Singular Maestria

O time do Bahia joga bem com os chamados titulares, e mesclado com alguns reservas mantém o nível. É simples verificar o “fenômeno”: no comando há um treinador que sabe valorizar o jogador e o ser humano, sabe ser simples e prático, nunca reclama da arbitragem e nem tem gestos intempestivos à margem do campo durante os jogos. É só equilíbrio e tranquilidade, como requer a sua função. Não improvisa jogador e se tem problemas sabe minimizá-los com humildade.

Perguntado por um repórter, após o jogo em Recife, o que ele fez para Arilton jogar um bom futebol, Márcio mais uma vez foi simples na resposta: “é o ser humano, né! Ele precisa de afeto, compreensão e a confiança das pessoas”. É a simplificação da vida. Ah, Márcio, se todos fossem iguais a você! Certamente o mundo seria diferente e a virtude da humildade não seria entendida por certas pessoas como submissão.

Tudo que acontece atualmente com o time de futebol do Bahia tem a singular maestria do Márcio Araújo. Mendes estava prestes a sair, o que seria até normal devido à não utilização do atleta, na prática. Márcio chegou e o resgatou, transmitiu-lhe a confiança necessária, a auto-estima do jogador ficou em alta e ele foi decisivo contra o Ipatinga, Vila Nova e Sport. E se mais não fez em Recife foi devido ao esquema tático circunstancial. Mendes está carimbando seu passaporte para a jornada tricolor em 2011.

Vander está firme e é titular absoluto por mérito. Hélder se firmou por ali e se alguém tiver que sair do time em função de alguma mudança tática, esse não será Hélder. Diego Corrêa chegou e amargou um pouco de ostracismo, agora é um reserva muito útil e seria titular se não existisse, porém, um certo Ávine. Vagner, de quase dispensado à reserva eficiente, foi mais uma valorização propiciada por Márcio.

Jogadores como Maurício, por exemplo, deverão ser relacionados por Márcio Araújo. Se já não estão é devido à quantidade de jogadores com qualidade numa mesma posição. É o chamado excesso necessário. Deduzo isto pelo critério de justiça que tem norteado o trabalho da comissão técnica do Tricolor sob a batuta do discreto, porém eficiente, Gestor de Futebol Paulo Angioni.

Quem duvidava da capacidade do atual time tricolor agora não duvida mais. O carro está nos trilhos e cerca de 70% – ainda não fiz essa conta – do caminho já foi percorrido. Agora é acabar com a síndrome de Pituaçu e encarar essa nova realidade chamada Primeira Divisão, que se aproxima a passos largos da nação tricolor.

Esse é o Bahia de Marcelo Filho, Tiago Cintra, Angioni, Motta, Márcio Araújo & Cia, onde tudo está funcionando a contento, para satisfação da grande nação tricolor. Muita gente me perguntava, em passado não distante, com bastante ironia, onde eu encontrava tanto otimismo para enxergar o Bahia que as pessoas não conseguiam ver dessa gestão. Agora essa gente sabe. É que eu costumo acreditar naquilo que os homens me dizem, até que eles consigam me provar ao contrário…

Não sou sábio, mas tenho a virtude da boa vontade para com o próximo, e isto me dá uma visão periférica e sensibilidade suficientes, capaz de enxergar a ostra dentro do lodo. Não chuto cachorro morto, e aos inimigos, se é que os tenho, dou-lhes a resposta do silêncio. A pequenez é um estado de espírito fracassado que sobrevive da sordidez. Enquanto que a grandeza é oriunda do seio de atitudes nobres que traduzem todo o estado de serenidade do ser humano.

xxx

Dr. José Curvelo.

Saudoso amigo que há 8 anos se transformou em saudade, cujos fragmentos atingem milhares de corações irmanados na lembrança desse homem singular. Sou um amigo próximo da família Curvelo, especialmente de D. Leda, Edgar, Zé, André e Marquinhos. É um convívio de mais de 25 anos, e orgulho-me de ter desfrutado da amizade sincera e constante do amigo José Curvelo. A sua paixão pelo Flamengo era flagrante. Dr. Curvelo foi um desportista de qualidade única, e um exemplo disso era o campo da Gráfica Oficial da Bahia – órgão que presidiu por muitos anos –, que ele tratava como se fosse o jardim da sua casa. Ali jogamos muitos anos, e, claro, ele sempre presente num dos gols. Agora tudo é somente uma saudade que não cessa nunca!