é goleada tricolor na internet
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Publicada em 19 de maio de 2013 às 00:00 por Autor Genérico

Autor Genérico

Pensando o futuro a partir do presente e do passado (parte 1)

A TV aberta já não é a de antes: dos programas inteligentes e/ou bem feitos, em todo aquele tempo pré e intra ditadura militar, passou-se, com o fim da censura, com a redemocratização e com o advento da TV fechada, a popularizar a programação dos canais de livre acesso na casa do cidadão mediano. Antes, o Bahia entrava em campo de cinza claro, cinza escuro e branco. Hoje, entra de azul, vermelho e branco, encantando milhões de torcedores espalhados de norte a sul do país.

Desde meados dos anos noventa do século passado, surge um fenômeno no nosso país, o qual já existia por via radiofônica (na área policial e com estilo mais próximo da crônica dramática) e hoje passa por via televisiva eletrônica e digital: os programas popularescos – mistos de reportagens policiais, denúncias e prestação de serviços à comunidade, uma verdadeira “tribuna popular” que preenche lacunas deixadas pelos meios de comunicação oficiais. Na verdade, tal estilo de programa já existia na televisão baiana, mas o alcance deste tipo de formato e o impacto na população era muito local. Apesar disso, um prefeito já foi eleito na capital baiana graças a tais programetes, e com votação histórica.

Depois de anos de coronelismo, autoritarismo e políticos majoritários biônicos, ainda vivemos, nesta Bahia, uma cultura sócio-política anacrônica, com lampejos mais do que visíveis daqueles tempos. A figura do salvador da pátria e do herói (ou seria do anti-herói?) ainda habita o imaginário do cidadão mediano, e por extensão, do torcedor mediano do Esporte Clube Bahia.

Para resolver o problema do esgoto a céu-aberto, dos buracos, da falta de iluminação e de segurança nas ruas do seu bairro periférico, o cidadão, desconhecendo completamente os canais oficiais de reivindicações perante os governantes, apela para determinado vereador nascido na região; ou àquele empresário filantropo; ou à determinada figura do passado que passava pelos adversários como um rolo compressor e brigava como um cão raivoso pela terra que dizia amar incondicionalmente. Na falta destas figuras, os apresentadores dos programas popularescos tem tomado cada vez mais espaço neste nicho ecológico, penetrando em milhões de lares pela tevê e incutindo seu viés popular-mercadológico em cada cidadão atingido.

O que sinalizo, na verdade, se trata do chamado “culto ao chefe” ou “culto à personalidade”. Figuras míticas, de discurso eloquente, retórica bem direcionada, intimidação por meio de pancadas na mesa e brados mais do que retumbantes fazem o papel de heróis de um povo sofrido, sem emprego, sem lazer, assolado pela violência, pelo desrespeito dos poderosos constituídos e pela ausência de atenção à sua comunidade. Seguem, amiúde, os tais apresentadores populares sendo alçados ao posto de semideuses do jornalismo, com suas denúncias bombásticas e furos de reportagem costumeiramente não obtidos (em primeira mão) pelos meios mais tradicionais – e até centenários – de comunicação da nossa Bahia. Em certa ocasião, uma senhora muito idosa de certo bairro periférico de Salvador literalmente colocou um destes comunicadores em patamar bastante peculiar: “Deus no céu e o fulano na Terra”; tamanha a credibilidade que eles possuem.

Diz-se costumeiramente em jornalismo que o bom profissional jamais revela as suas fontes; embora, no entanto, há de se questionar qual o limite ético desta prática. Já estamos acostumados a ver, em meios de comunicação de alcance nacional, denúncias provocadoras de altas vendagens de jornais e revistas, como certa denúncia que, há mais de vinte anos, foi a maior responsável pela queda de um ex-presidente da república. A forma com que a tal revista se aproximou do entrevistado-denunciante dificilmente será conhecida em seus mínimos detalhes, mas neste caso, pelo menos, as irregularidades foram comprovadas e o presidente deposto. A mesma revista tentou, recentemente, repetir a dose com um outro ex-presidente, mas esbarrou desta vez na falta de interesse da opinião pública mediana em exigir punição imediata dos supostos maiores envolvidos no caso de corrupção em questão.

A Verdade pode ser algo relativo conforme os interesses de cada grupo envolvido. Diz-se, inclusive, que a guerra sempre é contada nos livros de História conforme a visão dos vencedores. Mas, no caso do Esporte Clube Bahia, temos nada menos do que um reflexo do que vemos diariamente em nossa sociedade. Convivemos, diariamente, com promessas de grandes mudanças, com salvadores da pátria, e inclusive com as figuras míticas do ASPONE e do “peru de plantão”, como formas periféricas, descentralizadas e representativas deste poder constituído em benefício mútuo. Numa high society disposta em rede de múltiplos e convergentes interesses, os amigos sempre dão uma mão aos outros amigos.

