Após o triunfo sobre o Bragantino, num momento em que todos nós torcedores tricolores estamos em êxtase, disputando as primeiras colocações do campeonato brasileiro rodada após rodada – fato inédito na era dos pontos corridos – e imaginando uma colocação final também inédita mais à frente, eu vou nadar contra a corrente e fazer um exercício de olhar para trás e refletir sobre fatos recentes ocorridos no futebol brasileiro. Até porquê, no gramado, o show tricolor está tão evidente que dispensa maiores comentários…
Em primeiro lugar, lamentar profundamente o desserviço que o fanfarrão do proprietário da SAF do Botafogo-RJ, John Textor, está fazendo ao futebol nacional e que merecia uma punição exemplar, mas como soy acontecer no Brasil, vai acabar em pizza… Por que puní-lo? Porque não há qualquer elemento que dê guarida à acusação de “manipulação de resultados”. Temos erros de arbitragem, temos falhas de jogadores e, sim, tivemos jogadores envolvidos em fraudes contra casas de apostas. Se formos a fundo, não vai ser difícil achar nas séries C e D, principalmente nas regionais, casos de arbitragens corrompidas. Mas, isso é exceção, não é a regra. Mesmo nos episódios recentes que envolveram jogadores, ficou evidente que se tratava de lances individuais. E o futebol é coletivo, há que se envolver uma equipe praticamente inteira mais a comissão técnica para que ocorra uma manipulação de resultados e, dificilmente, esta não virá à tona.
O famoso relatório de Textor não passará, quando vier a público, de uma compilação de situações inusitadas e de erros de arbitragem. Hoje em dia, um batedor de pênalti que faizer uma “cavadinha” e entregar a bola na mão do goleiro, já vai para o relatório e já estará sob suspeição. Desse jeito o futebol vai perder a graça… Ah! Mas, uma CPI em Brasília resolveu ouvir Textor e os senadores vão investigar! Pergunto: há algo que dê mais palanque que escândalo no futebol? E alguém já viu político que não goste de subir num bom palanque?
Em segundo lugar, creio que a recente “venda” da participação de Ronaldo Fenômeno na SAF do Cruzeiro seja uma boa oportunidade para fazermos um rápido balanço da situação das primeiras SAFs do País. De início, importante deixar registrado que o melhor futebol apresentado no campeonato brasileiro até o momento, vem de duas SAFs: Atlético-MG e Bahia. E um dos piores vem do Vasco, outra SAF. Do ponto de vista de gestão, temos a associação que representa o antigo clube do Vasco em permanente litígio com a 777 Partners, a qual por sua vez se vê envolvida num escândalo financeiro, acusada de fraudes em garantias de empréstimos no exterior.
Já o Botafogo-RJ, padeceu em campo no ano passado, quando as seguidas trocas de técnicos interromperam o que era uma campanha vitoriosa em direção ao título nacional. E padece também fora de campo, em parte pelas declarações estapafúrdias de seu proprietário (Eagle Football/John Textor), em parte por uma operação financeira nebulosa, na qual a SAF do Botafogo-RJ contratou um empréstimo de cerca de 340 milhões de reais, repassando 296 milhões de reais para Textor na pessoa física e os 44 milhões de reais restantes para um outro clube de propriedade da Eagle. Para o leitor e a leitora que acharam estranha a operação, sugiro associar a ela as declarações do mandatário. Tudo ficará mais esquisito ainda…
Atlético-MG e Cruzeiro são SAFs diferentes dos modelos anteriores. A primeira, possui quatro empresários investidores-torcedores que vem dando suporte à elevada dívida do clube (parte com eles mesmos) e respaldo a campanhas vistosas do clube em campo, além da construção de um estádio próprio. Já a do Cruzeiro, talvez pelo negócio em si ter sido feito em momento de desespero do clube, é difícil até comentar, pois há muito pouca transparência nos contratos realizados. O que sabemos é que entra um investidor-torcedor que já apoiava o clube, mas se já era a intenção inicial, duvido que venhamos a saber. O que é fato é que, em campo, o clube não tem correspondido às expectativas dos torcedores, embora neste início de Brasileirão não esteja indo tão mal.
No caso do Bragantino, a equipe vem sempre apresentando bons resultados nos campeonatos nacionais, alcançando posições importantes. Recentemente, inaugurou um centro de treinamento de alto nível, coroando o início positivo da gestão da Red Bull.
Chegamos enfim ao nosso tricolor, que não teve um começo muito animador com a SAF mas, aos poucos, a equipe foi se estruturando com as recentes contratações, a ponto de estar fazendo um belo inicio de campeonato brasileiro. Também já são visíveis os efeitos da infraestrutura de apoio aos atletas e comissão técnica. Extra-campo, 86% da dívida do clube foi paga pelo grupo City e, tudo indica, caminhamos para termos um novo centro de treinamento.
Finalizando, uma palavra sobre a discussão do momento: interromper ou não os campeonatos nacionais, em razão da tragédia que se abateu sobre o Rio Grande do Sul? Creio que seja uma questão de tempo até que fique evidente que os clubes gaúchos não estarão em condições de competição tão cedo, sendo necessária, portanto, a paralisação da competição, principalmente agora que cada clube deverá deixar registrado por escrito sua posição, dificultando o “jogo para a galera”. Mas, é importante termos em mente que os clubes das séries C e D (e alguns da B) não possuem condições financeiras para suportar a ausência de receitas por tempo longo, o que acabará recaindo sobre jogadores e empregados dos clubes. Urge, dessa maneira, que a CBF encontre mecanismos de apoio financeiro a esses clubes e seus jogadores e empregados, caso interrompa a competição.
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