Em março último, após a goleada contra o Sport, eu torcia aqui para que enfrentássemos o Ceará, à época tido como exemplo de planejamento e contratações pela torcida tricolor. Além, claro, de detentor de um tabu que perdurava desde 2018, sem sofrer derrotas perante nosso esquadrão.
Quis o destino que a final da Copa do Nordeste colocasse frente-a-frente as duas maiores forças do futebol nordestino. Por um lado, o Bahia machucado pela campanha no Brasileirão passado, em que disputou o não-rebaixamento por quase todas as rodadas. Mais que isso, um time que enfrentava a desconfiança de seus torcedores, escaldados com reforços que não deram certo na última temporada e com a falta de competitividade da equipe, principalmente em jogos decisivos. De sobremesa, um técnico pouco experiente, que tem no comando do Bahia seu trabalho de maior expressão e tem a responsabilidade de refazer o time tricolor, vivendo um processo de transição entre o elenco de 2020 e o de 2021.
Por outro lado, o Ceará, a sensação regional do Brasileirão de 2020, defendendo a manutenção da taça da Copa do Nordeste, a “Orelhuda”, conquistada justamente diante do tricolor, em pleno Pituaço. Não é exagero dizer que o clube cearense vive o maior momento de sua história, disputando pela primeira vez um torneio internacional (Copa Sulamericana). O alvinegro de Porangabussu chegou às finais, defendendo a possibilidade de alcançar um bi-campeonato invicto, com a defesa menos vazada, com apenas 3 gols sofridos.
Com esse retrospecto dos dois times, o enredo imaginado pela quase unanimidade dos analistas esportivos indicava o favoritismo do Vovô, que foi ampliado com o resultado do primeiro jogo na Arena Fonte Nova e com os desfalques que o Bahia teria para a partida derradeira na Arena Castelão, em Fortaleza (Nino, Luiz Otávio e Patrick). Para piorar a situação do tricolor, o meio da semana foi marcado por um empate diante do Independiente argentino, complicando o caminho do Bahia na Copa Sulamericana. Não bastasse a adversidade do placar, fatores extra-campo se somaram, com parte da torcida criticando (chegando mesmo a agredir nas redes sociais) o artilheiro Gilberto, por conta do pênalti perdido nesse jogo.
Mas, como diria minha avó, quem morre de véspera é peru (em um determinado lugar de Salvador, é a galinha, mas esta é outra estória…) e o Bahia resolveu fazer uma reviravolta nesse enredo, quebrando diversos tabus num jogo só. Primeiro, rompemos a invencibilidade de oito jogos do alvinegro cearense diante do tricolor. Segundo, interrompemos a série de cinco triunfos do Ceará, em finais da Copa do Nordeste contra o Bahia. Terceiro, a equipe principal venceu sua primeira partida fora de casa na Copa do Nordeste. Por fim, trouxemos um título de expressão para a gestão Bellintani, até então marcada por fracassos nas disputas de títulos que não o estadual.
Acima de tudo, a partida serviu para mostrar que o caminho escolhido por Dado Cavalcanti não só já deu um bom fruto, como pode trazer de volta a alegria ao torcedor tricolor, com boas apresentações e resultados expressivos. Muito da consistência do time vem de uma característica do treinador: armar o time de acordo com as peças disponíveis e não fazer com que os jogadores adaptem suas características ao padrão de jogo desejado pelo comandante. Ficou demonstrado também que as contratações agregaram qualidade ao elenco. Como exemplo, podemos citar a nossa defesa, antes tão criticada, e agora apresentando segurança, até quando não temos todas as peças titulares.
O Bahia fez uma partida épica e não faltaram heróis. Matheus Teixeira, Rodriguinho e Gilberto foram os visíveis, mas jogadores como Renan Guedes, Galdezani, Conti e Juninho deram sua contribuição para a conquista do título. Merecidamente, a “Orelhuda é nossa! BBMP!!
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