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Publicada em 28 de março de 2009 às 00:00 por Autor Genérico

Autor Genérico

Teoria da Relatividade

No último BAvi em Pituaçu, uma inusitada revoada de urubus sobre o estádio me levou de um inicial sentimento de mau presságio até uma improvável associação desse fenômeno com a Teoria da Relatividade (pelo menos com a pequeníssima parte dela que eu consigo entender).

Caro leitor, acharei bastante compreensível se, desde aqui, você desistir de ler o restante do texto ou se achar impossível ou inútil acompanhar a minha embaralhada linha de raciocínio.

Da mesma maneira que aqueles urubus me pareceram algo meio incômodo e funesto, imaginei que, do ponto de vista da torcida adversária, essas aves deveriam representar algo bastante familiar e confortante, ou seja, um bom sinal para os badameiros rubro-negros. Interpretações de fatos ocorridos durante o jogo, comentários da imprensa após o jogo, notícias veiculadas nos últimos dias, se me apresentaram com versões imediatamente contestadas e antagonizadas pelos meus sensores. Foi essa provável diferença de percepção do mesmo fenômeno por dois observadores, cada um em local e circunstância distinta, que me conduziu a fazer a tal associação com os postulados de Einstein.

A Teoria da Relatividade não fala de diferenças de impressões subjetivas, como essas que acabei de expressar, pois isso é meio que óbvio. O que se convencionou referir como “tudo é relativo”, diz respeito, nessa teoria, a eventos objetivos e mensuráveis. Para exemplificar parte disso, recorrerei a uma absurda, mas reveladora, situação hipotética: imaginemos o carrinho-maca um pouco maior que o normal (digamos uns 50 metros de comprimento) carregando o jogador Apodi fingindo pela enésima vez uma contusão e se deslocando na pista do estádio a uma velocidade extremamente alta; dois urubus no céu sobrevoam cada um o espaço exatamente acima da parte frontal e da extremidade traseira do carrinho. Em dado momento, os urubus iniciam um vôo rasante hiperultramega rápido em direção ao carrinho-maca para abocanhar o pretenso agonizante ou defunto recidivante. Se eu sou um espectador que está sentado ali ao lado na arquibancada a 25 metros do carrinho (e torcendo sofregamente para os urubus conseguirem o seu intento), irei perceber o movimento dos dois urubus como simultâneos; mas para Apodi, que está em movimento (com um olho fechado e outro aberto) em direção ao urubu que está situado imediatamente acima da frente do carrinho, aproximando-se deste e afastando-se do outro que está alinhado com a parte de trás, o início do vôo dos urubus vai ser percebido em tempos diferentes: primeiro ele percebe o início do vôo rasante do urubu da frente e depois o do urubu da traseira. Assim fica demonstrada que a percepção da simultaneidade de eventos é relativa. Um mesmo evento pode ser percebido de forma diferente por observadores distintos.

Pois então vamos relativizar as coisas. Se do ponto de vista da maioria ou quase totalidade da torcida (mesmo a do Bahia) e da imprensa, a expulsão do goleiro Marcelo no BAvi foi justa, eu, lá da arquibancada e cá da frente do VT dos lances que assisti exaustivamente, achei algo totalmente absurdo, coisa impossível de ser vista em qualquer campeonato civilizado e com arbitragem minimamente capacitada. O primeiro cartão aplicado ao goleiro foi num lance em que ele foi tomar satisfação do atacante adversário, depois que este deu uma entrada julgada brusca num defensor nosso. Qualquer árbitro que não necessite se apoiar no uso do cartão para afirmar sua autoridade iria e deveria advertir o goleiro verbalmente, se a situação coubesse advertência – no caso, eu nem acho que isso fosse necessário; bastaria o árbitro chegar junto e dizer para o goleiro que não iria tolerar aquele tipo de atitude, que ele (árbitro) estava ali para cuidar da disciplina, e pronto. Isso só não funcionaria se o árbitro não fosse convincente na sua manifestação de autoridade. E acho que foi isso que o árbitro Arilson temeu. Ele achou que apenas a imposição da sua presença não seria suficiente; aí recorreu a um canhão para matar um mosquito – deu um cartão amarelo totalmente desnecessário.

