A esquizofrenia é uma psicose, uma doença mental (na verdade é um conjunto de doenças ainda mal compreendidas) que afeta o pensamento, as emoções, as percepções, o comportamento e o discurso. A palavra vem do Grego skhízein (fender, dividir) + phrén, phrenós (espírito), ou seja, o esquizofrênico tem o espírito dividido, partido; é uma alma transtornada, incapaz de dissociar a realidade daquilo que é meramente imaginário.
Para que um indivíduo seja considerado psicótico é necessário que ele apresente alucinações e/ou delírios, entre outras pirações que não desejo nem pra torcedores do vice. As alucinações são percepções sensoriais sem a presença do objeto (ver vultos ou pessoas, ouvir vozes ou pensamentos, sentir cheiros diversos ou ter variadas sensações tácteis, sem que essas coisas existam materialmente ou realmente). Já os delírios são tipos de pensamento nos quais o indivíduo tem uma crença inabalável em idéias falsas, irracionais ou sem lógica e que o faz afastar-se cada vez mais da realidade. Os delírios geralmente estão associados a temas de perseguição, grandeza ou místicos.
Depois desse blá-blá-blá psiquiátrico todo, vou logo dizer o que acho que isso tem a ver com o Bahia, mais propriamente com a torcida do Bahia (incluindo-me, claro!): estamos delirando! Estamos totalmente dissociados da realidade e com delírio do tipo grandioso. Iludidos com a nossa história de títulos em passado recente e remoto, confundidos com a grandeza real da torcida tricolor em número, fidelidade e presença no estádio, ainda não nos demos conta de que o nosso time está na Terceirona. O discurso geral é que “o Bahia é time de Primeira”, é “Time Grande”, e é como se a circunstância da Terceira Divisão fosse um pesadelo ou uma brincadeira de mau gosto que logo vai se dissipar por encanto e seremos felizes para sempre.
Talvez estejamos também alucinando. Talvez estejamos vendo coisas que não existem. É possível que vejamos ainda um esquadrão entrando em campo cheio de Bobôs, de Douglas, de Zanatas, enquanto o que está lá são Dadicos, Pereiras e Edneis. E aí é que mora a nossa esquizofrenia: nossa cabeça ainda tem a convicção de que somos os porretões, enquanto a realidade desenha um quadro totalmente diferente, para o qual viramos a cara ou enxergamos algo totalmente distinto.
A questão que cabe aqui é a seguinte: o time atual do Bahia é uma porcaria? Se formos tomar como parâmetro o que já fomos, a resposta é sim. Mas se fizermos um pequeno exercício de lucidez e enxergarmos a verdadeira situação em que as administrações oligofrênicas nos colocaram, é não. Temos um time com a cara da Terceirona. Os números mostram que estamos indo bem até agora. E, mais que os números, a gana, a raça, a disposição que esse grupo de jogadores tem demonstrado nas partidas, levam-me a concluir que eles pegaram o espírito da coisa e estão dando tudo o que podem.
Mas a Torcida Tricolor ainda se comporta com o nível de exigência de dantes. Queremos ver jogadas espetaculares, tabelinhas hipnotizantes, cruzamentos milimétricos, golaços e coisas que tais. Execramos os chutões de Pereira, as faltas de Rodrigão, os cruzamentos errados dos laterais, a marcação deficiente no meio de campo, as bolas perdidas no ataque e logo começamos a vaiar o time. Aí a maionese desanda, porque vaia não transforma Ávine em Paulo Robson, nem Elias em Fito.
Portanto, minha gente, faço um apelo patético para que neste domingo, e nos jogos subseqüentes da Terceirona na Fonte, a gente leve para o estádio um psiquiatra a tiracolo e um bocado de remédio de tarja preta, para que possamos enxergar um pouco do mundo real e vibrarmos com esse time, que pode não ser a oitava maravilha do mundo, mas é a maravilha que me faz enlouquecer.
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