O radialista Mário Kértesz tricolor apaixonado repete sempre em seus programas da Rádio Metrópole uma frase atribuída ao ex-governador Octávio Mangabeira: Pense num absurdo, na Bahia há precedente. Com a devida licença, poderíamos alterar a frase para: Pense num absurdo, no Bahia há precedente.
Senão vejamos: como explicar um banqueiro, com o potencial explosivo de Daniel Dantas, que ameaça derrubar até a República, miar como um gatinho para os cartolas que são os donos do Bahia?
Desde o surgimento do primeiro banco nascido de forma empresarial o Banco de São Jorge, em Roma, fundado no ano 1148 talvez seja a primeira vez na história universal da economia que um banqueiro toma uma rasteira de um cartola. E o que é pior: de um bando de cartolas chinfrins.
Franklin Foer, autor do livro “Como o futebol explica o mundo: um olhar inesperado sobre a globalização”, conta que desde 1992, com a parceria Parmalat-Palmeiras, houve várias tentativas de aproximação entre o capital internacional e o futebol local, visto como de grande potencial por muitos conglomerados transnacionais: Hicks, Muse, Tate & Furst, todos jogaram milhões de dólares em times brasileiros. Menos de três anos após chegarem triunfantes ao Brasil, os investidores estrangeiros saíram falidos. O problema era que esse movimento de modernização tinha de lidar com estruturas arcaicas, os cartolas, e essa mistura entre capital e corrupção não funcionou.
A sociedade Bahia-Banco Opportunity é a prova inequívoca dessa liga que não deu certo. O Banco investiu R$ 12 milhões para sanar as finanças tricolores e profissionalizar a gestão do clube, mas permitiu que o comando ficasse nas mãos de gente inepta e medíocre. O resultado é esse desastre a que assistimos impassíveis: humilhação sobre humilhação e uma dívida impagável de R$ 52 milhões.
E quando você pensa que o festival de besteiras que assola o Bahia já acabou, surge um fato novo. O time vai ficar quase dois meses sem jogar, mas o que não falta é mote para se antever um novo fiasco. Repetindo o que o ecbahia já havia posto na seção Sobe e Desce, infelizmente os donos do Fazendão adotam, na íntegra, a Lei de Murphy: “nada está tão ruim que não possa piorar”.
A última dos cartolas do Alto de Itinga inverte completamente qualquer política de valorização dos recursos humanos, as próprias relações trabalhistas e, até mesmo, toda a lógica do sistema capitalista, onde, historicamente, o trabalho se submete ao capital.
No Bahia, meu caro amigo, foi um funcionário que inverteu a lógica e impôs exigências para permanecer no clube: regularização dos salários de atletas e funcionários, além de melhorias na concentração do clube.
Ou seja: o treinador Mauro Fernandes exigiu aquilo que deveria ser obrigação da diretoria, que está desde novembro no clube com a mesma política torta de empurrar com a barriga pra ver se dar certo, prática, aliás, instaurada no clube há mais de 30 anos.
Da última vez que comandou o Bahia, em 2003, circulavam notícias de que o mestre Evaristo de Macedo não só cuidava do time, mas até da cozinha da concentração. E devia tomar conta porque o clube desde então era uma autêntica casa da mãe joana…
Em 2004, quando existiu um mínimo de organização no Tricolor, sob o comando de Walter Teles e Miguel Kertzman, e a condução magistral de Oswaldo Alvarez, o Vadão, a temporada foi planejada, as contratações foram criteriosas e o time foi competitivo, chegando às finais da Série B.
No início de 2005, o treinador Hélio dos Anjos, em uma entrevista, disse que o Bahia tinha problemas na alimentação. Ninguém deu importância às palavras dele, mas ficava evidente que o ambiente e as condições de trabalho no Fazendão eram péssimos.
Jair Picerni, treinador experimentado e vitorioso (Ponte Preta, Santo André, Corinthians, Sport, Nacional-POR, União São João, Botafogo de Ribeirão Preto, Paysandu, São Caetano, Guarani, Palmeiras, Atlético Mineiro e Seleção Brasileira Olímpica de 1984) ficou menos de um mês no Fazendão: chegou no dia 13 de junho de 2005 e foi embora em 9 de julho, após a derrota para o Marília, por 2×0, na Fonte Nova. Por quê? Algumas das vozes oficiais ofenderam o treinador, mas jamais investigaram a podridão e a bagunça que reinava em Itinga.
Agora, Mauro Fernandes a quem não conheço, mas que pelas ações me parece ser um profissional, na acepção mais exata da palavra tenta colocar ordem na casa. E profissional que se respeita deve fazer isso, sem comungar com a mediocridade e com a visão caolha de quem não quer plantar, mas quer colher bons resultados.
Todo poder, portanto, a Mauro Fernandes, que com as suas exigências, seu profissionalismo e seu compromisso com o desempenho e a qualidade, possam dar um rumo ao Bahia coisa que essa diretoria inepta, confusa e medíocre não faz. Vida longa ao novo imperador do Bahia!
XXX
O título de campeão baiano 2006 do Colo Colo justo e merecido – é a prova inequívoca de que o futebol não é só dinheiro: é organização, coletividade, profissionalismo, determinação. Com uma folha total que não passa de R$ 30 mil, o auri-azul da Terra de Gabriela deu um banho de competência nos incompetentes cartolas do Bahia. Salve o Colo Colo campeão, expressão mais verdadeira, da profunda beleza de São Jorge dos Ilhéus.
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