Passei esses dias todos lendo e ouvindo sobre “torcida única” que a princípio sou contra , e me esforcei para ver qual o lado vantajoso dessa via de duas mãos. Acho que segurança é um problema do governo e ele tem de resolver isto. O que não deve acontecer a essa altura da evolução de tudo as autoridades reunirem-se para discutir o lado aparentemente mais fácil e cômodo que seria optar por “torcida única”. Ainda bem que ela não veio, pois, viria para semear a discórdia e pavimentar a estrada dos desordeiros loucos pelo crime contra a cidadania.
Pra falar a verdade, jamais fui aos jogos entre Bahia e Vitória no Barradão, não me sinto seguro e nem à vontade, não só pelo fato da rivalidade entre as torcidas que historicamente no Barradão não tem sido nada agradável, mas também pelo entorno do estádio que não oferece segurança alguma e muito menos paz interior quando se leva, principalmente, algum familiar.
Quando me refiro ao entorno do estádio não é desqualificando famílias que residem no bairro, sim a geografia propícia para armadilhas dos bandidos, como furtos, assaltos, e até homicídios. Apesar dessas dificuldades históricas em Canabrava, acho que “torcida única” tira a beleza do espetáculo e detona uma tradição de unidade cidadã nas torcidas. Irmãos, casais, amigos, de um lado e do outro, vão juntos ao clássico com uniformes opostos e este é o lado exemplar do futebol da Bahia. Fazer diferente e copiando esse modelo apartheid quebraria uma tradição amistosa que sempre existiu por aqui.
Que bom que não deu certo. Seria meio monótono não ter com quem “sacanear” do outro lado do alambrado. Ainda bem que prevaleceu o bom senso e tudo volta ao normal, sem invenção. Os marginais e desordeiros infiltrados nas torcidas são outros quinhentos, é problema para a Polícia, é ela que tem de resolver com eficácia e sem camisa de clube algum como vimos recentemente pela TV um comandante de tropa humilhando torcedores tricolores no último jogo entre Bahia e Vitória na entrada do Barradão.
Agora vamos ao lado que me deixa indignado, que é o ato de prepotência com demonstração nada civilizada de poder da diretoria rubro-negra, quando destina um espaço pífio e desconfortável, que a torcida tricolor chama de “jaula”, e ainda se vangloria disso a diretoria rival. Acho que o campeonato é da FBF e é ela que autoriza ou não os estádios, determina e acontece, é a organizadora. Então, por que não obrigar o clube mandante tratar os visitantes civilizadamente com o conforto necessário, como manda o código do torcedor? Não é favor algum, porque o torcedor está pagando, é obrigação.
Os mictórios do Barradão, segundo relatos de torcedores, são deprimentes e revoltantes, como se já não bastasse o espaço destinado à torcida do Bahia ser mísero. E não precisa dizer que faz assim porque “a torcida do Bahia quebra tudo”. Não acredito. Mas se isso acontece é por revolta mesmo. Por outro lado, o tratamento de quem poderia dar tranquilidade ao torcedor, que é a Polícia, é de um absurdo que deixaria qualquer nazista feliz! A impressão que se tem é que alguém determina policiais torcedores para fazer um trabalho que apenas requer isenção para ser tranquilo. Se quem designa, mais acima, o comandante da tropa olhar esse detalhe, o torcedor cidadão vai se sentir tranquilo. São para esses detalhes que a Federação Bahiana de Futebol tem de estar atenta. Se quiser atentar, não é presidente Ednaldo?
Há cerca de um ano, um sobrinho meu me ligou na saída do Barradão perguntando se eu poderia fazer alguma coisa nesta coluna denunciando a forma truculenta como agem alguns policiais com o torcedor do Bahia na entrada e na saída do Barradão. E eles apenas estavam saindo do estádio comemorando como se faz em qualquer parte do mundo após um resultado favorável ao seu clube. Como se vê, parece que a maior queixa do torcedor tricolor é contra as acomodações lá dentro e os policiais do lado de fora.
Olhando a coisa por esse lado é que reflito sobre a civilidade e chego a pensar em convergir com quem acha que a “torcida única” seria uma boa. Mas declino dessa ideia estapafúrdia por entendê-la como uma aberração, já que só aumentaria mais o acirramento de ânimos na bestialidade, porque os conflitos inconsequentes acontecem fora do estádio. É onde as bestas agem e enlutam famílias, não raro.
Não é, portanto, “torcida única” a solução. A solução é o presidente do Vitória entender que a torcida do Bahia tem de ser respeitada, sem favor algum! A FBF e o próprio MP precisam interferir junto ao Vitória para mudar esse complexo de força e poder nefandos e destinar espaços dignos para a torcida tricolor, da mesma forma como eles têm em Pituaçu.
Agora vou mexer num vespeiro… As torcidas organizadas, e de lado a lado, precisam requalificar os seus contingentes. Não basta ser somente torcedor, tem de ter uma folha corrida digna de participar em sociedade. Não é quantidade que faz a qualidade, é a boa escolha dos seus componentes que faz uma torcida bonita e civilizada. Futebol tem de ser algo saudável em todas as suas vertentes. Não tenho dúvida quanto a participantes infiltrados nas organizadas para semear o crime e estabelecer um estado de terror constante entre as torcidas. É aí que têm de agir juntos os presidentes dessas organizadas e a polícia isenta.
“Torcida única” é possível quando se esgota todos os canais de entendimento, quando a violência domina o estado, quando no lugar do diálogo assume o comando a insensatez. Em minha opinião essas coisas ainda não acontecem na Bahia. É só o Ministério Público e a Polícia agirem em comum acordo e ostentarem o poder que lhes são conferidos em forma de lei na defesa da ordem e da democracia. O lazer é um dos direitos primordiais do cidadão, o que não pode é o justo pagar pelo pecador.
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