Saudações Nação Tricolor! Conforme prometido na última quinzena, trataremos desta vez da postura da diretoria Tricolor em relação às contratações para formação do elenco Tricolor. Não é novidade para ninguém que desde o ano de 2000, a diretoria Tricolor adotou a polêmica política “pés-no-chão”. Esta política tem sido criticada desde então pela grande maioria de Tricolores que terminaram apelidando a referida política de “pé-de-chinelo” numa alusão à teórica baixa qualidade das contratações. Quem estaria com a razão, a diretoria ou a grande maioria da torcida ? Vamos iniciar uma análise lógica e não-passional desta questão. Primeiro vamos abandonar os rótulos e procurar definir no que consiste a política de contratações adotada pela diretoria Tricolor. Bem, nada mais significa que gastar de acordo com o faturamento do clube. É mais ou menos como cada de um nós faz no nosso dia-a-dia. Se eu ganho R$ 200,00 não posso e não devo gastar R$ 1.000,00. Eu procuro fazer isto com meu orçamento doméstico e muitos leitores certamente o fazem. Muitas pequenas e médias empresas também seguem esta linha para definir suas políticas de investimentos. Principalmente com a situação econômica do mundo (não apenas do Brasil), não dá para correr grandes riscos, quando o capital de giro é escasso. Analisando deste ponto de vista, a atitude da direção Tricolor em não contratar o que não pode pagar é das mais sensatas e corretas. Creio que ninguém em sã consciência consiga argumentar contra esta postura.
Talvez o torcedor Tricolor esteja mal-acostumado com a velha tradição da diretoria Tricolor em contratar times inteiros às vésperas de campeonatos, endividando irresponsavelmente o clube. Sempre foi assim ! Mas qual foi o resultado desta política suicida ? Foi o rebaixamento à segunda divisão em 1997 e o fracasso no retorno à primeira em 1998 e 1999 com um time que, teoricamente, era superior ao atual. Ou seja, mesmo iniciando a competição com uma equipe com maior índice de aprovação que a atual, o fracasso foi desastroso naquele ano de 1999. Amigo Tricolor, você que é trabalhador, que sustenta uma família, me diga sinceramente: qual seria sua postura se ficasse 2,3, 4 ou até mais meses sem receber salário ? Como se sentiria quando visse seus filhos com fome e não tendo o que fazer ? Qual seria sua motivação para acordar a cada dia e ir trabalhar ? Pois é … Os times resultantes das atitudes irresponsáveis cometidas durante anos, mas com reflexos nefastos na década de 90, padeciam deste mal. Jogadores com bons contratos, mas que não recebiam. Isto desmotiva qualquer equipe e gera uma série de problemas na justiça trabalhista para o clube. O torcedor pode estar se perguntando: como não tem dinheiro para pagar, se somos sempre campeões em público e renda na maioria das competições ? Pois é, isto poderia ser uma contradição nos anos 70 e talvez até nos anos 80. Mas o futebol mundial mudou nos anos 90. O velho bordão “pode contratar que a torcida paga”, não funciona mais. Isto porque, hoje, o faturamento advindo de renda de jogos é a quarta ou quinta principal receita de um clube. Antes esta era a principal receita dos clubes. Com isto, a única forma de “a torcida pagar” seria majorar absurdamente os já caros preços de ingressos. O que terminaria surtindo pouco efeito, levando em consideração o poder aquisitivo da maioria da Nação Tricolor que ficaria impedida de comparecer em massa à Fonte Tricolor. Outro argumento que pode ser levantado é que a torcida também “paga” quando adquire produtos com a marca do Bahia. Aqui entra um sério problema que todos os clubes brasileiros enfrentam: a pirataria. Infelizmente, a maioria dos produtos vendidos com a marca de clubes de futebol, especialmente os mais baratos, é pirata. Isto significa que o clube não recebe um centavo ! O BAHIA, desde que profissionalizou seu setor de marketing, tem feito enormes esforços para combater a pirataria, através de uma grande organização sobre licenciamento de produtos e revendas. Atualmente, somos um dos clubes mais organizados nesta questão. Mas a pirataria é uma coisa muito difícil de ser combatida num país de população pobre como o nosso. Basta observar a questão da pirataria de CDs para se ter uma idéia da dificuldade. Resumindo: a torcida não consegue mais pagar contratações milionárias.
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Cadê o Opportunity?
