Hoje me surpreendi ao ler uma coluna da jornalista Miriam Leitão em seu blog na internet. Ela, que hoje em dia já foi convertida ao mercado e aproveita qualquer deslize para desancar o governo progressista de Lula, escreveu um artigo sobre os jovens que combateram a ditadura militar, em clara alusão ao passado da presidente eleita Dilma Roussef, e citou Ulysses Guimarães: a sociedade foi Rubens Paiva e não os facínoras que o mataram..
Em seu artigo, ela argumenta que os jovens que buscaram a luta armada só o fizeram por terem sido obrigados a isso pelo regime ditatorial de então, que impedia a participação política de quem não concordava com aquele governo. Grata surpresa, vinda de uma ex-guerrilheira que se converteu em porta voz dos que se locupletaram com a ditadura.
Segundo ela, naquela época, havia apenas duas escolhas possíveis: omissão ou enfrentamento armado. A maioria se omitia, como sempre, mas os mais afoitos cometeram atos que hoje seriam condenáveis. Apesar disso, os jovens eram as vítimas e os militares de então eram os algozes. Concordo plenamente com ela.
Da mesma maneira, poderá ser dito no futuro que a torcida do Bahia de hoje foi Rui Cordeiro e não os bárbaros que o agrediram fisicamente em uma reunião de conselho deliberativo, assim como a verdadeira torcida do Bahia foi Theodomiro e não os trogloditas que o agrediram verbalmente em uma assembléia geral de sócios em que é garantido ao sócio o direito de manifestação pelo próprio estatuto do clube.
O Bahia de hoje precisa ter os fundamentos do Estado democrático de Direito implantados no seu dia-a-dia, com respeito ao sócio e ao torcedor e com transparência e profissionalismo no trato de seus interesses.
Mas a realidade do Bahia é parecida com a de um morro como o do Alemão no Rio, em que o abandono da população pelo Estado durante três décadas permitiu que um poder paralelo ditasse o cotidiano de cidadãos reféns.
O Bahia também sofre o mesmo problema de abandono pelas autoridades que fingem não ver as intimidações feitas contra quem se opõe ao estado de coisas que vige no clube. Para mim, o Bahia, como o morro do Alemão, precisa de presença do Estado, já que seu problema é de abandono, pois é um território onde manda quem pode e obedece quem tem juízo, em que o estatuto só é respeitado quando justifica as ações da diretoria, parecido com os morros cariocas.
Com total serenidade, faço um questionamento à mídia, ao presidente do Bahia, aos seus dirigentes, ao ministério público, às autoridades e aos poderes constituídos do Estado democrático de direito do país em que vivemos: até quando permitirão que essas atrocidades e atentados contra a liberdade de expressão, à livre associação e à democracia sejam tolerados? Não percebem que as assembléias do Bahia e reuniões do conselho deliberativo começam a cheirar a sangue inocente? Vão esperar que as sete mortes da Fonte Nova se repitam para tomar uma atitude?
Merece um aparte para uma menção honrosa pelo comportamento nobre e condizente com o de sua profissão ao jornalista Éder Ferrari, que é uma das poucas vozes corajosas e independentes da mídia desportiva baiana. Parabéns, Éder Ferrari, por sua postura. Tenho certeza que sofre no momento com as reações hostis, mas lembre-se que a história guarda um lugar especial a protagonistas como você e que os que se vendem por trinta moedas também têm cadeira cativa na sarjeta do tempo. Citando Nietchze: quanto mais nos elevamos, menores parecemos aos olhos daqueles que não sabem voar.
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Gostaria de agradecer a Léo Bell pelos momentos de lazer proporcionados pelas canções de seu CD que ouvi durante este fim de semana na BR-324 com minha família e também na presença de alguns torcedores do vice. Momento inesquecível.
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Gostaria de aproveitar o espaço para pedir que os sócios patrimoniais e remidos que desejem fazer parte de uma chapa para o conselho deliberativo do Bahia entrassem em contato com o email [email protected] a fim de que possamos construir desde já uma alternativa ética e profissional ao modelo atual de gestão do clube.
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