Em meio à comemoração do título em Pituaçu, a torcida do Bahia passou para dentro do campo uma bandeira da Bamor, e gritava para que alguns jogadores fossem balança-la. O primeiro deles foi Gabriel. A imagem de Gabriel levantando a bandeira da Bamor, após os pedidos gritados desde a arquibancada, representa, pra mim, o que de fato é o Bahia. Esse time de futebol que extrapola as fronteiras do gramado, os muros do estádio, e veste a cidade com as suas cores.
Gabriel balançando a bandeira da Bamor representa a ligação umbilical que o time do Bahia tem com a torcida. É a torcida que joga junto, que entra em campo. No caso de Gabriel, aliás, é literalmente a torcida entrando em campo e jogando. Gabriel, nosso menino de ouro, cria da base, mas com raízes nos babas de Salvador. Antes de tudo, um torcedor do Bahia. Com DNA de campeão. Essa história é inacreditavelmente surreal, é cinematográfica. E é nossa. O neto de um dos campeões brasileiros de 59 é descoberto nos babas de Salvador e, pouco tempo depois, é alçado à condição de craque do time (e do campeonato), com direito a gol e tudo na final.
Mas o Bahia, e essa torcida apaixonada, também conseguem transformar em Baêa fanático gente que não é baiano nem nunca teve qualquer ligação com a/o Bahia. O que dizer de Marcelo Lomba? Carioca, criado no Flamengo, e que, com menos de 1 ano de clube, parece ser um dos mais entusiasmados jogadores vestindo nosso manto. Descobriu aqui o que é ser valorizado, homenageado, exaltado. E retribui não só com defesas incríveis e uma capacidade técnica invejável, sendo o melhor goleiro do Brasil, mas com uma impressão genuína de amor ao clube e de satisfação em jogar aqui. E jogar para essa torcida que joga junto.
E Falcão? Nervoso como um torcedor de arquibancada. Tinha muito em jogo pra ele também. Se ele não estava num jejum de títulos de 10 anos, estava numa trajetória pessoal de ter que provar, a cada dia, que é um técnico competente e que pode ser vitorioso. E, por isso o nervosismo, foi expulso nos dois jogos finais. Extrapolou, xingou, ajoelhou no chão em desespero. Mas comandou o time. Palavra-chave: comando. Os jogadores jogavam por ele também. Teve a visão tática necessária para que, mesmo contrariando a maior parte da torcida – e este colunista, entrasse com 3 volantes e, mesmo assim, o time conseguiu fazer 3 gols. Para isso, precisava contar com os jogadores numa boa jornada. E contou. Gabriel e Lulinha participaram demais do jogo. Mas, não só eles.
Diones e Hélder. Devo um pedido de desculpas a eles. Já pedi a cabeça de ambos diversas vezes por jogos anteriores, mas preciso fazer esse mea culpa. Hélder, que partidaça! Correu o campo todo, sempre procurando jogo e tentando organizar o time, além de combativo atrás. Um carrinho salvador no segundo tempo, dentro da área, valeu por um gol. Gol que Diones, de fato, fez. O gol do título. Muito além de esquema tático e de escalações, Falcão conseguiu fazer Diones e Hélder evoluírem uma barbaridade, sobretudo nessa reta final do Baiano.
Enfim, somos campeões. Não dá pra falar mal de ninguém após um título desses, dessa maneira briosa que foi. Como reclamar da falha de Donato no primeiro gol, se só chegamos a final por conta do seu gol salvador contra o Conquista? Como reclamar da grossura de Fahel se ele fez o importantíssimo gol de empate poucos minutos após levarmos o gol? Como reclamar do pênalti bobo de Diones se o cidadão tava lá pra conferir o nosso terceiro? Não há o que reclamar. Hoje não. Ganhamos o título porque o regulamento nos favorecia. E só tínhamos essa vantagem porque, na primeira fase, ganhamos vários jogos. E acho que todos os nossos titulares, em algum desses jogos, pôde ter um momento de brilho. São todos campeões.
O vice-campeão vendeu caro o título. Foi um jogaço. Eletrizante do início ao fim. E com o Bahia tem sido assim. Fora o acesso, conquistado com algumas rodadas de antecedência, todas as nossas alegrias recentes foram suadas ao extremo. Lembram do antológico gol de Charles, no apagar das luzes do fundo do poço que era a Série C? Aquele gol, pra mim, marca o início do ressurgimento do Tricolor de Aço. Consolidado agora, pouco menos de 5 anos depois, com um título que, ainda que seja o nosso 44º, não é só mais um, já é histórico.
O Bahia está, futebolisticamente falando, reerguido, como manda sua tradição. Vencedor em seu estado e jogando para conquistar também títulos nacionais. O Bahia foi forjado assim desde seu início, e é por isso que, pra mim, o Campeonato Baiano é só o começo. A Copa do Brasil é uma realidade bem possível, assim como lutar entre os primeiros do Brasileiro da Série A. É disso que somos feitos. Amor, paixão, suor, sangue, lágrimas e medalhas. De campeão.
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