“Precisamos de mais um lateral esquerdo!”. “Tem que vir outro zagueiro destro”. “O Bahia tem poucos volantes”. “Cadê o 9!? Porque esse Estupinan é grosso!”. “Falta um meia para ser reserva de Cauly e Everton Ribeiro!”. “A gente precisa de um ponta que faça gols”.
Quem faz parte da bolha tricolor no Twitter (me recuso a chamar de X) se depara com variáveis sobre essas frases o tempo todo. Acho até que já fiz coro a alguma. Mas, confesso, que tenho refletido um pouco sobre ela, principalmente, depois de boa parte da primeira janela de transferência tricolor já ter se concretizado.
E já me peguei fazendo pra mim mesmo algumas perguntas:
- Será que precisamos de mais gente neste momento?
- Quais os efeitos de vir mais gente neste momento da temporada?
- Será que o grupo que temos, seja em qualidade ou em quantidade, não é suficiente para ser competitivo?
Um monte de pergunta, né? Mas acho importantes os questionamentos.
Será que precisamos de mais gente neste momento?
Pra responder o primeiro, gostaria de olhar pro nosso elenco neste momento:
- Goleiros (3): Marcos Felipe, Adriel e Danilo Fernandes.
- Laterais direitos (3): Arias, Gilberto e Cicinho.
- Laterais esquerdos (3): Juba, Ryan e Caio Roque.
- Zagueiros (5): Cuesta, Kanu, David Duarte, Gabriel Xavier e Marcos Victor.
- Volantes (6/7*): Caio Alexandre, Jean Lucas, Yago Felipe, Rezende, Jota, Sidney, Acevedo*.
- Meias (3): Cauly, Everton Ribeiro e Roger.
- Atacantes/pontas (4): Thaciano, Biel, Ademir, Ratão.
- Centroavantes (2): Everaldo e Oscar Estupinan.
* Acevedo está fora da primeira metade da temporada, então atualmente temos 6 volantes, sendo que teremos 7 quando ele retornar.
Temos um elenco com 29 jogadores, sendo que TODOS tiveram seus minutos até aqui. Lógico que alguns tiveram mais e outros menos. Mas, com a grande quantidade de jogos que tivemos até aqui (entre 24/01, estreia do time titular contra o Jacobina, e 29.02, dia do jogo contra a Juazeirense, o Bahia fez 11 jogos em 37 dias), dá pra dizer que o elenco está com minutos para mostrar seu futebol.
Será que precisamos de mais do que 29 jogadores neste momento? Se a direção ouvisse a torcida e respondesse positivamente a todos os apelos que traduzi no primeiro parágrafo, teríamos mais 01 lateral esquerdo (sendo que em junho chegará Iago), 01 zagueiro, 01 volante, 01 meia, 01 ponta e 01 centroavante, trazendo o elenco para 35 jogadores.
Refletindo e pensando com calma, me parece bem claro que não precisamos de mais gente neste momento, por uma questão muito ligada à resposta que enxergo para a próxima pergunta.
Quais os efeitos de vir mais gente neste momento da temporada?
Se chegassem os 06 reforços pras posições que parte de nossa torcida vivem a pedir, como ficaria o espaço de jogadores jovens, como Marcos Victor, Caio Roque, Ryan, Jota, Sidney e Roger? É bem verdade que, mesmo sendo relacionados, os atletas já tem dificuldades de entrar em campo, ainda assim estão integrados ao grupo, sendo relacionados e beliscando alguns minutos.
Se viessem, neste momento da temporada, outros jogadores, com certeza estes jovens ficariam à margem do grupo, totalmente desmotivados, já que não teriam sequer a perspectiva de serem relacionados.
Neste ponto, penso que o primeiro semestre da temporada brasileira serve para que os técnicos façam algumas observações, consigam ver como jogadores jovens, ainda que num cenário de menor qualidade técnica, se saiam em meio a jogos profissionais, valendo 03 pontos.
O Bahia tem, hoje, 29 jogadores integrados ao seu elenco profissional, aptos a entrar em campo, inseridos no dia a dia de boa parte dos jogos, mobilizados e potencialmente motivados. No segundo semestre, com a chegada de Iago e reincorporação de Acevedo, esse número subirá para 31.
Ainda assim, fica o questionamento a seguir.
Será que o grupo que temos, seja em qualidade ou em quantidade, não é suficiente para ser competitivo?
