“The dream is over” (O sonho acabou) já dizia John Lennon, na canção God, ao referir que já não acreditava em mais nada, a não ser, naquela época, apaixonado, em sua Yoko e em si mesmo.
Pois bem, difícil neste planetinha de absurdos vislumbrarmos, sequer de longe, a concretização da utopia de uma humanidade evoluída, desapegada de riqueza e poder, ética, imbuída de nobres propósitos.
Assisti recentemente, por meio de canal de televisão local aqui do Recife, a uma cena flagrada por câmara de rua (sim, o Big Brother chegou enfim) que bem ilustra o realismo absurdo pulular à frente dos nossos narcísicos narizes, dos batatais aos aduncos. Vou descrevê-la:
Caminhava pela calçada o cidadão (um engenheiro), portando mochila às costas e nas mãos, celular. À sua frente outro homem surge e, sem o menor pudor, parte em sua direção. Nota-se de imediato a sua postura ameaçadora e um objeto na mão. A iminente vítima não tem tempo sequer de esboçar reação. O louco (pode não ser adequado, mas não consigo encontrar outro adjetivo) a esfaqueia à altura do ombro direito. O inocente imediatamente cai ao chão e leva outros golpes. A cena parecia surreal. O agressor toma-lhe o celular e, calmamente, como se nada houvera acontecido, prossegue em linha reta o seu tortuoso caminho. Felizmente, a televisão noticiou que o agredido sobrevivera e encontrava-se hospitalizado, mas fora de perigo fatal.
Você, caro leitor, certamente já acostumado ao estilo parabólico e metafórico dos colunistas do ecbahia.com, estará perguntando a si mesmo o que tal fato tem a ver com o seu Bahêa. Peço-lhe um pouco de paciência. Por vias transversas, tal qual o caminhar do bandido, pretendo chegar lá ou, quiçá, próximo de algum lugar.
Pois bem, desse episódio, cuja imagem deveras me chocou, motivo pelo qual estou eu a contar, bem se vê que se mata por nada, por um celular, sem ao menos saber se funcionará em mãos diversas das do dono, quanto mais, ainda, pela posse, pelo domínio e pelo usufruto de um bem muito maior, do tamanho do Esporte Clube Bahia. É por isso que não largam o osso, quero dizer, o filé.
Mesmo que sofram o desprezo de toda uma comunidade, dos homens de bem e também, não sejamos puristas, de alguns de mal, apegam-se, não ao celular, mas à ilusão do poder e do acúmulo de riquezas, como se tais fossem os bens supremos a serem perseguidos nesta Terra que deveria ser de aprendizado. Onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.
Os corações desses homens que se assenhoram do tão amado e tão explorado, vilipendiado Bahia, certamente não se encontram nos tesouros que a terra e a traça não haverão de comer. Eles alimentam o seu carma no desamor recíproco das massas. Desprezam-nas e por elas são odiados. É a lei imutável da causa e do efeito! Loucos, trocam a paz de espírito pelos falsos tesouros que já acumulam em quantidade além do que os seus caprichos mesquinhos poderiam suportar.
Poderiam estar no nosso Bahia, naquele velho Bahia valente que aprendemos a amar e eles, se não a matar, mas certamente a apequenar, de passagem, a profissionalizá-lo, democratizá-lo, a contribuir honestamente para o seu crescimento. Seriam, assim, amados por toda a Nação Tricolor. Seria isto pouco?
A Nação não quereria dessa gente a saída. Ao contrário, clamaria nas ruas: Ficai, sois vós os nossos redentores! Ávida, como sói as multidões, pelos ídolos.
Não sabem avaliar o que realmente importa da vida. Veem-se, como os prepotentes, inteligentes, mas não passam de uns pobres diabos!
Almejam a política, e foram bafejados, digamos assim, pela sorte de terem nas mãos entidade tão grandiosa, o Bahia. Inteligentes seriam se o posicionassem em compasso com o seu gigantesco tamanho latente. Cresceriam junto. E nós, de modo geral, torcedores, os elevaríamos aos píncaros da glória do que almejam e não sabem como alcançar: o prestígio, a admiração, o sucesso político… Sufrágios, sufrágios e sufrágios, a cada eleição. A escalada poderia ser de ascensão. Mas não, eles preferem jogar fora todo esse cabedal, ofuscados que estão pelo imediatismo e pela ganância.
Não houvesse decretado o poeta que o sonho acabou, estaria eu quiçá a sonhar, não que as minhas palavras, mas que o sentimento de toda uma sofrida Nação (Tricolor) pudesse sensibilizar a mesquinhez e ela se tornasse grande e altruísta, assim como se o mal se pudesse tornar bem. Mas aí eu acordo e ouço minhalma cantarolar em versos transmutados a velha canção… I dont believe in Bahia da Ribeira.
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