O último contra-argumento financeiro para atual política de contratações Tricolor seria a famosa pergunta que não quer calar: “Cadê o dinheiro do Opportunity?” Eu, como não entendo muito da burocracia da formação de empresas, sociedades limitadas ou sociedades anônimas, também fiz esta pergunta durante muito tempo. E levei muito tempo para entender uma coisa relativamente simples: existem três entidades distintas e independentes entre si, uma é o Banco Opportunity, uma empresa do ramo financeiro. A segunda entidade é o Esporte Clube Bahia, um clube de futebol fundado em 1931. A terceira entidade, distinta das duas anteriores e que não pode ser confundida com as mesmas, é a empresa Bahia S/A, fundada no final da década de 90. Esta última é uma empresa que não é o Esporte Clube Bahia e que atua na área esportiva. O Bahia S/A possui como sócios o Banco Opportunity e o Esporte Clube Bahia. Para montar uma sociedade anônima como esta existe um aporte inicial de capital que corresponde ao investimento inicial dos clubes. O Opportunity entrou com dinheiro vivo que foi utilizado para cobrir o enorme rombo herdado pelo departamento de futebol do Esporte Clube Bahia. Este último entrou exatamente com o seu departamento de futebol que foi avaliado no mesmo montantes que o investimento inicial do Opportunity. Ou seja, após o nascimento da empresa BAHIA S/A ela era uma empresa jovem mas, com pouco ou nenhum capital de giro, pois todo investimento líquido foi utilizado para cobrir dívidas herdadas do departamento de futebol do Esporte Clube Bahia. Então o Bahia S/A precisava gerar lucros para poder ter capital para investir e este se tornou um grande desafio que até hoje ainda não consegue ser atingido na íntegra. Percebam que esta sociedade com o Opportunity foi fundamental para tirar o Tricolor de uma das suas piores crises financeiras, que não teria volta. Poderíamos até ter fechado as portas se isto não fosse feito. O mais importante aqui, é entender que o Opportunity não é parceiro ou patrocinador do Bahia, ele é um sócio. Cada vez que o sócio Opportunity investir mais capital no Bahia S/A, o outro sócio Esporte Clube Bahia deveria investir o mesmo montante se quisesse continuar tendo a mesma participação acionária que o sócio mais rico. Só que o Esporte Clube Bahia tem um faturamento baixíssimo e não tem como fazer isto. O Opportunity chegou a fazer um segundo aporte de capital para cobrir rombos do Bahia S/A decorrentes principalmente do fracasso na Segundona e, com isto, passou a ter maioria das ações preferenciais da Bahia S/A. Se o Opportunity continuar a injetar capital no negócio sua participação na Bahia S/A ficará tão grande que o Esporte clube Bahia não terá mais qualquer participação societária significativa. Ou seja, o Bahia seria literalmente do Opportunity sem qualquer vínculo com o “nosso Bahia de 1931”. O Bahia S/A deixaria de ser o Bahia de tantas glórias para ser um jovem time fundado no final da década de 90. E pior do que isto, se o Opportunity resolvesse que o negócio não estava dando bons lucros poderia simplesmente fechá-lo, como se fecham agências bancárias quase todos os dias neste país. Por isto que o tão reclamado dinheiro do Opportunity não pode ser uma salvação para a situação financeira Tricolor. Contabilidade não é bem a minha especialidade e demorei a entender isto tudo, mesmo que tenha alguma gafe contábil nos termos utilizados na descrição acima, creio que a lógica expressa no problema está correta. Com a palavra os especialistas.
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Qual a solução ?
Tendo apresentado e rebatido os principais argumentos contra a política de contratações, vale a pena chamar atenção que esta situação não é exclusiva do Bahia, é uma situação que abrange todo o futebol baiano, nordestino, brasileiro e, pasmem, mundial. O amigo Tricolor sabia que os principais clubes europeus fecharam o ano de 2001 no vermelho ? Esta informação foi publicada numa matéria recente na revista Exame. Pois é, o rico futebol europeu está com o pires na mão. Isto teve um efeito direto no nosso futebol tupiniquim. Por exemplo, a diretoria do Bahia tinha como certa a venda de Nonato ao final da última temporada. Mas as dificuldades financeiras de clubes europeus e japoneses inviabilizaram o negócio. Outro grande desfalque financeiro, a despeito do lado humanitário do evento, foi o falecimento do jogador Clébson, outra venda certa para o último ano. Percebam que praticamente todos os clubes brasileiros estão em dificuldades. Os investidores estão reduzindo ou eliminando totalmente os investimentos, a ISL faliu, a Globo reduziu as cotas de TV. Vejam: as principais receitas – venda de jogadores e cotas de TV – estão minguando. A situação dos clubes em geral é cada vez mais difícil. Apenas uma administração responsável, profissional e com os “pés-no-chão” pode fazer um clube de futebol sobreviver neste novo milênio. Creio que o Tricolor está muito bem servido de profissionalismo na maioria das suas diretorias, especialmente a Financeira e a de Marketing. A solução encontrada para esta situação foi deixar de ser intermediário – isto é comprar jogadores prontos, usá-los durante um tempo e depois revendê-los – para virar produtor, ou seja, fabricar os craques dentro de casa. Daí a prioridade dos investimentos Tricolores terem sido direcionados para as divisões de base. Ou seja, se o recurso é escasso, a prioridade está sendo investir nas bases do que contratar jogadores caros para o time profissional. Acho que até nesta política, o Tricolor melhorou muito nos últimos dois anos. Se analisarmos bem, neste ano contratamos bem melhor que no ano passado, por exemplo. Vejamos, contratamos Marcelo Souza, Alan e Sérgio Alves, jogadores que são quase unanimidade entre os Tricolores. Contratamos pouco, menos do que precisamos, mas contratamos bem. Se o dinheiro é escasso, é melhor não trazer um lateral esquerdo, por exemplo, do que trazer um perna-de-pau, concordam?
Concluindo, considero que a política “pés-no-chão”, do ponto de vista financeiro, está corretíssima e não deve ser relaxada. Mas isto não significa que considero que tudo que pode ser feito em termos de contratações já está sendo feito pela nossa diretoria. Tenho algumas sugestões que nada têm haver com a política financeira de contratações. Mas deixarei para a próxima coluna onde discutirei como podemos continuar montando bons times mesmo sem tirar os pés do chão, nem ter que calçar chinelos.
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Copa do Brasil
Não poderia encerrar esta coluna sem parabenizar Bobô e seus comandados pela boa campanha na Copa do Brasil. É claro que como bons Tricolores acostumados a vencer e conquistar títulos a eliminação diante do galo foi frustrante, mas temos que reconhecer o espírito de luta e, principalmente, a superação da maioria dos atletas, enfrentando o galo de igual para igual e até com certa superioridade, pecando em lances isolados e infantis. Tenho certeza que esta foi uma campanha superior ao que todos os Tricolores esperavam há 4 meses atrás, ou estou errado?
Parabéns e continuem firmes e fortes para conquistar o Bi do Nordeste, afinal, este título não pode nos escapar!!!
Saudações Tricolores e até a próxima quinzena.
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