Escrevo este tempo pouco tempo após a derrota do Bahia contra o Independiente. Penso que o Bahia fez um bom jogo, com excelentes 15 minutos iniciais e ótimo segundo tempo, principalmente enquanto houve fôlego nos titulares. Como geralmente faço após jogos importantes, troquei ideias sobre o jogo com amigos tricolores e dei uma olhada nas famigeradas redes sociais.
Algumas postagens me chamaram a atenção. Não estou falando de postagens irracionais, porque essas, a duras penas, consigo ignorar. Mas algumas, de pessoas inteligentes, me fizeram pensar um pouco. Ainda que não concorde. Uma delas trouxe o histórico do Bahia em algumas competições, trazendo as eliminações do Bahia nas quartas de final das Copas do Brasil em 2018 e 2019 para Palmeiras e Grêmio, assim como aquela sofrida eliminação para o Athletico na Sula de 2018, perguntando/desabafando de que adiantaria jogar bem e não se classificar, já que futebol seria competência. Em seguida conclui que já passou da hora de ter resultados.
De tempos em tempos nos deparamos com esta sobreposição “desempenho x resultados”, como se estes fatores estivessem dissociados. Primeiro, o que é jogar bem? É algo muito subjetivo. Eu vejo “jogar bem” como aplicar em campo as ideias que foram treinadas. Ou seja, se determinado time treina para ter um jogo reativo, sair sempre no contra-ataque, usar marcação baixa, explorar as bolas paradas e consegue executar estas ideias, penso que ele “jogou bem”, ainda que não goste daquele modelo de jogo. Na minha visão, a mesma coisa ocorre se um time treina para ter o controle do jogo, para recuperar a bola rapidamente após a perda, buscar a construção das jogadas através da troca de passes e consegue executar isso no jogo.
A questão é que, muitas vezes, os dois times conseguem executar aquilo que treinaram. Ou seja: os dois times podem jogar bem. Ainda assim, nestes casos, apenas um sairá vencedor, afinal, é esporte.
O que quero dizer com isso? Que o resultado depende de uma série de coisas além do desempenho, além do “jogar bem”. Acho muito simplista fazer essa associação direta e de forma que julgo simplória. Contudo, me parece claro que um time organizado, capaz de executar no campo o modelo de jogo que é treinado, sempre estará mais perto do triunfo do que um time bagunçado, que vive do acaso. Pessoalmente, até acho que há modelos de jogo que são mais capazes de trazer resultado, mas aí é crença pessoal e não vem ao caso.
O primeiro tempo do jogo de ontem diz muito sobre meu argumento do que seria jogar bem. Afinal, nos primeiros 15 ou 20 minutos, vimos um Bahia que conseguia colocar em prática seu jogo, alternando momentos de mais trocas de passes com tramas rápidas pela direita. A questão é que estava um pouco espalhado em campo, com a primeira linha muito distante da última, o que deva espaços para o Independiente, que é um time que joga em transição. O próprio comentarista trouxe um dado, segundo o qual o time argentino teve menos posse do que seus adversários nos últimos 5 jogos. Quando houve esse encaixe dos contra-golpes do Independiente, penso que o Bahia sentiu e acabou recuando. Daí veio um domínio do Independiente, sem muita reação tricolor, ainda que os argentinos não tenham criado tanto na primeira etapa.
No segundo tempo, principalmente nos primeiros 30 minutos, vimos um domínio completo das ações pelo time tricolor. Alguém diria que o Bahia não jogou bem nos primeiros 30 minutos do segundo tempo contra o Independiente? Não vejo como. O gol não veio. Isso é péssimo, de fato. O que a comissão técnica tem que fazer é entender porque ele não surgiu e fazer ajustes. Mas não dá, penso eu, para crucificar.
O Bahia perdeu no detalhe. Perder no detalhe talvez seja ainda mais doído, mas eu penso que isso dá um alento de que coisas melhores podem acontecer. Vejam que o torcedor tricolor que fez o tuíte no qual me baseio citou três quartas de final em 2 anos. Ainda tivemos quartas de final no ano passado, pela Sula, quando fomos eliminados pelos argentinos que acabaram se sagrando campeões, o que nos coloca em quartas de final em competições nacionais e internacionais nos últimos 03 anos.
O Bahia tem que continuar nesta toada de crescimento, continuar frequentando estas etapas. Lembremos da Copa do Nordeste. Ganhamos em 2017, após uma final perdida em 2015 e uma eliminação numa semi-final em 2016. Nos 04 anos seguintes (2018-2021), tirando o vexame de 2019 (fomos eliminados na primeira fase) estivemos nas finais em todos os anos, perdendo duas e finalmente ganhando uma em 2021.
A constância acaba trazendo resultados. Se o time começar a frequentar as fases mais avançadas das competições, uma cultura começa a ser formada. Essa constância associada a bons times, a bons desempenhos, aumenta a possibilidade de, em algum momento, obter resultados. E, por resultados, hoje, diria que romper as quartas e começar a chegar em semi-finais de competições como estas, em algum momento, já seria uma nova evolução. O passo seguinte seria conseguir disputar uma Libertadores, quem sabe chegar a uma final e, finalmente, ainda que seja um sonho difícil, um título.
Um grande exemplo que gosto de citar é o Athletico. Antes de finalmente conquistar a Copa do Brasil em 2019, foram finalistas derrotados em 2013. Antes de chegar à final de 2013 foi quadrifinalista em 2011 e 2012. Entre as duas finais, também frequentou esta fase em 2017 e nos outros anos sempre chegou até as oitavas. Em nível internacional, de 2000 pra cá foram 15 participações em Sulamericana e Libertadores. Até conquistar o título em 2018, chegou a perder uma final de Libertadores em 2005. Ou seja: os resultados não foram imediatos mas vieram.
O Bahia vem voltando a crescer. Na última década (2010-19) estivemos na Série A em 07 anos e disputamos a Sulamericana em 06 anos. No fim da década passada veio a democracia. Na era democrática voltamos a disputar a Série A e já vamos para o 5º campeonato seguido de volta à elite, recorde para um time nordestino na era dos pontos corridos. É o primeiro passo para retomar a grandeza construída até os anos 90. Como mostrado, nos últimos 03 anos, já são 04 quartas de final de final de Copa do Brasil e Sulamericana. Pra mim, o caminho certo está sendo trilhado.
Com relação ao time atual, vejo um Bahia seguro, fruto do que julgo ser um bom trabalho de Dado Cavalcanti. Tem coisa pra arrumar, como por exemplo o espaço entre a primeira e a segunda linha, que já melhorou bastante no 2º tempo do último jogo. No próprio elenco ainda há coisas há melhorar. Temos um time torto, meio assimétrico pro lado esquerdo, tanto na fase ofensiva quanto na defensiva. É comum ver Rodriguinho fechando o lado esquerdo, o que, me parece, atrapalha o jogo dele. Mas já há um caminho. Acredito que, com continuidade, a médio e longo prazo os resultados virão.
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