O eterno presidente, ou, para a maioria, o grande coveiro do Esporte Clube Bahia, Paulo Virgílio Maracajá Pereira, está na iminência de tornar-se presidente do Tribunal de Contas dos Municípios. Ou seja: a corte que tem como missão fiscalizar e julgar as contas públicas, será presidida por alguém que não gosta, justamente, de prestar contas. Em 35 anos como mandatário-mor do Fazendão, Maracajá transformou a contabilidade do Esporte Clube Bahia em uma inexpugnável caixa-preta. Transparência foi uma palavra totalmente abolida dos últimos anos da história do Esquadrão de Aço, sem que houvesse para tal a necessidade de qualquer acordo ortográfico.
E quem aponta essa vocação do conselheiro para não prestar contas é o Ministério Público Estadual, ao concluir o inquérito civil, instaurado em junho de 2008, que o acusa de exercer paralelamente à função pública a atividade clandestina de co-gestor de uma instituição privada, no caso o E.C. Bahia.
Segundo o inquérito do MPE e já encaminhado ao TCM e à Promotoria de Justiça de Combate à Improbidade Administrativa -, o conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios, Paulo Maracajá, utilizando-se de ´testas de ferro´ que atuam como ´gestores de fachada´, exerce, de fato, a gestão do Esporte Clube Bahia, em violação à Lei Orgânica dos Tribunais de Contas do Estado da Bahia e afrontando princípios constitucionais da Administração Pública, especialmente os da legalidade e da lealdade às instituições.
Como é que alguém que afronta princípios constitucionais e viola a Lei dos Tribunais de Contas vai dispor do poder de presidir uma corte que, justamente, cobra a obediência a esses mesmos princípios?
No inquérito do Ministério Público Estadual, cujo relator foi o procurador Carlos Frederico Brito dos Santos, também salta aos olhos uma das peças processuais. É uma entrevista do próprio Paulo Maracajá ao jornalista Bob Fernandes, para o livro Bora Bahêeea!, publicado em 2003. O conselheiro deixava claro que a transparência deveria ser a regra do jogo para os homens públicos.
Leia, textualmente, as palavras do próprio Maracajá, que você pode conferir no livro: Existem, em todos os setores, os bons e os maus. Existem excelentes dirigentes e maus dirigentes. Cada um deve pagar por aquilo que fez. Todos os dirigentes, que são homens públicos, têm de ter sigilo bancário quebrado, têm de ser investigados, têm de informar o patrimônio… Daria em branco. Homens públicos têm de estar sujeitos a perguntas, a investigações.
Quando, enfim, por conta deste inquérito no Ministério Público Estadual, a Justiça baiana determinou a quebra do seu sigilo bancário e fiscal, Paulo Virgílio Maracajá Pereira mudou de opinião, impetrando um mandado de segurança e obtendo uma medida liminar para impedir a investigação de sua vida financeira. E, logo depois, também conseguiu barrar a quebra do sigilo bancário e fiscal do Esporte Clube Bahia.
É preciso que homens públicos com a dignidade e a estatura moral de Raimundo Moreira, Paolo Marconi, Fernando Vitta e o ex-governador Otto Alencar, todos conselheiros, não permitam que o Tribunal de Contas dos Municípios em um momento em que a Bahia reafirma cada vez mais o seu reencontro com os princípios republicanos e democráticos da transparência e do respeito à coisa pública – seja exposto ao escárnio e ao descrédito.
E para que não seja partidarizado o inquérito do Ministério Público Estadual, é mister recordar um trecho do editorial que o ex-governador Antonio Carlos Magalhães publicou no seu jornal, o Correio da Bahia, em julho de 1995, intitulado O Protetorado de Maracajá: Na verdade e o mais desinformado torcedor sabe disso embora tenha passado a presidência do Bahia a um certo Francisco Pernet há um ano, Maracajá continua à frente da administração do clube. E o que é pior: afrontando a lei, já que, como conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios, não pode acumular funções.
O combativo Sindicato dos Servidores do Tribunal de Contas, o Sindicontas, além das questões legais já suscitadas, também questiona a qualidade técnica do conselheiro a partir de seus pareceres. O boletim do Sindicato critica uma peça produzida por Maracajá na análise das contas da gestão de 2002 da prefeitura da capital: Para que se governe Salvador com a aprovação popular, como estão a indicar as pesquisas em relação ao atual alcaide, é preciso que se tenha equilíbrio e moderação. É preciso ter sensibilidade para valorizar os hábitos populares: a conversa com a vizinhança, a freqüência dominical à praia, a ida à Fonte Nova, o gostar das peladas, o cultivo das tradições . O Sindicontas entende que relatórios dessa natureza em nada contribuem para o avanço da tarefa fiscalizadora das administrações públicas na Bahia.
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