‘’Tá faltando sentimento, a gente já não rola à muito tempo’’.
Turma do Pagode – A gente já não rola
É com essa citação musical que começo a crônica do dia. E nesta, tentarei ser mais direto a respeito dos cinco principais erros cometidos pelo Bahia na minha humilde e modesta opinião. Para este texto, contei com a colaboração de alguns amigos tricolores.
1 – Má gestão de calendário
Virou um mantra de Paiva em suas coletivas reclamar do calendário brasileiro de carga de jogos que seu time fez. Ele está certo, tem que reclamar mesmo, o calendário brasileiro do futebol impede que se faça futebol de alto nível no nosso país. Vivemos um excesso de competições e uma overdose de futebol dos nossos times. Somado a isso está o fato de sermos um país de dimensões continentais, onde os clubes têm que se deslocar em viagens longas toda semana. E o calendário do futebol nordestino é ainda pior que os demais clubes do Brasil por ter a Copa do Nordeste adicionada às rotinas. Aí eu pergunto ao senhor Renato Paiva e cúpula do futebol do Bahia: se vocês sabiam dessa realidade, por que jogaram o campeonato baiano com força máxima em praticamente todas as partidas?
A sensação que fica é que quando montaram o planejamento, viram que nos últimos anos jogar com o sub-23 não resultou em título e resolveram fazer diferente este ano para vencer o campeonato baiano. É justo, mas, se o Bahia vai adotar um modelo de jogo complicado como o jogo de posição, adicionar tantos jogos numa fase que deveria ser de muito treinamento foi um grande erro. Agora seus principais jogadores possuem quase 40 jogos praticados até esse mês de Junho, quando poderiam ter no máximo 25, se tivessem jogado o estadual com uma equipe alternativa. Some-se isso ao fato da CBF boicotar seu campeonato obrigando os times grandes a se dedicar aos estaduais para classificar para a Copa do Brasil. Ainda assim, eu acredito que deveriam ter assumido o risco, poderiam ter mantido mais jogadores da Serie B para realizar essa transição de maneira menos traumática e utilizá-los para o Campeonato Baiano e Copa do Nordeste.
Foto: Felipe Oliveira / EC Bahia
2 – Timing das contratações
Outro mantra de Paiva tem sido o fato das contratações do Bahia chegarem em momentos distintos da temporada. Faz sentido. Mas, isso também era conhecido. E outra coisa, o nosso diretor de futebol era famoso por ser um grande profissional de Scout. Não é possível que em dezembro ele não tivesse pelo menos 5 nomes para cada posição. Se essa defasagem fosse atrelada a qualidade, eu entenderia perfeitamente. Mas, a impressão que fica é que demoraram tanto para trazer apenas ‘planos B’, vide Ademir, que parece ter sido alternativa a recusa de Marinho, apesar de eles dizerem que ele sempre foi o alvo. A demora de contratar me lembrou dos áureos tempos de Bellintani, com seus jargões de ‘’estamos atentos ao mercado’’ e ‘’a demora é para não errar’’. Pois bem, demoraram tanto pra contratar e trouxeram um centro avante de Serie C que chega a Junho fora de forma (leia-se acima do peso ideal ou apenas gordo), sendo que ele estava em atividade. Um erro grosseiro que aconteceu porque se adotou parcimônia em um momento que deveria ser de intensidade.
3 – Ricardo Goulart e a camisa 9
Admira-me muito um clube que se recusou a contratar um jogador como Christian porque ele sentiria uma lesão daqui a alguns anos ter aprovado a manutenção de Ricardo Goulart no elenco e ter contado com ele como alternativa para uma posição tão importante no elenco. Diria até que o camisa 9 é crucial para esse modelo de jogo. Ele que executará receptações de bola, movimentos na profundidade, ações de pivô, etc. Um jogador com condição física de aposentadoria não poderia exercer esse papel. E eles tinham tecnologia para se antecipar a isso.
E sobre a camisa 9, é inadmissível que o Bahia virou SAF para contar com esse nível de atletas para essa posição. Everaldo é esforçado e é até um finalizador interessante. O problema é o que ele faz além disso. Ele dificulta transições, atrasa tabelas, possui uma dificuldade de domínio de bola em vários momentos. É um jogador que está sendo sobrecarregado pela importância que ele tem que ter no time e ele não possui controle de bola e técnica o suficiente para atender. A sensação que fica é que negligenciaram essa posição. Sobre Mingotti, é um absurdo um jogador profissional no meio da temporada estar com a forma física que ele está e sobre Arthur Salles, me parece um bom jogador, mas imaturo física e tecnicamente. Erros grosseiros que beiram a negligência
4 – O perfil de jogadores do meio de campo
É um mantra no futebol que o meio de campo é o coração da equipe. Não adianta ter uma grande defesa e um grande ataque se seu meio de campo é um caos. Aconteceu isso recentemente com uma grande equipe de classe mundial: o Liverpool. Lá, depois de fazer uma temporada onde disputou todos os títulos possíveis, viu seu meio de campo ruir com a condição física esfarelada dos principais jogadores e o baixo nível de competitividade dos reservas. Resultado: a equipe não disputou nenhum título e sequer se classificou para a liga dos campeões. De nada adiantou ter uma grande defesa e um grande ataque. É no meio de campo que a diferença acontece. E se acontece isso com uma equipe desse porte, não seria diferente com o Bahia.