O lance da expulsão, do segundo cartão amarelo, não coube contestação de absolutamente ninguém. Mas como eu não sou obrigado a concordar com todo o mundo e tendo em conta que o lance aconteceu com Apodi, o simulador (the great pretender), desde o momento em que vi o lance no estádio me pareceu que havia algo estranho. Então fui para casa e coloquei em funcionamento meus recursos eletrônicos para analisar o lance. Nota-se logo a hesitação fatal do goleiro em decidir se ia ou não para a bola que havia sido rebatida numa das muitas saídas erradas de Ávine, o flagelo do torcedor. Quando se decidiu a ir para a bola, Marcelo ainda tinha uma boa vantagem em relação a Apodi – estava bem mais perto da bola. Mas o velocista cearense conseguiu chegar um milésimo de segundo antes na bola e a tocou antes, possibilitando que o pé de Marcelo colidisse com o seu. O que dá para observar claramente no lance em câmera lenta é que Apodi já parte para dar o toque na bola fazendo um movimento giratório no corpo para se projetar numa queda pela linha de fundo. Em nenhum momento a sua linguagem corporal dá a entender que ele pretendia dar seguimento no lance. Ele queria aquilo ali: dar um jeito de chegar antes na bola, provocar o contato físico, se projetar e cair espetacularmente. A velocidade que ele imprime e a queda espalhafatosa faz pensar que houve uma falta violentíssima. Qualquer árbitro pouco perspicaz cai nessa e Arilson não foi exceção. Foi mais uma vítima, mais um bobinho que Apodi fez. Considerou o lance de Marcelo como ação imprudente e temerária, que causou perigo ao adversário, e aplicou o segundo cartão amarelo (se tivesse considerado como ação com força excessiva teria que expulsar direto). Mas houve perigo ao adversário? O que houve mesmo foi uma bela armação! É interessante e revelador observar o comportamento de Apodi depois da queda: ele fica deitado de bruços fora do campo, batendo as pernas como se estivesse sentindo dores lancinantes, com a cabeça voltada para o campo esperando e espreitando a reação do árbitro. Quando ele vê que o árbitro expulsa Marcelo, é saudado com tapinhas por um companheiro, comemora e se levanta imediatamente completamente restabelecido do que parecia uma terrível agressão. Ah, os urubus…

O Arilson Bispo não é um mau árbitro. Contrariamente ao que parte majoritária da imprensa bradou nos últimos dias, ele não fez uma arbitragem calamitosa no BAvi. Não marcou o pênalti sobre Ramon porque não viu, uma vez que o seu ângulo de visão não permitiu que ele enxergasse o puxão na camisa que estava acontecendo nas costas do jogador. Arilson tem a grande vantagem de não considerar qualquer contato físico como sendo falta. Diferentemente do que faz aquela catástrofe ambulante que é o Jailson Freitas (pior árbitro que já vi – quando sei que ele está escalado não vejo o jogo para não enfartar) e mesmo Lopo Garrido ou esse Aristeu Mercês que tornam a arbitragem do jogo de futebol algo parecido com o pólo aquático, em que se ouve o apito do árbitro paralisando a partida a cada 10 segundos. É insuportável assistir a jogos apitados por esse pessoal, principalmente para quem está acostumado a acompanhar o campeonato inglês, por exemplo. A arbitragem de Aristeu nesse último jogo do Bahia contra o Atlético de Alagoinhas foi algo lastimável. O retrato da pobreza técnica do árbitro se viu refletido no tempo de acréscimo no segundo tempo. Sem contar as substituições e outras interrupções, só de tempo perdido para atendimento do goleiro do Atlético foram 2 minutos contados e o atendimento a um jogador de linha do Atlético durou dos 40 aos 44 minutos, facilmente observáveis no cronômetro da TV que transmitia o jogo. E quanto tempo de acréscimo deu Aristeu? Foram só 3 míseros minutos! Além de ficar inventando e invertendo faltas, ele estava claramente amarrando o jogo. Esses árbitros ruins, sem inteligência e sem sensibilidade, estão comprometendo bastante o já cambaleante campeonato baiano. Deveriam pelo menos seguir o recado da Comissão de Árbitros da CBF que está no preâmbulo das Regras do Futebol: “Arbitrar bem é sentir o jogo para possibilitar seu desenvolvimento natural, somente interferindo para cumprimento das regras e, especialmente, de seu espírito”.

Por falar em tempo de jogo, alguém pode me explicar por que os nossos placares eletrônicos ainda continuam sem mostrar o tempo de jogo ou mesmo a hora? A gente vê aquele placar lá em Pituaçu, cheio de recurso tecnológico e tudo o que mostra durante o jogo é o mesmo que os antigos placares de madeira! Um desperdício. Alguém aí da FBF pode me dizer em que parte das recomendações atuais da FIFA ou CBF ainda consta aquela ridícula recomendação de coibir a presença “ostensiva” do cronômetro no placar eletrônico para não “pressionar” o árbitro? Acho que o pessoal da FIFA já detectou o ridículo dessa recomendação há algum tempo e simplesmente a omitiu, pois o que mais se vê nas competições da FIFA são placares eletrônicos ultramodernos mostrando tudo: tempo de jogo, hora, replay dos lances, e o escambau. Mas na Bahia não pode! É, nós somos especiais… Capaz de proibirem os torcedores de entrarem no estádio com os seus perigosos relógios de pulso e também vetarem que os locutores de rádio anunciem o tempo de jogo. Tudo para poupar o árbitro desse desconforto da confrontação com a realidade. Mas segue aí uma boa desculpa para o departamento de árbitros usar em favor dos seus comandados que insistirem marcar faltas que não vemos e em repor insuficientemente o tempo de jogo paralisado: a Teoria da Relatividade. É por causa dela que os árbitros podem sempre alegar uma percepção diferente dos eventos que captamos de maneira completamente diversa.

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