mas se ele continuar ganhando todas e for campeão, eu, como torcedor passional, vou pedir Renato no lugar de Dunga (conhecendo a CBF, essa não é nem uma possibilidade remota). Isso vai ser muito bom para o Bahia.
Ano passado o Bahia ganhou da Ponte lá em Campinas, coisa que os meus olhos quase idosos nunca tinham presenciado. Na próxima sexta-feira, não há razão para não crermos em novo triunfo nem deixarmos de nos impor diante deles novamente. É tudo questão de atitude e de confiança.
Eu queria ser mais efusivo nos meus elogios nessa crônica, mas ainda estou desacostumado em usar esse tom. O desenrolar do campeonato certamente me oferecerá ocasiões para eu me expressar de maneira mais feliz e apropriada. Só não pensem que essa minha fase de aversão a fazer crítica é definitiva.
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