Ano novo vida nova. Para além do clichê escancarado nessa expressão, e sem querer me referir à reforma ortográfica que tirou o acento da idéia e o trema da tranqüilidade (transformações que ainda não foram devidamente informadas ao corretor ortográfico do Word que insiste em colocar o tracinho diagonal sobre o e e os pontinhos sobre o u dessas palavras nem tampouco incorporadas pelos meus neurônios incapazes de substituir as velhas informações para sobrescrever novas regras no que lá está sedimentado por incontáveis décadas como cláusulas pétreas), a verdade é que para o Bahia as coisas estão se mostrando realmente (e surpreendentemente) novas desde que o ano começou.
E o início desse ano não se deu necessariamente no 1º de janeiro, aniversário do tricolor, mas nos meados de dezembro passado, quando ocorreu a discutível eleição indireta para presidência do clube. Não vou voltar a bater na mesma tecla da questionável (para dizer o mínimo) composição do antigo Conselho Deliberativo. A eleição foi feita e acatada pela Justiça… e pronto. Espera-se apenas que essa tenha sido a última nos moldes oligárquicos até então vigentes e que em 2011 realmente tenhamos uma manifestação mais ampla de todas as modalidades dos associados ao clube e até mesmo dos vinculados apenas à Onda Tricolor para escolher o próximo presidente (que pode muito bem ser o que ora se elegeu).
Já que falei nele, vamos então nos deter brevemente no novo presidente do Bahia. Como muita gente já falou e escreveu sobre o seu desempenho inesperadamente descolado das práticas dos dirigentes que vinham se sucedendo no Bahia, surpreendendo a todo o mundo com seus primeiros atos administrativos, vou tentar sintetizar as minhas perplexas impressões de outra forma, com um questionamento que pode até parecer desrespeitoso numa leitura apressada, mas que traz em sua intenção o propósito do inverso: será que MG Filho é mesmo filho de MG? Não estou aqui propondo nenhum teste de DNA para comprovação de paternidade biológica. É só uma provocação mesmo, pois, para mim, faria mais sentido se fosse revelado que MG Filho é, por exemplo, descendente direto do falecido deputado que empresta seu nome (ainda espero que temporariamente) ao Aeroporto 2 de Julho e não só pelas costeletas ou pelo penteado que ostenta: é que o cara parece ser um político esperto nato. Firme, conciliador e educado.
O pior de fazer elogios por escrito é que esses perduram indeléveis e podem acabar se voltando contra quem os proferiu, como uma sentença de aiatolá, uma espada de Dâmocles. Aliás, esse era um expediente muito utilizado pelo ex-tudo (tem hífen?) ACM, que costumava jogar na cara de adversários políticos os eventuais elogios eventualmente feitos por esses a ele em algum momento de suas vidas. Mas essa simplificação de que elogio é igual a adesão incondicional, ou compromisso de imutabilidade de opinião favorável , ou de impossibilidade de julgamento crítico, fica apenas para os pobres de espírito.
É inegável que o novo presidente do Bahia, até agora, tem se mostrado dinâmico, bem articulado, coerente, independente e destemido. Tomara que o seu fôlego para cumprir as mudanças que prometeu não seja exaurido em curto espaço de tempo.
A mais simbólica, exemplar e corajosa atitude tomada por ele desde sua posse foi, sem dúvida, a contratação do Diretor de Futebol. Eu já havia dito anteriormente, aqui nesse espaço, que achava vital que o presidente que viesse a ser eleito (na época a bola da vez parecia ser Reub Celestino) soubesse escolher de início um bom Diretor de Futebol. Pois eis que MG Filho, desagradando alguns conselheiros que arquitetaram sua candidatura e revoltando uma parte não majoritária da torcida, não hesitou e indicou PC, o huno, para o cargo (na verdade ele contratou a pessoa jurídica do dito cujo rubro-negro, cuja composição aparente se resume ao próprio, mas ele deve ter lá outros recursos humanos na sua equipe).
Não vou negar que PC, o huno, entende desse riscado. Tem faro e sabe lidar com os jogadores, colocando-os sob o justo comprimento da corda, sabe botar ordem na casa e se cercar de profissionais competentes. Se ele vai ganhar dinheiro com transações de jogadores revelados ou com as eventuais conquistas que o time venha a conseguir sob sua tutela, eu não sei. Se ganhar, parece-me que deverá ser bom para ele e para o Bahia. Entretanto, se os bons resultados não vierem, ele deverá ter destino similar ao do general Madeira de Mello ou ao do bispo Dom Pero Fernandes Sardinha.
Os meus sentimentos pessoais em relação a essa pessoa, que não conheço pessoalmente, são similares aos que experimento quando, inadvertidamente, ingiro ou apenas sinto o cheiro de abacate. Mas o fato de achar abacate algo insuportável ao meu olfato e intolerável ao meu paladar e estômago não me faz rejeitar as pessoas próximas e afins que se deliciam com essa fruta caroçuda e gordurosa ou deixar de freqüentar (olha o trema aí) restaurantes que servem algum prato à base dessa iguaria. Portanto, se PC, o huno, cumprir o seu papel de levar o Bahia a ganhar títulos e fizer a torcida do Bahia contente, eu vou ficar satisfeito por tabela.
Era isso. Só queria deixar registradas aqui as minhas impressões nesse momento, para não ficar rotulado como omisso. Sobre as contratações de jogadores e técnico ainda não dá para tecer comentários vou esperar pra ver, avaliar, torcer e cobrar.
A imagem mais marcante até o momento dessa nova gestão do tricolor foi a do torcedor folclórico Binha de São Caetano saudando efusivamente e envolvendo PC, o huno, na bandeira do Bahia: a ingenuidade esperançosa e o constrangimento enrolados no manto tricolor.
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