O imediatismo cultural da torcida do Bahia é assustador para quem não a conhece. Chegou, despontou, ou coisa que o valha como adjetivo de urgência, tem de acontecer. Jogador que estreia errando o primeiro passe, ou perdendo o primeiro gol, entra imediatamente em pauta para as vaias. E assim também acontece com dirigentes e treinadores, ou acerta de primeira ou entra nessa pauta onde até os projetos de médio e longo prazos são estigmatizados como dúvidas, pela paixão torcedora.
Essa cultura jamais se adequará à flexibilidade porque a paixão dessa torcida pelo Tricolor supera até o Monte Everest, caso o Bahia esteja no seu topo. A Bahia tem uma população de 14,5 milhões e desse montante o Bahia detém aproximadamente 60% ou seja, pouco mais de 8 milhões de torcedores o que confere ao contexto uma diversidade que impressiona pela sua imensidão – números segundo censo demográfico de 2022.
Só para citar um caso emblemático da impaciência azul, vermelho e branco, em 1969 Beijoca surgiu no Bahia, aos 15 anos de idade, como um jogador de grande futuro. Aos 16 já jogava no time titular. Mas a tal da impaciência com o menino já travesso à época, pressionou os dirigentes e o Bahia optou por dispensá-lo. Sem clube, Beijoca foi contratado para jogar no São Domingos de Sergipe.
No ano seguinte o Fortaleza o descobriu e o levou. No Ceará, Beijoca se tornou ídolo e artilheiro do Fortaleza. Sabendo do sucesso da sua cria e, usando a prerrogativa de pai arrependido que perdoa o filho renegado, filho esse que por seu turno morre de amores – Beijoca ainda é, tacitamente, ligado ao clube – pelo pai, o Bahia foi buscá-lo para o tornar ídolo eterno na sua história.
Bem, preâmbulo à parte, falemos do hoje. Os jogadores que foram contratados pelo Bahia, foram comemorados – em minha opinião merecidamente porque os acho ótimos, individualmente – pelo torcedor quando a diretoria anunciou suas chegadas. Johannes Chavez não deu certo por aqui, mas dá certo no Equador. Também pudera, o cara mal errava uma jogada e as vaias ecoavam. Isso foi crescendo e ficou insustentável. O Bahia necessitou emprestá-lo ao clube de origem e lá o Chavez é titular absoluto, sendo até convocado pela Seleção do Equador.
Também tenho observado nas redes sociais uma fração da torcida do Esquadrão se dizendo arrependida de ter votado em assembleia aprovando a venda do Bahia ao Grupo City. A memória desses que assim pensam parece-me extremamente imediata, além de incoerente com as suas próprias convicções que lhes deram a expectativa, que é sinônimo de perspectiva abrangente a tudo que venha a significar ponto de vista, conforme: entendimento; visão; compreensão; interpretação; aspecto; olhar; prisma; ângulo; pensamento; sentimento; enfoque etc. etc., admitidos e aceitos na apresentação de um projeto aplaudido pelos mesmos que se dizem arrependidos.
A minha analogia se embasa no ecletismo de uma torcida imensa, mas salvo, porém, a diversidade cognitiva ao fazer juízo sobre onde a paixão dá as cartas. A nossa intenção por aqui é romper as amarras dos paradigmas tradicionais, liberando-nos para explorar novos mares de possibilidades que efetivamente estão à nossa frente. Mas essa não é uma exploração sem rumos, porque através das nossas perspectivas, escolhemos a nossa meta e a nossa rota, quando cheios de alegrias e esperança abrimos os braços para o Grupo City.
Então, por que não abandonarmos o ceticismo para acreditarmos no que estamos vendo se agigantando todos os dias, à nossa frente? Há um processo evolutivo no Bahia que chega a parecer sonhador, mas não é. Tá muito distante disso. Recentemente esteve entre nós um comitê composto pelos mais importantes dirigentes do Grupo City. Turismo, diriam os céticos; coveiros; sudestinos; e adversários. Mas quem confia no capital e no trabalho sabe que nada no Bahia atual é brincadeira. São projetos, sim, que futuramente irão gerar investimentos jamais imaginados no futebol da Bahia e no Bahia. Quem viver verá.
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