Desde menino fui ensinado pela minha saudosa mãe que não se deve dizer nomes feios um pouco em vão, né?. O mais feio de todos passarei a me referir ao nome começado com V, seguido de um asterisco (mais feio do que aquele outro palavrão que nós baianos adoramos pronunciar, começando com D), o qual se refere a um certo clube que usa um certo felino de juba como mascote. De qualquer forma, ao me referir ao tal V*, eu sempre me lembro de coisas que envolvem mau cheiro.
Com a devida vênia e antecipadamente pedindo perdão por qualquer coisa aos moradores da localidade, Canabrava foi um dos lugares que mais me marcou há alguns anos. Ali, eu senti pela primeira vez o que era um fedor de verdade. Aquele azedume que invadia minhas narinas ainda me provoca calafrios e outras miscelâneas organolépticas quando puxo no meu arquivo mental as recordações daquele recinto. Naquele lugar, eu também percebi que Biafra, Etiópia e outros infernos africanos na Terra não deviam nada àquele então triste bairro. De fato, a cena de um menino preto, barrigudo, cabeçudo, seminu e famélico mexendo no saco de lixo com sobras de um restaurante sendo auxiliado por um urubu não é das melhores coisas para se ver.
Anos mais tarde, o bairro foi urbanizado e posto em condições de habitabilidade graças à influência de um rico clube de Salvador, cuja torcida além de etilista elitista possui consciência ambiental até o talo. De acordo com Tolentino (2010), Canabrava hoje possui uma praça esportiva valorizadíssima, construída com recursos próprios e sem o menor tráfico de influência para que a obra nababesca (idem, ibidem) fosse concluída.
De fato, desde a efetiva inauguração daquela praça esportiva, o tal clube da C-elite deitou e rolou em cima do seu maior rival. Em 19 anos jogando naquele campo, o clube da Realeza Soteropolitana conquistou trocentos títulos baianos, conseguindo a inédita proeza de superar outro rival, o clube da Vila Canária. Um pouco antes de inaugurar o seu sanitário santuário (bendito seja o corretor ortográphico dos fabricantes de tablets e celulares), o tal V-asterisco já havia iniciado a sua saga de conquistar a inédita honraria de Vice-de-Tudo. Tudo mesmo? Não! Ainda falta um título, que é o vice da série D (D de des…carga): permanecemos na torcida.
Neste intervalo de quase vinte anos, um outro clube azul-vermelho-e-branco agonizava nas mãos dos senhores feudais que usavam a agremiação como forma de, politicacorretamente falando, satisfazer seus caprichos pessoais, dilapidando o élan vital desta instituição o qual não se findou de vez por causa da torcida apaixonada que tem… veio então um senhor magrinho de cabelos brancos e chapéu de leprechaun ligar o botão de f*ck-off e acionar o Judiciário de modo a derrubar as bastilhas da Península Itapagipana que tanto amarravam o tal clube no calabouço da infâmia.
E eis que mais uma vez os caminhos do clube de Canabrava e deste outrora combalido clube tricolor se cruzaram novamente naquela batalha onde até os pombos da Praça Municipal já sabem de cor e salteado quem são os contendores de todo ano. Os canabravenses se borraram dentro e fora de campo, antes, durante e depois do jogo; com medo de que os bárbaros invadissem seu inexpugnável castelo. Do lado deles, o cheiro do lixo (incrustado em suas almas há décadas) se misturava com o cheiro das próprias fezes a lhes escorrer pelas pernas aliás, um odor que lhes é bastante familiar. No lado vermelho e preto, lágrimas de chorume.
Incontestavelmente, o Bahia renascido deu mais um importante passo para o seu soerguimento. O cenário de ganha-mas-não-leva e das goleadas inacreditáveis passou longe até o momento. A choradeira, a mania de perseguição e as ameaças extra-campo dos anos 80 voltaram com força total, com o adicional dos ataques terroristas de uma torcida organizada que há 20 e poucos anos se resumia a uma senhora infartada de cara pintada segurando um leão de pedra e um senhor idoso segurando uma imagem do Padim Ciço rezando ao tal por um dia menos vergonhoso.
Não se pode macular o santo nome do Lixo Sagrado em vão. Sergei Brin e Larry Page, do alto de suas nababescas (opa!) mansões do Vale do Silício, mostram as nádegas como todo bom ianque nerd aos canabravenses em crises convulsivas reentrantes com direito a liberação esfincteriana de chilique ao ver nas páginas do mais famoso buscador da internet o seu brasão vilipendiado. Um certo comentarista de Minas Gerais, cujo nome me falha à memória, no afã de defender um colega de profissão acusado do baianíssimo crime de degustação de charque, mandou o politicamente correto para onde se encontra a Eliza Samudio e mandou um jogador do Atlético-MG voltar para a m… do V-asterisco! Imediatamente, as comportas dos esgotos da Embasa se abriram nos comentários indignados da banda podre futebolística da Bahia diante desta blasfêmia contra o deus Urubu. Ao super-sincero comentarista de BH, nosso total e irrestrito apoio e que nunca lhe falte emprego enquanto falar apenas a fedorenta e escatológica verdade.
Em que pese a gravidade do duplo insulto ao atleta atleticano, este provavelmente está defecando e deambulando pra jornalista da boca suja, do mesmo modo que a torcida do Bahia faz o mesmo para jornalista da boca grande.
Eis que as coisas voltam à normalidade. Segue o Bahia no campeonato brasileiro tentando provar a si mesmo que consegue algo melhor que o tetra-não-descenso, um recorde dentre as equipes nordestinas na era dos regulamentos europeus de pontos escorridos. O maior desafio tricolor, além de se consolidar como um clube de Elite que deve ser, é superar a si mesmo, e não se comparar com aquilo que sai de baixo, vem de um asterisco e boia na água aquilo que num acesso paroxístico diarreico namorou com a Libertadores durante um tempo… Hemorróidas em couve-flor e banhos de assento para os rubro-negros: o Imosec tricolor voltou. Ser o maior da Bahia é nada mais que a obrigação, mas de uma simbologia imensa depois de tantas batalhas nos tribunais e nas tribunas do jornalismo marrom: preto como uma boa melena e vermelho como o sangue de uma hemorroida rompida.
Saudações Tricolores!
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