Todos já devem ter ouvido aquele clichê que afirma que “futebol é muito mais que um jogo“. Essa frase, amplamente utilizada pelos amantes da bola, geralmente vem acompanhada de um vídeo comovente sobre torcedores, jogadores ou algum lance que provavelmente entrou para a história do esporte. O pior — ou melhor — nisso tudo é que essa frase, apesar de saturada, é verdadeira e faz muito sentido.
Sou um cara que olha para as coisas com paixão. Em uma partida, por exemplo, costumo prestar mais atenção na parte sentimental do jogo do que na tática. Vejo cada passe, chute, dividida e drible como se fossem versos de uma poesia.
Por ser mais que um jogo, o futebol pode ter diferentes significados. Sendo assim, é nesse esporte onde encontro a minha essência poética porque ele também é lindo, triste, feliz e feio. Tudo isso ao mesmo tempo e em todos os lugares. Uma única partida transmite sentimentos diferentes para cada um que está assistindo; da mesma forma que um gol marcado causa angústia em uns, ele também causa alívio em outros.
E nesse atual elenco do Bahia, Cauly é o jogador que me faz enxergar as linhas do campo como se fossem versos de uma poesia. Sua “elegância sutil” (parafraseando Caetano Veloso), é capaz de exibir aos espectadores toda a plasticidade e beleza existente nesse esporte. Seja de um drible curto a um passe longo para infiltração do companheiro, ele faz com que seja possível enxergar uma linda expressão de sentimentos na trajetória da bola que está em domínio de seus pés.
Cauly não somente joga futebol, ele faz artes com os pés e tem o poder de transformar rostos sérios e apreensivos em faces sorridentes cujos sorrisos vão de uma orelha a outra. Um raro poder que, se levado para o mundo ficcional, se assemelha ao de Joy Boy: um guerreiro do mundo antigo que, através de seu estilo de luta, conseguia fazer com que as pessoas ao seu redor esbanjassem sorrisos, alguém responsável por trazer a libertação a povos oprimidos e os levar para um novo alvorecer repleto de esperanças.
Joy Boy é apenas um título dado a este guerreiro dentro do mundo de One Piece, mas se fosse real, Cauly certamente seria o Joy Boy do Bahia. Digo isso pois em um momento em que estamos aflitos com a possibilidade de mais um rebaixamento, Cauly é o cara que nos faz acreditar que ainda é possível ser feliz com esse esporte. O nosso camisa oito é um poeta da bola, um guerreiro místico que, por meio dos seus pés, mostra a todos que nunca se pode duvidar do Bahia.
A exibição poética de Cauly em campo também é capaz de influenciar todo o ambiente ao seu redor. Sua finta desconcertante faz com que milhares de vozes ecoem na arquibancada, seu passe preciso parece ajudar no tremular das bandeiras e seu gol transforma o ambiente em uma fonte repleta de sorrisos e alegria.
Mesmo voltando de lesão e saindo de campo ainda na metade do segundo tempo, Cauly conseguiu dar duas assistências e marcar um golaço que infelizmente foi anulado. Uma exibição capaz de provar seu valor e reforçar a tese de que o time é diferente quando ele está por perto.
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