E para se montar um meio de campo a contento, é necessário entender a forma que você quer jogar com seu time. Se o Bahia vai jogar utilizando o jogo de posição, qual o perfil de jogador que deve ser contratado? É uma questão que a cúpula de futebol do Bahia errou e sabotou o desempenho do time como um todo. O Bahia não consegue realizar eficientes saídas de bola porque nossos meio campistas não se comportam para tal, não possuem as características necessárias. O nosso time, nesse estágio de trabalho, já deveria ser um time de acima de 60% de posse de bola, independente do adversário, na maior parte do tempo dentro do campo do adversário. Mas, voltamos mais uma vez ao perfil de contratações. Detalhando:
Sem individualizar a crítica, a maioria das nossas opções tem dificuldades de: conduzir a bola em progressão; girar de costas no próprio eixo corporal para enganar a marcação; dominar a bola com o pé que propiciará uma fuga mais rápida do marcador; compreender onde está o espaço vazio entre a primeira linha de marcação do adversário e o zagueiro portador da bola; realizar movimentos de desmarque da pressão dos atacantes adversários; avançar sobre as linhas adversárias no momento certo; realizar passes de repetição para criação de espaços; etc. Pelo contrário, temos jogadores que correm em direção ao zagueiro com a possa da bola levando o seu marcador pra cima do zagueiro o obrigando a rifar, temos jogadores que possuem profundas dificuldades de realizar qualquer ação de costas pra marcação, temos outros que tem problemas gravíssimos com intensidade de marcação, temos outros que aguardam até a chegada da bola para tomar decisões e não conseguem se antecipar aos movimentos. Nossos jogadores de meio campo, em certos momentos, têm dificuldades de entender o que está acontecendo no jogo.
Veja bem, o jogo de posição é uma filosofia de controle de tempo e espaço, de manutenção de posse de bola, de enganar o adversário para ganhar vantagem, com a finalidade de colocar um jogador em condição de mano a mano ou colocar o time em condição de superioridade numérica contra a marcação adversária visando chegar bem pra finalizar. É simples e complexo. Tem um objetivo muito claro, o que dificulta são as ações individuais para isso.
Não possuímos sequer um meio campista ideal para o jogo de posição nesse elenco. Acevedo é o que mais se aproxima disso, mas, pelo seu ímpeto, às vezes perde a posse de bola em locais onde não se pode perder. E temos alguns trabalhadores interessantes, mas que estão com conceitos muito embrionários do modelo de jogo e não possuímos tempo para isso. Será necessário adicionar qualidade e vivência com jogo de posição para esse elenco agora em Julho ou iremos ter muitos problemas até o final do ano. Já chega de trazer jogadores que ainda terão que aprender a se comportar num time que faz isso.
5 – Concentração
Este erro está atrelado aos jogadores e daí vem à citação musical inicial. Tá faltando indignação, brio, vontade de parar de levar tanto gol. O time já cede poucas chances, mas as que cede, sempre leva gol. Um grande amigo me falou que parece que todos os times se tornam o Real Madrid contra o Bahia. Eu passei grande parte do ano culpando o goleiro. Mas, a verdade é que o Bahia é um time desconcentrado no jogo. Cedemos grandes chances aos adversários. Levamos gols de tudo que é jeito, sempre porque tem alguém parecendo estar dormindo no lance.
Sábado levamos dois gols oriundos de um problema que parecia superado: bola nas costas da zaga. Para os íntimos, controle de profundidade. Desde o jogo contra o vice não levávamos um gol tão gritante com essa falha. E foram logo dois. E defendendo com um nível de competitividade e concentração baixíssimo. Não tem santo que dê jeito assim. Tem que aumentar essa competitividade aí. Se não puder ser com os jogadores atuais, que adicionem jogadores de um nível técnico e de confiança acima. Jogador que odeie perder. Jogador que esteja disposto a se chocar com uma trave para tirar um gol, que nem João Paulo fez com a gente na copa do Brasil.
Caso contrário, a sensação que o time vai continuar passando para nós é que está faltando sentimento. Fica parecendo que não estão nem aí. Apesar de que, isso é um pouco de culpa também dos comandantes (treinador, diretor de futebol, etc.). Esse papinho de ano zero o tempo inteiro lembra os ‘’só faltam 5 pontos em 287 jogos’’ de GB em 2020. Passa a impressão que pode errar, pode tomar gol, que tá tudo bem. Eles estão nos relembrando o tempo inteiro que estão satisfeitos com essa campanha.
BBMP !
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