Rio de Janeiro, 29 de março de 1960
Era o terceiro embate entre as melhores equipes do Brasil naquele ano. No corner azul estava o azarão do confronto, o campeão baiano, treinado por Efigênio Bahiense até a véspera daquele confronto, sucedido por Carlos Volante, lendário treinador argentino. Esta ali o Esporte Clube Bahia, o carregador de multidões, que se hospedara na ilha para se preparar para aquela final que parecia impossível ser vencida, afinal, no corner vermelho estava o maior escrete de todos os tempos: – o Santos de Pelé.
E não era apenas de Pelé não, era de Pepe, Coutinho e Zito. Uma verdadeira máquina programada para jogar futebol arte e obliterar adversários. Como dissemos, era o terceiro jogo da final. Explico: – nessa época, o regulamento previa que, em caso de nas duas partidas finais cada equipe vencer um dos jogos, haveria um terceiro jogo num campo ‘neutro’ para que fosse decidido ali o campeão. E não era qualquer campeão, era o primeiro Campeão Brasileiro. Pois bem, o Bahia venceu o selecionado Santista em plena Vila Belmiro por 3 a 2, mas, no segundo jogo, levaram 2 a 0, fora os ameaços, em plena Fonte Nova.
E chegamos ao fatídico dia supracitado no palco do Maracanã. O Santos, à bem da verdade, veio desfalcado do melhor jogador da história do futebol que estava lesionado para aquela partida. Mesmo assim, aos 27 minutos do primeiro tempo, Coutinho abriu o placar para o alvinegro praiano. 10 minutos depois, veio o empate com o craque tricolor Vicente, um dos maiores jogadores da história do futebol baiano. No primeiro lance do segundo tempo, a estrela do abissal centroavante Léo Briglia brilhou. Virada de placar do Bahia. A partir daí, segundo relatos da época, a partida descambou para a violência, a equipe paulista apelou, teve três jogadores expulsos enquanto o Bahia teve um. Ainda deu tempo para o fechamento do caixão com Alencar aos 31 minutos do segundo tempo. No apito final, o Bahia sagrou-se o Primeiro Campeão Brasileiro.
Aquele título deu ao Bahia a classificação para a Copa Libertadores da América, o primeiro clube brasileiro a representar o país na competição. O Bahia é repleto de histórias de pioneirismo em sua trajetória: Campeão no primeiro ano, um dos fundadores do clube dos 13, um dos primeiros clubes do país a adotar o modelo de Sociedade Anônima, anos mais tarde, o primeiro do nordeste a aderir ao modelo SAF (Sociedade Anônima do Futebol). Além de ser um dos primeiros clubes do país a se levantar contra a homofobia no esporte e possuir um programa institucional que visa cuidar dos seus ídolos que estiverem passando por dificuldades financeiras.
Corta para 2024 e teremos a chance de sermos pioneiros mais uma vez: – O primeiro time home-office do mundo. É isso mesmo que você leu, o Bahia deveria aderir ao modelo de trabalho onde o escritório do trabalhador é sua própria casa. Explicando minha hipótese: – Se independente do que o adversário, o campo ou a bola solicitar ao Bahia a nossa equipe se comportará da mesma forma, com os mesmos jogadores, sob a mesma escalação, com os mesmos defeitos, qual o sentido de todo mundo se encontrar para treinar? Qual o sentido de desenvolver análise de desempenho coletiva e individual? Qual o sentido de se analisar o adversário?
Essa proposta ainda traria uma série de economias financeiras em despesas fixas e variáveis. Inclusive, para 2025, o Bahia deveria montar o elenco com apenas 16 jogadores: os 11 que vão jogar em todos os jogos e mais os 5 que entrarão no decorrer da partida. Afinal, são sempre os mesmos. Estamos perdendo a chance de repercutir mundialmente com mais um pioneirismo. E tudo isso capitaneado por nosso treinador Rogério Ceni, o motor. E por que motor? Porque se você repete as mesmas coisas o tempo inteiro seja por orgulho, certeza ou vaidade, você é um motor.
Por exemplo, ontem. A partida pedia profundidade e um jogador de frente de zaga com um poder defensivo maior que o ‘’marcador via bluetooth’’ Caio Alexandre. O que Ceni entregou: – o mesmo de sempre. Resultado: – Bahia tomando 3 a 0 com menos de 30 minutos de jogo para um time inferior e desfalcado. Constrangedor. Deu certo por algumas rodadas e o motor achou que era eterno. E o Bahia pagando pelas convicções de um técnico orgulhoso. É coisa demais para minha vã filosofia.
BBMP !
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