Antes de trazer minha irrelevante respostas para a minha própria pergunta, acho importante trazer algum contexto, focando numa reflexão sobre o Bahia pós-CFG.
No chamado “Ano Zero” (odeio essa expressão, mas vou usar), o Bahia fez 25 contratações, com investimento que, dizem, superou a casa dos 100 milhões de reais. A quantidade de contratações se justificava, naquele momento, já que o Bahia havia acabado de subir da Série B com um time muito fraco tecnicamente (tanto que hoje restam apenas 04 jogadores daquele grupo que subiu: Danilo Fernandes, Ryan, Gabriel Xavier e Rezende).
Obviamente que, num universo de 25 jogadores, há uma grande chance de muitas contratações não funcionarem como se esperava. E, obviamente, isso aconteceu com o Bahia. Ainda assim, este amplo universo de contratações foi responsável por trazer a base do elenco que temos hoje, sendo que 17 jogadores contratados no ano passado continuam a compor o elenco desta temporada (Marcos Felipe, Adriel, Gilberto, Cicinho, Juba, Caio Roque, Kanu, David Duarte, Marcos Victor, Yago Felipe, Acevedo, Cauly, Thaciano, Biel, Ademir, Ratão e Everaldo).
A estes 21 jogadores somaram-se os 06 reforços desta temporada (Arias, Cuesta, Caio Alexandre, Jean Lucas, Everton Ribeiro e Oscar Estupinan), assim como os 03 garotos da base (Jota, Sidney e Roger).
Com a futura chegada do lateral esquerdo Iago, vindo do futebol alemão, teremos um elenco de 31 jogadores.
O grande número de contratações da temporada passada propiciou uma ação mais qualificada no mercado de transferências deste ano. O Bahia buscou jogadores que tiveram protagonismo e destaque em suas equipes nos últimos anos, trazendo jogadores titulares em suas equipes
O fato é que, para mim, o Bahia tem, sim, um grupo com qualidade suficiente para competir em toda a temporada. Um time com Marcos Felipe, Arias, Gabriel Xavier, Cuesta, Iago, Caio Alexandre, Jean Lucas, Thaciano, Cauly, Everton Ribeiro e Estupinan me parece, sim, competitivo.
Mesmo olhando para um eventual time reserva com Adriel (D. Fernandes), Gilberto (Cicinho), Kanu, David Duarte (Marcos Victor), Juba (Ryan ou Caio Roque), Rezende, Acevedo, Yago (Roger), Ademir, Biel, Ratão (Everaldo), penso que dá pra dizer que temos peças competitivas. Jogadores como Gilberto, Juba, Rezende, Acevedo, Yago Felipe, Ademir e Biel teriam espaço como titulares em boa parte dos nossos rivais de Série A.
Inclusive, temos que ser justos com alguns jogadores criticados da temporada passada, como Yago Felipe e Cicinho, que vem jogando em nível bastante superior ao da temporada passada.
É claro que jogadores de qualidade incontestável sempre serão bem vindos. Não seria ruim ter um zagueiro destro de maior qualidade, e mais um ou dois pontas goleadores para serem titulares, já que Rogério Ceni não vem utilizando a função tática do camisa 9 (nitidamente vem usando Cauly solto, como falso 9, e Thaciano e Estupinan – ou Everaldo, Biel e Ratão – como atacantes móveis, que defensivamente fecham os lados quando a pressão pós perda não resulta em recuperação imediata da bola).
Mas é um fato, para mim, que nosso elenco é competitivo e capaz de fazer bom papel na temporada, mesmo no segundo semestre e nas competições mais importantes, como Brasileirão e Copa do Brasil.
Ainda assim, vejo muita gente questionando que o elenco tem problemas e que as improvisações de Ceni seriam uma evidência para este argumento. Concluo me perguntando: será?
Concluindo com uma reposta à seguinte pergunta: mas e as improvisações de Ceni?
Boa parte das críticas ao tamanho do elenco tem a ver com as chamadas “improvisações” de Ceni. Desde o ano passado é comum ver Rezende fazer zaga e lateral esquerda, Juba como lateral esquerdo e Thaciano como atacante. Nesta temporada, já vimos Cicinho na lateral esquerda e Yago e Jean Lucas jogando mais avançados no meio de campo. O próprio Cauly vem ficando solto à frente, com mais liberdade na fase defensiva.
Já cheguei a ver gente dizendo que Ceni inventa. Mas, pergunto: até que ponto o posicionamento destes jogadores é improviso e invenção?
