“Perdemos o quinquagésimo campeonato baiano: que pena! Menos mal que o rival não está na final. O rival morreu!”
Com a perda do fantasmagórico campeonato baiano para o xará feirense, boa parte da torcida pensou mais ou menos nesses termos acima. A despeito da derrota, e das desculpas do tipo “mas o time é de transição!”, creio que seja um momento importante, não para refletirmos sobre a existência dos estaduais, que não devem se acabar tão cedo enquanto existir esse modelo de federações e confederações de viés político: é momento de se definir sobre o papel da chamada equipe de transição.
A impressão que tenho – e espero que seja apenas impressão – é de que reservaram a dita equipe para aquelas contratações do tipo “vai que cola”, sendo que se sair um ou outro atleta mais qualificado, estamos no lucro: algo como se fosse uma pós-peneira voltada a atletas profissionalizados (não exatamente profissionais). Todos capitaneados pelo discutível treinador Cláudio Prates, que não tem tido o mesmo sucesso que o igualmente discutível Dado Cavalcanti. Equipe de transição serviria para quê mesmo? Como um expressinho ou equipe B, como uma chocadeira de atleta mal formado ou como um desvio de foco do que se chama “carreta de jogadores”? Qual o objetivo de se gastar tanto dinheiro (que não cresce em árvore) em tal equipe, uma vez que a relação investimento X lucro não me parece tão favorável?
“Ok, Cássio, se você não gosta do estadual, por que está criticando s sua perda?” Ora, ora… ao formarmos uma equipe às pressas todo ano, com jogadores pra lá de duvidosos quanto à sua forma técnica, o que mede o sucesso de uma equipe como essa são títulos! O “baianinho” ainda existe, é uma competição que, inclusive, deveria ser uma incubadora de revelações locais; não obstante uma vitrine para os clubes menores do Estado (o que tem sido no caso, porém mais por demérito dos grandes da capital). A equipe de transição pode e deve ser algo estruturado e duradouro; pode disputar competições em paralelo como a [ainda existe?] Taça Estado da Bahia ou criar uma nova razão social para disputar a Série D do Brasileiro e conferir experiência a esses atletas. Se o time atual é insuficiente para a conquista do Baiano, que assim seja forjado. Mas se me disserem “esse time é tão somente ambiente de cria de atletas, sem objetivos maiores”, há de se indagar se o investimento vale mesmo a pena.
Um dos pioneiros em dar aos estaduais a sua real importância foi o Atlético Paranaense, o qual, mesmo com equipe Sub-23, conquista o campeonato local com frequência, contra dois rivais de peso que possui no seu nicho. Tal clube, tão invejado por alguns irmãos tricolores, faz de tal equipe laboratório para reforço do time principal, recém campeão da Copa do Brasil e já tradicional em competições internacionais. A ideia de uma equipe paralela é boa; a perda do quinquagésimo baiano chateia o torcedor. Mas antes de criticar a diretoria de forma acintosa pelo resultado em si, precisamos refletir qual é, de fato, a função dessa equipe de transição, pois estou meio confuso quanto à sua real serventia, custo-benefício e objetivos. Com a palavra, a Diretoria do EC Bahia.
Falando da equipe de cima, aquela que conquistou a Copa do Nordeste, observo um perfil de contratações dentro do que a atual direção preconiza, inclusive com a aposição de jogadores de perfil sul americano (um dos maiores acertos desta gestão); e vejo um Gilberto no auge de sua forma física e técnica, mesmo tendo falhado em jogos importantes. Observem que o atleta alagoano tem manifestado desejo de buscar novos ares na sua carreira, uma vez que o sonho de integrar o seu clube do coração (adivinhem qual?) se torna cada vez mais inviável face ao nível técnico deste… acredito que seja a hora da diretoria ser um pouquinho mais ousada e tentar um outro “camisa 9” que realmente entre para resolver.
A conquista do Nordeste, este sim um campeonato extremamente importante, consolida o Bahia como a maior força do Brasil “de cima”, e fico relativamente satisfeito com a consolidação do futebol cearense no cenário regional, ocupando posto que já foi de Pernambuco. O Estado do Ceará cresce a olhos vistos economicamente, e o Ceará SC, copiando o perfil de contratações do Bahia, tem demonstrado que o modelo outrora lançado pelo Bahia deu certo de alguma forma: não apenas em termos de elenco, mas também institucional (campanha de associação, por exemplo, marca própria de uniforme, etc).
Finalmente, de nada adianta colocar time B, C ou D no Estadual se houver eliminação precoce na Copa do Brasil e Sulamericana; e/ou brigar, de novo, para não cair no Brasileiro. O clube deve encarar cada competição que disputar doravante como janela de oportunidade, tanto financeira quanto de ascensão institucional. Não deve se conformar com meio de tabela, não deve aceitar algo que não seja disputa de título das demais competições. Caso contrário, melhor voltar ao nosso mundinho de juazeiros e jacuipenses, de alagoinhas e itabunas: pelo menos, ali podemos dizer que fomos (e ainda somos) felizes. Cada um com a sua ambição.
PS: ando meio sumido, mas esta seção tem gente muito melhor do que eu para falar de esquema tático, cornetar a diretoria e ter seus momentos saudáveis de binhotismo explícito. Eu, de cá, ainda sonho com algo grande: não estou “velho”, mas eu quero comemorar uma Libertadores ainda em pleno vigor físico e mental, e ver a façanha ao lado dos meus filhos de preferência. Saudações tricolores!
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