Político tuíta para comunicador e vice-versa, inclusive trocando frivolidades entre si em rede mundial, do mesmo modo que fazem os amigos do peito. O mesmo hipotético político manda um abraço para um empresário aqui, um deputado ali, outro jurista ali, um outro formador de opinião acolá. A este mundinho, dificilmente aquele cidadão das profundezas de São Caetano teria acesso, mas o mesmo também sabe jogar o jogo a seu favor, conforme viu-se ontem nas arquibancadas da Nova Fonte; e diante da forma com que fora tratado pelo povaréu ensandecido e sequioso de “cabeças” para pôr na bandeja.

Quem diz a verdade no embate entre as forças situacionais e as forças oposicionistas no Esporte Clube Bahia? Um lado exige a destituição imediata, ampla, geral e irrestrita de presidente, conselheiros, assessores, perus, galinhas e patos do comando do clube. Outro lado, por sua vez, tacha os seus contrários de oportunistas e tumultuadores a serviço dos seus supostos inimigos. Bem que os apresentadores popularescos tentaram usar novamente a tática do salvador da pátria, posto que esta sempre tinha dado certo… mas não adiantou enfiar goela abaixo do torcedor, desta vez, nomes de empresários bilionários, grandes marketeiros e outros candidatos a mecenas noticiados (em primeira mão) para, em suposto acordo com os atuais mandatários do tricolor, assumirem o clube e lhe prometerem um futuro glorioso.

Aos poucos, o torcedor mediano vai entendendo a lógica desta rede social invisível e compreendendo perfeitamente suas inter-relações dentre os membros que a compõem. Já tivemos um abnegado em priscas eras, inclusive ligado à maquina autoritária que abarcava o coronelismo como um fenômeno paraestatal; já tivemos um “eterno” salvador da pátria, hoje assumindo suas funções de julgador de contas. Já tivemos um grande “mecenas”, que nada menos é o pai do atual presidente. Quem se arriscaria a acreditar em tais supostos acordos “pelo bem do clube” depois do resultado mais do que visível que aí está, após sucessivos anos de aplicação de tais modelos???

Enquanto isso, Sua Alteza, o Presidente do Esporte Clube Bahia, vê-se acuado e anuncia que não cederá às pressões. Em verdade, o mesmo fora alçado a este posto “legitimado pelo Conselho do Clube”. Entretanto, o tal Conselho Deliberativo pode, e deve reunir-se para questionar os evidentes, claros, reiterados, de longa data e mais do que comprovados resultados negativos auferidos pelo grupo político que comanda o clube há 15 anos.

Mas… até o conselho, que até o momento nada tem questionado, está sob suspeita… e não sou eu quem está dizendo isso, e sim um sócio de longa data, ex-conselheiro e propositor de ação judicial que visa intervenção imediata no Bahia! Seria este o “oportunista” a que Sua Alteza se refere? E os mais de 5000 torcedores presentes sexta-feira à Fonte Nova, seriam todos zumbis cooptados pela “máquina de mentiras” deste autor da ação judicial??? Será que todos são de grupos de invejosos (da nobreza de terceiros) que querem se locupletar do clube?! Será que toda a movimentação em redes sociais, jornais, rádios e revistas é orquestrada por tais tumultuadores? Ora, bolas, Senhor Príncipe dos Cabelos de Gel… me poupe!! Na época da série C ninguém quis intervir, mas cinquenta mil aproveitadores e tumultuadores fecharam as ruas da capital de forma pacífica pedindo mudanças no Bahia, ao que o seu grupo político OLVIDOU completamente diante do que vemos hoje. Sim, a torcida aguardou muito, e já teve toda a paciência do mundo, senhor Presidente…

Voltando aos apresentadores popularescos, por ironia do destino, um deles (que hoje é deputado) pode passar a ser um dos maiores “aliados” da torcida ao instaurar uma CPI. a qual possivelmente atingirá muitas pessoas de várias instâncias do futebol… será que vai sobrar para o Bahia? Eu ainda creio no caráter das pessoas… prefiro dizer “espero que não”…

Finalizando a primeira parte desta série de textos sobre o presente e futuro do Bahia, despeço-me ressaltando que a imprensa livre, independente e séria sempre será respeitada por todos nós, não-jornalistas, que também se valem do ato de escrever para certos grupos. Sexta-feira, uma equipe de rede de televisão, empregadora de um dos tais popularescos e a ele bastante associada pelo imaginário do torcedor mediano, foi literalmente escorraçada das dependências da Fonte Nova, conduzida pelos seguranças do estádio a fim de evitar uma tragédia. Vamos lá: a rede de TV tem a sua concessão legítima e outorgada pelo governo federal, é livre em suas atividades e deve ser plenamente respeitada por qualquer cidadão ou corporação deste país. Mas, como dizia a minha falecida avó, “dizem-me com quem tu andas que eu te direi quem tu és”.

Saudações Tricolores!

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