Ao contrário de outros jogos, esse contra a Portuguesa começou com um Bahia atento desde o início. Com 15min deu para perceber que poderíamos até perder, mas a derrota teria um preço muito alto.
Mesmo em desvantagem, o Bahia não se desesperou. As peças estão encaixadas nas suas posições. Podemos até discordar de esquema tático, de escalação de um ou outro jogador, mas é inegável que o time saiba o que está fazendo em campo.
O empate não demorou a sair porque o time jogava bem. A única peça que ainda não conseguiu o encaixe é Vander. Não acho que seja culpa dele. O problema está no esquema montado. Ora ele vira atacante, ora é meia. Isso gera uma confusão e o faz se perder em campo, aparecendo apenas em algumas situações.
Citei outras vezes, no 4-5-1 Jael fica sobrecarregado e isolado na frente. Nos dois últimos jogos, não foi coincidência a melhora do time a partir da entrada de outro atacante. Adriano sofreu o pênalti e criou, em contra-ataques bem preparados, várias chances de gol. Espero que Márcio Araújo tenha se convencido disso.
Se Jancarlos não foi um primor no apoio, deu conta do recado na parte defensiva. A zaga ainda não nos passa a mesma confiança de outros tempos, mas esteve melhor. Alison é que não pode entrar na provocação dos adversários e sofrer uma expulsão boba daquela. Os volantes cumpriram seu papel com eficiência. Ávine foi a válvula de escape. Continua sendo uma boa opção para a nossa chegada ao ataque. E finalmente acertou um cruzamento, o terceiro gol do Bahia e o segundo de Jael.
Meu destaque vai para Morais. Para quem duvidava das suas reais condições, a resposta está vindo aos poucos, em doses homeopáticas. Escuto alguns comentários dizendo que ele se omite do jogo. Ainda não vi isso em nenhuma das partidas. Ele foi inconstante logo que chegou, errou mais do que acertou, mas sempre se apresentou para criar jogadas.
Hoje Morais, pra mim, foi o nome da partida. Ele se entrega, marca, ataca, defende. Erra, e agora pra nossa sorte, começa a acertar mais. Lançou com eficiência, deu assistência e lutou como nas outras partidas. Ficou evidente o seu crescimento quando o time passou para o 4-4-2. Assim a sua característica principal de ligar o meio ao ataque aparece mais. Quando estão juntos, ele, Vander e Rogerinho, o negócio fica enrolado.
Com os gols chegando, naturalmente, a ansiedade tende a ir embora. Jael conseguiu livrar-se dela. É um guerreiro, não foge da batalha e está sempre preparado para estufar as redes. O jogo de hoje serviu para que ele confirmasse pra todos nós que o goleador voltou. E de vez, assim esperamos.
Como ponto negativo eu cito a distância da marcação entre o meio e o ataque, quando o time é agredido. Com cinco homens no meio, não dá para levar sufoco de um adversário com dez em campo. A Portuguesa avançava e o Bahia recuava. Falta ao tricolor marcar a saída de bola do adversário, isso tem de ser treinado. É uma herança de Renato que deve ser corrigida o quanto antes.
O Santo André nos espera. Pela situação do time na tabela, pode parecer fácil. Não é. Provavelmente, vamos entrar sem a zaga principal, já que Nen saiu machucado. Ainda assim, acho que podemos sair de lá com os três pontos.
XXX
O fato de morar em outro Estado me permite viver situações de sentimentos distintos ao ver o Bahia jogar. O primeiro é de reconhecer o quanto esse clube é amado, do Oiapoque ao Chuí. E ouvir Bora Baêa Minha P… nas ruas, remete minhas memórias aos bons e velhos tempos de Fonte Nova.
Ah, Fonte Nova! Que boas lembranças não guardo de ti. Foi nela que, mesmo sem saber, tive a certeza de que a primeira vez a gente nunca esquece. Fui ver o tricolor no início anos 80 não recordo exatamente o ano -, num jogo contra o extinto Ypiranga pelo campeonato baiano. A menos de 10min do final da partida, o Bahia perdia por 2×0. E quando o juiz trilou o apito, o placar marcava 3×2 para o campeão dos campeões.
Não esqueço e nem teria como, aquela torcida apaixonada cantarolando nas arquibancadas Mais um, mais um Bahia…. O hino era cantado em uníssono, os torcedores estavam ensandecidos e eu no meio daquilo tudo. A partir daquela data, eu que não torcia pra ninguém, virei mais um na multidão, tricolor de coração.
Fonte Nova que já foi um dia de Gilson Gênio, Léo Oliveira, Beijoca, Washington, Emo, Marinho Apolônio, Claudio Adão, Paulo Rodrigues, Charles, Zé Carlos e tantos outros ídolos. Foi nesse gigante adormecido que o Brasil passou a conhecer e amar a elegância sutil de Bobô. E lá foi registrada a maior de todas as nossas glórias.
Ir à Fonte Nova era um ritual. O caminho até o estádio era aproveitado em todos os minutos. A tradicional parada no meio da ladeira que fica em frente ao antigo Balbininho tinha de acontecer. Dá uma paradinha aí, seo motor…. Ai do motorista se não fizesse essa forcinha, logo era lembrado como torcedor do time do aterro sanitário.
A boa e velha conhecida Kombi do Reggae, que ficava no estacionamento da Vila Olímpica era o ponto de encontro da maioria da torcida. O tradicional rolete de cana, que depois sofreu um upgrade para saco; o churrasquinho que até hoje eu não sei se era de gato mesmo, diziam que sim. Nada disso podia faltar. E até o xixi vindo da arquibancada superior fazia parte da festa, que era ver o meu Baêa jogar.
Quem não deve sentir falta da Fonte Nova é o pessoal do aterro sanitário. Foram muitas goleadas e títulos perdidos. Tentaram por duas vezes conquistar o Brasil na nossa casa. Muita audácia deles achar que poderiam fazer a festa ali.
Falando em aterro sanitário, o pessoal de lá não deve esquecer o mito que eles criaram pra nós: Raudinei, o anjo aos 47. Essa foi uma das minhas maiores alegrias no futebol, e tenho certeza que a de muitos também.
Se chorei ou se sofri, o importante é que emoções eu vivi, dizia um certo rei. Sofremos também, choramos, fomos maltratados algumas vezes, só que nunca nos sentimos tão bem num lugar para receber nossos ilustres convidados. Eles vinham, mas tinham receio de vir e, na maioria das vezes, saíam tristes.
E a vida, por meio dessas que ela faz, quis que fôssemos nós, os donos de fato dessa fonte, as testemunhas do destino cruel, tão mal traçado, que coube a ela. Não conseguimos fazer a festa que ela merecia. No dia em que sacramentamos a nossa volta à Serie B, ela não suportou e se partiu, levando consigo alguns torcedores.
Amanhã ela estará, definitivamente, sob pá de cal. Não sei se teremos novamente um lugar para chamar de nosso, como já foi a Fonte Nova. Só espero que ela não tenha ficado com as nossas melhores glórias, e que outras possam vir.
Vá em paz, nossa casa!
Saudações Tricolores!
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