Thaciano, por exemplo, é um jogador quase impossível de ter a posição classificada. Alguém ousa chamar o jogador de volante? De meia? Alguém consegue definir a posição de Thaciano? Eu não consigo. Inclusive, vendo a forma como vem sendo utilizado por Ceni, especialmente neste inicio de temporada, vejo ele cada vez mais forte como um atacante de beirada, que defende dedicadamente quando o adversário ataca e que invade a área, com diagonais a partir da direita ou esquerda, se apresentando na área como um verdadeiro atacante.
Rezende, por exemplo, tem porte de zagueiro. Ótima velocidade para seu tamanho e para um lateral mais defensivo. Poder de marcação de um volante mais pegador. Não vejo incompatibilidade com a escalação dele em nenhuma das posições que já jogou.
Juba na lateral para mim é um ótimo encaixe para o jogador. Tem suas dificuldades de marcação, mas tem um cruzamento de excelência. Acho que não tem a habilidade para ser um atacante inquestionável, então me parece que usar seu poder de cruzamento na lateral me parece ótima opção. Caso Ceni entenda que precisa de maior poder de marcação ali, pode vir com Rezende; caso precise de uma opção forte no ataque, tem Juba. No segundo semestre, terá o equilíbrio de Iago. Vejo o Bahia bem servido ali, principalmente com a possibilidade de crescimento de Juba com relação à fase defensiva. A estes jogadores, ainda temos dois jovens para a posição, como Caio Roque e Ryan. Trazer mais um lateral esquerdo, hoje, pra mim incharia o elenco sem necessidade.
Ceni também ajudou na recuperação de Yago Felipe, escalando o meio campista em todas as posições do meio de campo. Já vimos como 5 e 8 e até como meia mais avançado em alguns momentos.
Para mim, essa capacidade de adaptação de Ceni é um trunfo. Gosto de treinadores que não se limitem e que limitem seus jogadores. Ceni consegue enxergar a característica dos caras e encaixar em posições que essas valências se destaquem. Foi assim como todos os jogadores que citei acima e, agora, com Cauly, mantendo o nosso camisa 8 livre para ser criativo como um meia, quando temos a bola, mas solto à frente quando estamos na fase defensiva, com os outros jogadores de frente fazendo a recomposição defensiva.
Claro que Ceni erra, como todos erram. Tem suas teimosias e me parece preso a alguns conceitos de hierarquia de plantel, insistindo em Kanu e Everaldo, por exemplo. Não acho que é o caso de desprezar os dois atletas, mas penso que ambos deveriam estar mais envolvidos no time do Baiano. Me parece que já será assim com Everaldo, que jogou o jogo inteiro contra a Juazeirense. Acho que falta fazer isso com Kanu, levando Gabriel Xavier para ter mais protagonismo e fazer dupla com Cuesta. Talvez, inclusive, já tenha feito isso com Gilberto, já que Arias jogou o confronto da Copa do Brasil e Gilberto foi usado contra a Juazeirense.
O gosto de Ceni por um elenco mais enxuto e por jogadores que consigam fazer várias posições vai ao encontro dos melhores exemplos das grandes potências do futebol. Times como City, Real e Liverpool, por exemplo, tem elencos mais curtos, completados com jovens. Lá os jogadores também fazem várias posições. Zagueiro de origem hoje é importante volante (Stones no City), volantes de seleção francesa vem sendo elogiado como zagueiro (Tchouameni no Real) ou como lateral esquerdo (Camavinga também no Real), laterais direitos de seleção inglesa já foram usados como meia (Arnold no Liverpool) ou como zagueiro pela direita (Walker no City). Mesmo no Brasil, com Abel no Palmeiras, já vimos Zé Rafael fazer uma temporada inteira como camisa 5 e Marcos Rocha virar um terceiro zagueiro pelo lado direito.
Daria para continuar citando outros exemplos nos mesmos clubes ou noutros times importantes do futebol mundial, mas acho bom ficar por aqui, concluindo que tenho gostado do Bahia nesta temporada, seja pelas contratações já feitas, pelo trabalho do treinador, que vem buscando implementar um novo jeito de jogar.
Acho que nosso elenco é competitivo para dar continuidade à evolução do clube e vejo uma boa direção de crescimento. Claro que teremos percalços, que ainda temos problemas numa posição ou noutra, mas futebol não é vídeo game. Não existe fazer 20 contratações por ano. Futebol é processo, e o do Bahia, com acertos e erros, me parece coerente.
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