é goleada tricolor na internet
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Publicada em 24 de janeiro de 2009 às 00:00 por Autor Genérico

Autor Genérico

Pituaçu, onças pintadas, Mata Atlântica e estacionamentos

Curiosidade: algum promotor mora no Alphaville da Paralela? Algum juiz do Tribunal Regional Federal da Bahia comprou imóvel no condomínio Le Parc, igualmente na Paralela? Pois saibam que para fazer aquilo ali se derrubou milhares de árvores, todas remanescentes de Mata Atlântica. Ali, sim, o desequilíbrio ecológico gerado foi tão grande que resultou numa infestação de insetos, inclusive barbeiros, que já afastou diversos moradores. Toda a cidade sabe disso.

Então, senhores togados tão dedicados à defesa dos interesses populares, interditem imediatamente esses dois condomínios de luxo da cidade. Mas, já estão prontos, já tem gente morando!!!? E daí? O estádio de Pituaçu, que derrubou muito menos árvores do que os referidos trambolhos imobiliários, também já está pronto e custou quase R$ 60 milhões do dinheiro público. Ou senão, que história é essa de dois pesos e duas medidas? Pituaçu não pode e Alphaville pode?

Ora, bolas, nos batam um abacate… Vivemos numa cidade onde são permitidas agressões ambientais de todo tipo, onde circulam milhares de veículos, inclusive transporte público, barrunfando monóxido de carbono pelos escapamentos sem que ninguém se dê ao cuidado de tomar qualquer providência. Isso também pode. O que não pode é a torcida do Bahia comparecer aos jogos do seu clube.

Pergunto eu: onde está a defesa dos interesses da população? Alguém consultou a população para saber? Defender os interesses do povo e do meio ambiente é interditar uma obra que já está pronta, que é de primeira qualidade e que custou dinheiro deste próprio povo? Faço minhas as palavras do governador Jaques Wagner, que perguntou por que só agora, às vésperas da inauguração desse importante equipamento, é que os defensores do povo e da Mata Atlântica se apresentam? O governador considerou uma atitude intempestiva e leviana. Concordo com ele.

Outra coisa assustadora que li nos jornais desta semana é que, uma vez interditado o estádio, não se poderá realizar ali mais nenhum tipo de obra ou intervenção. Ou seja: identifica-se problemas, por causa disso interdita-se um equipamento público e, ao mesmo tempo, proíbe-se o poder público de realizar qualquer ação para solucionar esses supostos problemas. Que história é essa? Virou brincadeira? Querem fazer de Pituaçu mais uma das ruínas abandonadas que povoam nossa cidade – como as barracas de praia, também embarreiradas há anos por questões judiciais e que continuam enfeiando a orla marítima de uma cidade voltada para o turismo sem que a Prefeitura ou quem quer que seja possam tomar qualquer atitude.

Cabe perguntar, também, se no local onde foi construído o Barradão havia árvores ou era só um deserto cercado por montanhas de lixo? Pois lembro aos senhores que havia árvores e que eram todas remanescentes de Mata Atlântica. Atenção, portanto, ambientalistas de ocasião: degradaram intoleravelmente aquela área. Façam alguma coisa. Eu e um grande número de cidadãos de Salvador sentimo-nos prejudicados, mal podemos respirar depois que naquela região da cidade puseram abaixo tão importantes e atlânticos pés de pau.

Então, é preciso ação do Ministério Público – que hoje governa, manda, desmanda e remanda, acima de qualquer autoridade eleita pelo povo para governar. É necessário que tão diligentes promotores, que tão ágil e eficiente Justiça atue de imediato no sentido de dar um basta a essa verdadeira agressão à Mata Atlântica, de proteger os direitos da população.

Tudo isso sem falar nessa história de falta de vagas para estacionamento. Nos shows do Wet’n Wild tem vagas para estacionar? E no Festival de Verão tem vaga para estacionar? E no Carnaval, tem vaga para estacionar? Não tem, nunca teve e nem nunca vai ter. Que se defenda, portanto, os interesses da população. Que se limite a quatro mil pessoas os freqüentadores dos shows no Wet’n Wild? Que se limite a 10 mil pessoas o público do Parque de Exposições no Festival de Verão. Que se limite a quatro mil o número de torcedores no Barradão. E, principalmente, que não se admita mais de 200 mil pessoas nas ruas no Carnaval. A infra-estrutura da cidade não permite mais do que isso.

Finalmente, um aviso: um grupo de torcedores do Bahia, entre os quais me incluo, está se organizando e vai pedir o apoio do vice-presidente jurídico do clube, o competente advogado Ademir Ismerin, para entrar com uma ação popular buscando, em caráter liminar, resolver todos os problemas acima mencionados. Queremos interditar, de imediato, o condomínio Alphville e as obras do Le Parc, o Wet’n Wild, o Parque de Exposições e o Barradão. Além de proibir a realização do Carnaval nos moldes em que está previsto – não poderão circular os infernais trios elétricos e sua poluição sonora eletrônica, só estarão liberados afoxés, blocos afro, blocos de índio, as Muquiranas e a Mudança do Garcia.

Como uma torcida responsável que somos, nós tricolores não poderíamos deixar de prestar este serviço aos defensores da população, aos arautos da livre circulação de veículos na cidade e aos militantes em defesa de todos os remanescentes de Mata Atlântica que existam, tenham existido ou venham a existir. Além, é claro, de micos leões dourados, jacarés-de-papo-amarelo, araras azuis, tartarugas marinhas, baleias jubarte, tamanduás-bandeira ou onças pintadas que eventualmente estejam circulando por nossa tão aprazível e desprotegida Salvador.

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