Rapaz, eu sou torcedor do Bahia. Não me canso de dizer que quem escreve aqui é um apenas um torcedor de futebol do tricolor baiano, como outros milhões que existem espalhados nesse país, além-fronteiras e além-mar. E gostaria de sempre ter as atuações do time do Bahia como tema de abordagem. Mas tenho que reconhecer que, por força das circunstâncias e contra a minha vontade, no mais das vezes me vejo escrevendo sobre questões extra-campo e institucionais do Esporte Clube Bahia ou Bahia S.A. (o que quer que represente essa dualidade esquizofrênica). Não é isso que me dá prazer.
O que eu gosto mesmo é da zorra do jogo de futebol. É de falar da dinâmica, paixão e fascínio desse jogo atávico, cujos primórdios já existiam na China 2.700 anos a.C., evoluíram para o cuju (pronuncia-se tchutsu) na Dinastia Han lá pelo ano 150 a.C., também no império romano com o Harpastum praticado pelos legionários como técnica de treinamento físico, no Calcio Fiorentino dos tempos da Renascença e que acabou ganhando sua forma atual a partir de sua prática em várias universidades inglesas no Século XIX, com regras formalizadas em 1863 numa taverna chamada Freemason, em Londres, denominando o esporte como Football Association embora alguns alunos de Oxford o tivessem denominado informalmente como soccer (abreviatura de association acrescida da terminação er que esses estudantes costumavam usar como gíria).
O Projeto Genoma ainda não fez essa descoberta, mas é certo para mim que o futebol está inserido no DNA, nos genes da espécie humana. Menos, provavelmente, nos genes de Diogo Mainardi que, como já comentei em crônica anterior, acha o futebol um negócio irrelevante esse Mainardi deve ser de uma outra espécie, talvez um copépodo (tipo de crustáceo microscópico).
Deixando esses considerandos de lado e indo para os finalmentes, gostaria logo de confessar que minhas previsões para esse último jogo Bahia x Criciúma falharam miseravelmente. Sempre que se tenta analisar o futebol com critérios objetivos corre-se o risco de dar com os burros nágua. Eu não podia esperar nada de alentador num time cheio de problemas diversos, cuja escalação não realizou nenhum treinamento conjunto, com atrasos crônicos de salário que redundaram, às vésperas do jogo, na desistência do artilheiro Galvão em permanecer no clube, etc, etc.
Que tipo de motivação eu poderia esperar desses jogadores? Mesmo diante de um adversário que não vem tão bem no atual campeonato, pareceu-me que iríamos sucumbir aos nossos próprios problemas e já contabilizava um resultado catastrófico dentro de casa para esse jogo.
A presença de público ao estádio de Feira foi a prevista: penúria em número – nada condizente com a nossa grande massa torcedora, mas perfeitamente justificável pelo descrédito motivado pelos últimos resultados negativos do time e perspectiva idêntica para o resto do campeonato. Mas o pessoal que foi ao Jóia da Princesa não estava a fim de ficar reclamando desse ou daquele jogador ou vaiar sistematicamente o técnico. A torcida foi paciente no primeiro tempo amarrado do time, mas foi decisiva no segundo tempo dinâmico, inclusive para não permitir o nosso já tradicional, irritante e ineficaz recuo para administrar ou garantir o resultado após obter a vantagem mínima de gols, mesmo quando ainda falta muito tempo para o jogo acabar. Pois dessa vez, em vez de se contentar com o 1×0, partimos para cima do Criciúma para aumentar o placar.
Para minha total surpresa, os jogadores demonstraram um espírito de luta elogiável, incansável; tudo isso aliado a um desempenho técnico bastante satisfatório da totalidade do time, já descontando aí as limitações que lhes são próprias. Foi um segundo tempo soberbo, em relação ao que estamos nos acostumando a assistir ultimamente. Só não diria que foi alentador, porque não tenho muitas ilusões que iremos repeti-lo sistematicamente nos jogos que estão por vir.
A minha obtusa objetividade e uma rápida olhada na tabela até o fim do campeonato me levam a concluir que teremos que nos conformar com essa posição intermediária em que nos encontramos. Tomara que, mais uma vez, eu falhe clamorosamente em prever nosso desempenho e ele se mostre bem melhor do que a análise dos elementos disponíveis me faz supor. E oxalá o time do Bahia me dê motivos e material para eu escrever apenas e tão somente sobre essa coisa admirável que é o jogo de futebol e que sejam textos para louvar o meu time e a nossa torcida.
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