Salvador, 05 de maio de 2024.
Domingo é um dia estranhíssimo do ponto de vista alimentar para a população Soteropolitana, quiçá, a população brasileira. Dentre as inúmeras tradições dominicais estão os almoços de família, quando todo mundo que carrega o mesmo sobrenome se reúne numa gigantesca mesa para comer refeições maravilhosas como feijoadas, cozidos, macarronadas, lasanhas, temos também as famílias que optam pela compra de galetos assados para pôr ao centro de suas mesas com acompanhamentos que quase sempre envolvem farofas, saladas e o brasileiríssimo feijão com arroz e, por fim, temos as famílias que escolhem sair para comer em restaurantes. O almoço de domingo é um espetáculo à parte num dia que costuma não ser de grande intensidade. Em busca de um rango rápido, saboroso e diferente, pus-me a caminhar em direção à feira, ainda sem um cardápio definido. Eis que tenho uma ideia: – moqueca de ovo. Imediatamente entrei em contato com a família para comunicar a decisão e levantar os ingredientes que faltavam ser comprados para fazer o mise-en-place.
Em meio à busca de temperos verdes, legumes, azeite de dendê, leite de coco e camarões secos, encontro meu amigo Lázaro. Ele não estava bem, um semblante meio consternado, envergonhado, um olhar perdido. Estranhei e perguntei: – Meu amigo, como você está? E ele me respondeu: – ‘‘Cara, estou preocupado, uma sensação estranha, de Déjà-Vú’’. Divagamos por alguns minutos enquanto fazia as compras na feira e chegamos ao motivo da baixa energia do nobre amigo: um trauma do passado. Esse indivíduo, também tricolor de aço, sentia-se confiante para a partida de logo mais contra o Botafogo, afirmou que o Bahia iria brocar o ‘’glorioso’’ lá no tapetinho de pegar baba (que me perdoe os entusiastas de grama sintética) e que ele precisaria ser muito forte para conter a empolgação, afinal, 2019 continua muito vivo em sua mente. Voltei para casa pensativo, cozinhei a moqueca, que modéstia a parte ficou muito saborosa e refleti a tarde inteira sobre o assunto discorrido naquele diálogo.
Horas depois, as suspeitas se confirmaram. O Bahia furou o bloqueio da equipe carioca com os gols de Everaldo e Rafael Ratão. Aliás, precisamos falar do gol do roedor de grande porte. Lembrando lances como o de Toni Kroos e Vini Jr ou até mesmo o de Kaká e Ronaldo na copa de 2006, o meia Carlos De Pena achou um passe espetacular quebrando não-sei-quantas linhas do adversário e botou Rafael de frente para o gol para driblar o goleiro John e entrar de bola. Aliás, temos que ressaltar o movimento de Rafael nesse lance.
Muita gente se pergunta como um jogador que não tem grandes valências técnicas como o nosso atacante consegue se colocar em condição de gol com tanta facilidade e relembro uma citação do grande Johan Cruyff: – ‘’Futebol é um esporte que se joga com a cabeça, as pernas estão lá apenas para te ajudar’’. Com a presunção de falar de Rafael Ratão e de Cruyff no mesmo texto, explico: Rafael ataca os espaços sempre buscando o movimento contrário ao do defensor adversário. Observem como saem seus gols e seus lances de perigo. Quase sempre livre de marcação. Dessa vez não foi diferente, quando Gregore, que estava compondo a última linha de defesa salta para tentar uma ação de desarme onde presumiu que a bola iria, Rafael aproveitou o intervalo, fez o facão e Carlos, com absoluta precisão, fez o lindo passe para deixá-lo livre, leve e solto para fazer o gol do triunfo.
E voltamos ao trauma de Lázaro, que também é o meu e acredito que seja o de boa parte dos torcedores tricolores sub-30: o ano de 2019. Está cedo, são apenas cinco rodadas, mas o Bahia já parece que vai nos dar esperança de novo. Peço licença aos torcedores mais experientes, que já vivenciaram o Bahia glorioso, campeão, participante da Libertadores, mas, nós não pegamos essa fase e qualquer coisinha miúda como esse ano já nos traumatiza. A torcida rival no afã da sua megalomania nos acusa de sermos traumatizados pelo campeonato baiano de 2013, mas, garanto que se for feita uma enquete, o Brasileirão de 2019 ganha de lavada como momento que mais nos fez ‘coringar’. Não gosto nem de lembrar, mas esse Bahia está me fazendo sentir o mesmo. Eu sei que faz pouco tempo que estive aqui detonando tudo, pedindo um freio de arrumação e o sentimento é que fui atendido. O Bahia está com mais cara de equipe, parece ter recuperado o engajamento. Mas, o medo de ser só um momento, um conjunto de fatores, o nível de adesão dos recentes adversários nas partidas paira em nosso imaginário.
Será que dessa vez será diferente? Será que nosso Bahia vai manter o nível de atuação quando enfrentarmos adversários que nos pressionem? Ou será que é só uma gordurinha para queimar quando empenar? Ganhar de um forte adversário, que tem como característica de jogo pressionar alto, combater, desarmar, atacar rápido como o Botafogo empolga demais. Espero que seja o início de um ciclo virtuoso e que no final do ano, eu volte aqui para dizer que o trauma foi expurgado e que o sorriso tomou conta de vez do semblante tricolor.
BBMP!
comentários
Aviso: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do ecbahia.com.
É vetada a inserção de comentários que violem a lei, a moral, os bons costumes ou direitos de terceiros.
O ecbahia.com poderá retirar, sem prévia notificação, comentários postados que não respeitem os critérios
impostos neste aviso ou que estejam fora do tema proposto.