Chega de falar do time do Bahia. Não adianta mais chorar pelo leite derramado. Pagamos o preço por tanta incompetência e excesso de confiança. Fazendo um balanço do ano de 2004, só se chega a uma conclusão: quem mais sofre é quem menos merece, o torcedor tricolor.
E é justamente sobre o torcedor tricolor que vou falar hoje. Não vou falar da imensa torcida tricolor, como falei na minha primeira coluna, vou me focar especialmente na torcidas organizadas do Bahia. Escreverei uma série de duas colunas sobre as organizadas tricolores.
Se observarmos bem, encontraremos uma infinidade de organizadas no Bahia: Bamor, JDT, Povão, Tricoloucos, Fiel, Terror Tricolor, Esquadra Tricolor, Amantes do Bahia… Fica difícil citar todas aqui. Minha crítica em relação a essas torcidas é a sua submissão à diretoria do Bahia. A direção sempre arranja uma forma de calar as organizadas, e o pior é que essas organizadas se deixam calar.
Vou começar fazendo uma análise dessas torcidas a partir das mais atuantes: Bamor, JDT e Terror Tricolor. A Bamor sempre viveu uma relação de amor e ódio com a diretoria do Bahia. Em determinadas épocas, é proibido fazer qualquer crítica ao presidente e aos diretores do tricolor. Em outros momentos, o tom de crítica toma conta da maior torcida do Bahia. O que foi visto nessa Série B foi uma torcida mais crítica, com faixas de cabeça para baixo e outras faixas pretas pedindo a saída do presidente Marcelo Guimarães. Mas como a Bamor é a mais imprevisível das torcidas do Bahia, não se sabe qual será o comportamento dessa torcida no dia de amanhã. E o inesperado aconteceu justamente no duelo final, contra o Brasiliense. Inexplicavelmente, a Bamor apareceu com a faixa colocada da maneira normal. Deve ter sido pelo patrocínio que exibia na faixa. Ouvi um torcedor falar: A Bamor se vendeu. Que bela imagem ficou, não acham?
A JDT Jovem Disposição Tricolor é mais nova que a Bamor, tem apenas dois anos, mas já se destaca como a segunda maior torcida do Bahia justamente pela sua atuação. Ela se destacou pela oposição ferrenha à atual diretoria tricolor. Os integrantes da JDT fazem questão de ressaltar que eles não são contra, ou a favor de ninguém, são apenas a favor do Bahia. A JDT nasceu, inclusive, de um grupo de torcedores que saiu de outras torcidas, insatisfeito com a submissão dessas com a diretoria tricolor. Eles fazem questão de ressaltar que são 100% independentes. Foi a primeira torcida a colocar a faixa de cabeça para baixo na Fonte Nova, e só colocaria da maneira normal se o Bahia voltasse para a primeira divisão. Na partida contra o Brasiliense foi a única torcida, que ao final do jogo, gritou palavras de ordem contra o presidente Marcelo Guimarães, mostrando insatisfação com a atual situação do Bahia, e não indiferença, como demonstraram as demais torcidas.
Falarei agora da Terror Tricolor. Ainda mais nova que a JDT, a TUTT vinha se destacando pelos protestos realizados, sempre em tom de oposição à diretoria do Bahia. Nos últimos meses, o que vimos foi uma Terror mudada, apoiando jogadores e diretoria (!!). Não quero afirmar nada, mas uma torcida que era oposição à atual direção tricolor, muda da noite para o dia, e passa a apoiar a atual gestão… acho meio estranho. Faixas que beiram o patético com frases do tipo Diretoria, confiamos no seu trabalho foram vistas no Fazendão durante alguns treinamentos do Bahia nesses últimos meses. O Bahia ainda não havia ganhado nada. Pelo contrário, estava numa situação delicadíssima. Apoiar os jogadores eu até entendi, mas dar apoio à diretoria? Essa eu não entendi, nem nunca vou entender. E vejam vocês onde foi realizada a manifestação de apoio aos jogadores e direção: no Fazendão. As organizadas são proibidas de entrar no local de treinamentos do Tricolor. Ano passado a JDT esteve lá para tentar conversar com os jogadores e foi barrada, proibida de entrar e até de assistir ao treinamento.
Estranho permitirem que integrantes da Terror Tricolor entrem no Fazendão e assistam aos trabalhos do Bahia. De repente, ao final da Série B, a Terror organiza um protesto contra a diretoria. Afinal, eles são contra ou a favor de Guimarães e cia.? A incoerência tomou conta da Terror Tricolor, e nenhum dos seus atos tem mais a credibilidade de outrora.
Outras torcidas, como a Fiel, têm um grau de submissão ainda maior com a diretoria do Bahia, mas pelo seu nível de atuação nem vale a pena citá-las aqui.Mas como a direção tricolor consegue calar as organizadas? Ora, é simples, comprando as torcidas. É uma relação de troca, a diretoria dá ingressos e outros benefícios às torcidas, que em troca se calam, e até chegam ao absurdo de apoiar os dirigentes. Lamentável.
O pensamento que eu tenho de torcida organizada é o seguinte: um grupo de torcedores que se organiza para ter voz dentro do alto escalão do seu clube e poder interferir nas decisões tomadas, buscando sempre o melhor para o seu time. Mas, infelizmente, podemos observar que esse pensamento foi um pouco alterado aqui no Bahia.
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