Em 19 de dezembro de 2014, há quase três anos, este colunista escreveu o seguinte, a respeito do recém-eleito Marcelo Sant’Ana, ao receber o recém-rebaixado Bahia das mãos de Fernando Schmidt:
(…) trata-se de um candidato eleito que representa uma força jovem, supostamente inovadora, e que representa uma suposta busca pelo elo perdido com o futebol moderno num clube nordestino semifalido que ainda vive de seu glorioso passado e de sua apaixonada torcida. Ao seu lado, um grupo bastante representado no novo Conselho Deliberativo, que se autoproclama “revolucionário”.
(…)
O Sr. Sant`Ana não tem direito de ser medíocre de forma alguma, sob pena de chafurdar no ostracismo de tantos ex-dirigentes fracassados, expurgado pela torcida: cujo corolário é a permanência do clube pelo menos no mesmo lugar de sempre.
(…)
Seguimos no aguardo de que esta força jovem e alegadamente revolucionária faça o que deve ser feito. Não levar o clube a Tóquio, e sim subir mais um patamar que não seja o de ser melhor que o Rival ou de fazer carnaval por causa de reserva de time argentino mediano; ou mesmo de comemorar não-rebaixamentos e triunfos efêmeros contra equipes do G12. Podemos ser muito mais do que isso!
Findo o mandato de Sant’Ana, o Tricolor não foi a Tóquio, não conquistou vaga na Libertadores, não conseguiu muita coisa além do mesmo décimo segundo lugar do que o atingido (há 4 anos) por um certo dirigente destituído, em um campeonato brasileiro no qual sobraram vagas para o Sul-Americano. Tomou uma biaba da Fênix Catarineta dentro de casa, cometeu erros capitais como a efetivação de um aprendiz de treinador em momento crítico, foi instável em muitos momentos e escapou do descenso (com folga) graças ao treinador Carpegiani, o qual extraiu o melhor de um elenco um tanto limitado, após cerca de setenta contratações em três anos. Devo ser justo ao relembrar que o mesmo Bahia do ex-presidente-jornalista chegou a duas finais da Copa do Nordeste, vencendo (bem) uma delas contra um grande rival – e tudo isso foi suficiente para reacender, na torcida, o bom ânimo, a esperança por dias melhores.
Fora de campo, Sant’Ana conduziu o Bahia a regularizar folhas de pagamento, parcelar e renegociar dívidas, a recuperar, junto ao agora vice-presidente, patrimônio sob ameaça de perdimento. Conseguiu fazer do Bahia assunto frequente nas rodas de conversa da grande mídia sudestina, conseguiu tornar alguns de seus atletas cobiçados pelo G12, e conseguiu, do mesmo modo, elogios da mesma imprensa do Sudeste no que diz respeito à sua “moderna” gestão.
O balanço da gestão Sant’Ana à frente do Bahia foi positivo de modo que a maior consequência foi a eleição incontestável do outro neófito-em-futebol Bellintani e da formação de uma base situacionista no Conselho Deliberativo jamais vista, sendo que praticamente metade deste colegiado é de “revolucionários”. Diante do exposto, contrariando o que eu temia em 2014, Sant’Ana, definitivamente, não foi medíocre, mesmo não sendo tão brilhante quanto dizem. No entanto, conseguiu deixar plantada uma semente a qual pode e deve ser cultivada com afinco visando-se o futuro.
Bellintani, durante a campanha, ignorou as acusações de alpinista político por parte dos seus adversários e soube bem enfrentar os rivais nos debates com discurso bem formulado, catapultado por um poderoso aparato de marketing, contando, também, com o desespero e algumas declarações desastrosas de candidatos e apoiadores rivais. Agora, tem o jovem presidente um desafio, tanto pessoal quanto institucional, que é dar continuidade ao legado de Sant’Ana e corrigir os erros cometidos dentro de campo, melhorando, ao menos, o padrão de colocações do Tricolor em Brasileiros.
O que me deixa mais tranquilo em relação ao novo mandatário do Bahia é que, se há algum projeto de alpinismo político de fato, este apenas se concretizará mediante uma gestão marcante e coroada de êxito dentro do prometido em campanha.
Não se deve esperar por títulos de impacto ou campanhas avassaladoras em competições nacionais e internacionais. Bellintani deve prosseguir na pegada de reforçar a parte estruturante, mantendo um mínimo de qualidade dentro de campo o suficiente para o clube assegurar o status já conquistado. Contudo, deverá o candidato se preparar para muitas pressões de torcida (mormente a mais imediatista) e imprensa (especialmente a charqueófila), treinando a serenidade e segurança demonstradas em campanha.
Quanto à oposição, esta deverá agir após as primeiras contratações e resultados do novo presidente. Espera-se desta que saiba ser mais propositiva e encontre, dentro do possível, novas ideias e não se limite a atacar a imagem pessoal de seus adversários e apoiadores. É assim que é a democracia, e é assim que se planta a semente da alternância no futuro.
Saudações Tricolores e boa sorte, Bellintani!
Desejo, a todos que fizeram e farão o dia-a-dia nosso clube, bem como a toda Nação Tricolor, boas festas e um 2018 repleto de glórias!
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