Perfeitamente compreensível a busca pelo bode expiatório em tempos de crises técnicas num clube de futebol. No Bahia não é diferente, afinal as coisas ainda não se encaixaram e o risco de descenso é iminente. Desse mal não sofre só o Tricolor da Boa Terra: sofre o Cruzeiro; sofre o Vasco; sofre o Goiás; sofre o Santos; sofreu o Inter; sofreu o Corinthians e até o Cuiabá, este, graças a própria competência de saber jogar o jogo se distanciou do precipício.
Todos têm os seus demônios nesse contexto de dificuldades, e no caso do Bahia especialmente, o demônio ainda continua sendo português, não abrasileirou ainda. É assim que vejo. Não vejo absolutismo na culpa de uma só pessoa, há outros culpados sem rostos. Na verdade, o que acontece ao Bahia é a falta de um gerenciador para esse tipo de crise instalada desde quando a própria língua do ex-treinador Tricolor passou a depor contra ele mesmo. Ali, naquele momento, esse gerenciador deveria entrar em ação porque os jogadores também são culpados, e mais acima deles outros também por não saberem cuidar do estado psíquico desses jogadores.
Tem jogos que são atípicos por si só, e num momento em que o estado mental do grupo está visivelmente abalado, fatos que vem acontecendo como por exemplo no jogo contra o Cuiabá, a descrença se assenhora do time e compromete fatalmente a performance técnica perdendo completamente o sentido reativo. O time do Bahia está fervendo numa panela de pressão sem fogo. O medo é quem o está cozinhando. Entrou nessa condição pela deficiência psicológica e pela falta desse gerenciador de crises. Rogério Ceni é quem está trabalhando muito nesse gerenciamento, mas pegou o barco fazendo água já distante da Costa – na 23ª rodada.
Achei muito corajosa a decisão de Rogério assumir o Bahia a três meses do fim da temporada e com o time na beira do precipício. Mas o projeto City lhe atraiu tanto que ele arrumou as malas e cá está. Por enquanto vai passando incólume às críticas mais ostensivas. Entretanto, o torcedor, que na verdade não tem a obrigação de analisar pormenores, posto que já exerce uma função excepcional nas arquibancadas, que o desgasta ao extremo, pode começar a se emprenhar pelos ouvidos nesse turbilhão de informações estéreis e sair à procura desse bode expiatório, que pode ser Rogério, logo ali mais à frente.
A minha parte mais coerente me conta que a discussão sobre a aprovação do modelo do contrato entre o E.C. Bahia x City Football Group foi o principal obstáculo ao planejamento do Departamento de Futebol porque o que deveria ter começado na metade de 2022 só começou em janeiro deste ano. Além de tudo isso seguiu a multiplicidade administrativa discutindo a transição porque havia pendências a serem resolvidas. Tanto assim, que o City Group só assumiu definitivamente o clube quase na metade deste ano.
O time do Bahia que começou a temporada em janeiro é muito diferente do atual porque a sua montagem seguiu acontecendo no desenrolar das competições e só parou em setembro. Há que se acrescentar o fato dessa rotina vir acontecendo sem a devida garantia de uma transição tranquila, já que, inclusive, chegaram a especular uma possível “melada” no negócio. Querendo ou não, essas nuances atrapalharam em muito a elaboração de um planejamento adequado.
Não entendo alguém se dizer enganado, pois, no dia da “entrega das chaves” foi dito pelo CEO do Grupo City, Ferran Soriano, em bom português, que a busca seria pela estabilização neste ano e que essa viria com paciência e sofrimento, porém, o objetivo seria manter o Bahia na Primeira Divisão. Portanto, o que estamos vivenciando faz parte de uma busca por essa estabilidade que está sendo muito sofrida. Se o time fizer o papel que deve, não haverá descenso porque o Bahia só depende dele – a torcida contra o Cruzeiro é devida à desconfiança do torcedor. Matematicamente o Bahia se classifica independentemente de terceiros.
Planejamento no estrito senso da palavra é muito difícil dentro de uma transição com várias minúcias em detalhes. Entretanto, se faltou esse planejamento, a meu ver, foi não contratar um diretor conhecedor do potencial brasileiro nos seus mais distintos rincões, para montar esse elenco. Foi nesse ponto que achei equivocada a deslocação de Santoro para diretor de futebol e a contratação de Renato Paiva. Deveriam ter chegado, respectivamente, Rogério Ceni e João Paulo Barbosa, treinador e diretor de futebol. Posso garantir que a situação seria completamente diferente. Não sei se à época Ceni foi cogitado pelo Bahia, mas João Paulo eu posso afirmar que foi com certeza. Não só cogitado, João esteve bem próximo do Bahia. O porquê da interrupção da negociação, desconheço.
Então é continuar dando muita força para o grupo de jogadores e Rogério Ceni. Acho uma tolice o torcedor estigmatizar os jogadores que hoje estão no Bahia. É claro que alguns nem deveriam ter vindo, mas a maioria deveria sim estar aí, como de fato está. A própria torcida aprovou essa maioria a qual me refiro. O time não é esse patinho feio que agora dizem ser. Ouvi outros comentários após o jogo contra o Goiás e contra o Grêmio – apesar da derrota. Portanto, conhecendo o Bahia como conheço, sabendo do que ele é capaz, é que prefiro ver o copo meio cheio, a meio vazio.
“Não penso em todas as desgraças, mas em toda a beleza que ainda existe” – Anne Frank.
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