Podem acrescentar mais uma esquisitice pessoal à longa lista das que venho expondo aqui neste espaço virtual: eu gosto das segundas-feiras! Gosto principalmente da sensação de sobreviver a uma segunda-feira. De concluir que 1/5 (ou 20%) da semana útil já foi completado. De chegar em casa depois de um dia de trabalho e constatar que o bicho não era tão feio quanto se supunha, portanto irei sobreviver ao tripalium (essa expressão latina designa um instrumento de tortura dos antigos romanos que originou a palavra trabalho).
Gosto principalmente das segundas-feiras quando o Bahia não contaminou meu fim de semana com motivos para propor um suicídio em massa da nossa torcida ou homicídios qualificados dos responsáveis por nossos percalços. E essa segunda-feira foi, assim, um pouco mais leve para mim.
Não tive que aturar os rubro-negros me dirigindo olhares jocosos. Aliás, ultimamente os olhares deles vinham sendo até compungidos, quase solidários se isso fosse possível , mas eram no estilo não vale a pena chutar cachorro morto.
Tenho cá meus motivos otimistas para crer que o desastre iminente pode não se concretizar. Se não, vejamos:
– o Bahia finalmente ganhou fora de casa (tudo bem que foi da galinha-morta do Campinense, mas, do jeito que as coisas caminhavam, eu estava apreensivo até para enfrentar o nosso time sub-17 em Fernando de Noronha);
– o uniforme novo que, até então, não tinha trazido muita sorte, acabou funcionando (testamos a camisa tricolor com o meião branco, a camisa branca com o meião vermelho e acabamos acertando com a camisa branca e o meião branco não é que eu seja supersticioso, é questão de estética!);
– fizemos gol no primeiro tempo e não recuamos;
– depois do gol, Reinaldo Alagoano saiu vibrando, batendo no peito, puxando o escudo e a leitura labial que fiz revelou que ele estava dizendo: Eu sou f…! Eu sou Bahia!;
– fizemos gol no segundo tempo;
– o lateral Marcos finalmente concluiu produtivamente uma jogada de ataque após dar um corte pra dentro;
– só tomamos um gol por conta de uma falha assumida do nosso goleiro Marcelo, numa falta inexistente que foi marcada unicamente porque o juiz era insuportavelmente fraco;
– Ávine, apesar de não ter protagonizado nenhuma furada bisonha e de não ter acertado muito as cobranças de falta na esquerda, na direita, no meio, nem os escanteios na direita, para os quais ele é injustificada e temerariamente designado, acertou muito os arremessos laterais (ele devia entrar no time só pra fazer isso), além de ter-se empenhado como sempre, dando muita raça e suando a camisa (justiça lhe seja feita, mas não a ponto de lamentar muito a sua ausência no próximo jogo contra o Vasco);
– o técnico Paulo Comelli, que eu achava meio devagar, se mostrou surpreendentemente vibrante no banco, gritando, orientando, participando, enfim;
– apesar de um pouco tardias, foram feitas as substituições que deviam ser efetuadas naquele jogo;
– e, por fim, o retorno de Léo Medeiros me trouxe um estímulo renovado ele participou de menos de 10 minutos do jogo, mas uma virada de bola que fez, da esquerda para a direita, mostrou claramente que temos alguém no elenco que sabe acertar um passe de mais de 2 metros. Alguém que sabe realmente jogar bola! Se fosse Ávine o autor dessa tentativa de virada de bola, hoje estaríamos comemorando os 40 anos da chegada de um humano à Lua, com um artefato brasileiro no formato de bola de futebol orbitando aquele satélite.
A alegria com tão pouco foi tanta, que até esqueci as falhas de marcação, os passes errados, as poucas chances de gol criadas, a tentativa de cera precoce do nosso goleiro diante de adversário tão frágil, as declarações dos jogadores no intervalo de que se deveria administrar o resultado (em vez de tentar ampliar o marcador).
Então é isso. Estou aliviado e um pouco esperançoso. De que iremos sair da segunda divisão? Não necessariamente (será mais uma espera do que uma esperança). O que me alenta é a ilusão de ter amiúde um ânimo melhor para ir e vir do trabalho às segundas.
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