A crença na vinda de um rei salvador é um mito português, decorrente da fé no retorno do rei Dom Sebastião, para livrar Portugal do julgo espanhol. Esse mito, denominado “Sebastianismo” tomou corpo após o desaparecimento do rei em Alcácer-Quibir (África), nos idos de 1578, durante a conhecida Batalha dos Três Reis e inspirou diversos movimentos no Brasil, particularmente no Nordeste, onde o fanatismo religioso e a insatisfação política fizeram crescer lideranças contestadoras em Pernambuco e na Bahia, onde ocorreu a mais famosa, a Guerra de Canudos. Diz-se, inclusive, que decorre da nossa herança ibérica o fato de que, a cada novo ciclo eleitoral, nos vemos às voltas com a procura por um candidato “salvador da pátria”.
Difícil não acreditar que esse mito lusitano acompanhe Renato Paiva. Afinal, sobressai a cada entrevista dele essa tentativa de nos fazer crer que a redenção está logo à frente, seremos salvos não por ações efetivas dos jogadores e da comissão técnica, mas pela crença de que iremos de “menos a mais” no campeonato que interessa – o Brasileirão. De concreto mesmo, estamos com menos pontos (12) que jogos (13) e com 20 gols sofridos, numa média superior a 1,5 gols tomados por partida. Uma campanha sofrível que só não é pior porque há times piores, para ficar num mal disfarçado pleonasmo. Paiva insiste em não conseguir organizar o setor defensivo, independentemente de qual esquema tático leve a campo e de quais jogadores escale, temos sempre uma certeza: levaremos gols em falhas defensivas.
Não gosto muito de focar em frases cometidas por jogadores, treinadores ou dirigentes, principalmente após as partidas. Sempre tenho a impressão de que, assim como na Guerra, a primeira vítima é a verdade. Mas, não posso deixar de me referir a dois momentos da entrevista de Paiva, após a primeira partida contra o Grêmio, sábado passado. O primeiro deles, quando admitiu que o primeiro objetivo do Bahia no campeonato é “não cair”, o que seria natural, no entender do treinador, pois o tricolor acabou de subir da segunda divisão. Nem vou criticar o fato de ter como meta “não cair” ou trazer à tona as campanhas de Cruzeiro e Grêmio, recém promovidos como nós. Minha crítica é que um time que trabalha para “não cair” não pode admitir exibições como a que teve diante do Grêmio, do Fluminense, do Cruzeiro, do Botafogo. Muito menos aceitar resultados como o havido contra o Goiás, concorrente direto no quesito rebaixamento. Não há nada de natural em perder pontos por falhas bizarras ou por apagões. Isso se corrige com treinamentos e concentração durante o jogo. Paiva e seus atletas estão a dever em ambos os quesitos.
O segundo momento que gostaria de relembrar é a confusão que Paiva faz ao ser cobrado pelas substituições. Propositalmente ou não, ele fez um jogo de palavras com as cobranças que recebeu por poupar jogadores e a contusão de alguns, como quem dissesse: quando não faço o que vocês querem sou cobrado e quando o faço também. Nota dez em retórica para nosso treinador, mas nota zero em seriedade e honestidade nas respostas. Esqueceu-se nosso técnico que as cobranças foram em momentos bem distintos. Quando deveria dar conjunto ao time, ele optou pelo rodízio e por poupar jogadores. Quando deveria poupar, ele usou jogadores repetidas vezes porque outros não renderam o esperado. Se as contratações passaram por ele, como fez questão de frisar, é dele também a responsabilidade. (Nota do autor: usei as palavras “seriedade e honestidade” justamente porque são aquelas que Paiva usa nas excessivas autoreferências durante as coletivas. Nenhuma duvida de que permeiem seu trabalho, mas andaram em falta nas respostas da coletiva de sábado passado).
Por falar em contratações, a janela se abriu e, ao contrário do especulado, não havia jogadores treinando e aptos a serem incorporados ao elenco. O grupo City ainda tem muito que aprender no futebol brasileiro. Quanto mais fragilidade se mostra em campo, maior o valor dos jogadores que se deseja contratar e, portanto, maior será o tempo de negociação. Infelizmente, não conto com muitos reforços antes de decorrida a metade do prazo dessa janela. Para nosso sofrimento…
E sobre a Copa do Brasil? O resultado, em si, dispensa maiores comentários. Fomos previsíveis em tudo. Inclusive, no futebol burocrático e modorrento que caracterizou a primeira etapa. Na segunda, mais do mesmo. Conseguimos ter bom desempenho ofensivo, mas tomamos novamente um gol no final do jogo em falha defensiva. É coincidência? Ou a equipe perde a concentração facilmente? Vamos bem apenas nos conceitos do ego de nosso treinador. Por falar nele, senti falta da presença de Daniel, poupado no sábado por conta do jogo de terça-feira. Cadê Daniel? Ah! Foi liberado para o Fluminense? Esqueceram de avisar Paiva… Como diria Zagallo, vamos ter que engolí-lo já que para o Grupo City deve estar a fazer o trabalho para o qual foi contratado! Bem que podiam, pelo menos disfarçar e fazer como no futebol americano: trazer um “orientador defensivo” para a equipe. Só nos resta mesmo torcer pelo Bahia e pela volta de Dom Sebastião, com a nossa redenção ainda em 2023… BBMP!!
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