ELEIÇÕES SE APROXIMANDO
Publicadas as chapas que concorrem à Diretoria Executiva do ECBahia, temos, naturalmente, o situacionista candidato à reeleição Guilherme Belintani e seu oponente Lúcio Rios, pela oposição.
Esperávamos mais das chapas postulantes, até mesmo porque a gestão Belintani merece ser muito criticada pelo que não fez dentro de campo (sim, nosso desempenho melhorou, mas já perdemos tempo demais em comemorar permanências de divisão e triunfos em Curitiba depois de trocentos anos). Inclusive, quem criticava as quinhentas contratações de jogadores encostados no passado, faz, hoje, a mesma coisa…
Jogadores vem e vão para o time de transição ou para o principal, não emplacam e saem. Quando saem, e vão bem em seus novos clubes, a torcida lamenta. Parece uma espiral sem fim. Ontem, as quatro latadas de Red Bull na cabeça do torcedor tricolor foram sintomáticas das deficiências técnicas do nosso elenco.
Apostas em treinadores emergentes já foram feitas à exaustão, quando, finalmente, chegou-se à conclusão que era necessário um técnico “macaco velho”, o que foi feito. Mano é bom, mas Mano não é milagreiro; e agora pode ser tarde demais.
Lúcio faz boas e pontuais críticas a Belintani, como é de se esperar de um bom oposicionista. Seu backstage político é por mim desconhecido, mas analisando-se o perfil do candidato, vejo que o mesmo, ex-debatedor frequente do fórum deste site, assim como eu, adveio do mesmo bloco de oposição à dinastia familiar que já governou o clube – ou seja, não parece ser nada de novo. Tal bloco, naturalmente, sofreu diversos rachas, porque é natural isso; mas os temas debatidos pelo oposicionista não me trazem lá muita segurança. Ele não parece propor, de forma fundamentada, como equacionar as deficiências de mercado de um clube nordestino que, hoje, tem orçamento competitivo mas não consegue emplacar. E por “emplacar”, entenda-se algo que não seja a conquista do putrefato campeonato estadual ou “melhor campanha dos pontos corridos” no brasileiro. Precisamos de títulos importantes, e não de eliminações para rivers e sampaios da vida.
O clube está em “construção”, diriam os críticos dos críticos, mas vejo que essa fase já foi superada. Não é repetir o mantra são-caetanense de “vamos ser campeões da zorra toda”, e sim, debater como fazê-lo. Inclusive, como salvar a divisão de base que parece estar fadada ao desaparecimento.
Falando em São Caetano, não entendi porque alijaram o seu cidadão mais ilustre do pleito eleitoral: parece que a sua candidatura tinha que estar atrelada a uma suposta representatividade política dentre os candidatos ao Conselho Deliberativo. Estaria o Bahia assumindo que as “siglas” funcionam, de fato, como partidos políticos? Apesar de eu ser um crítico mordaz da figura do folclórico torcedor, defendo até o fim seu direito de se candidatar. Isso é democracia.
“AÇÕES AFIRMATIVAS” NÃO É IDEOLOGIA POLÍTICA
Racismo é tema sensivel à minha pessoa, por motivos evidentes; e não poderia deixar de comentar isso, linkando com nosso Bahia. Todos assistiram ao brutal assassinato de um jovem negro em Porto Alegre, localidade que conheço um pouco, e é impossível passar ao largo da indiferença em relação a este assunto.
Falar de ações afirmativas é uma necessidade social no nosso cínico Brasil, aquele país que finge que não vê e trata o assunto mediante indiretas, gestuais e entrelinhas. Os algozes do rapaz morto, possivelmente, eram tão pobres quanto ele, mas a gente se questiona se o falecido fosse branco, se teria ou não o mesmo destino. A vítima supostamente errou, ameaçando uma funcionária do mercado após uma discussão. Talvez isso já fosse o suficiente para que seus agressores, brancos, o condenassem à morte ou ao seviciamento extremo, face ao seu ato de “extrema rebeldia”, em vez de chamar uma viatura e proceder às tratativas regulares. Nunca saberemos os “ses”, mas quem conhece a capital gaúcha sabe o quanto determinadas cores tem o seu “devido lugar” na sociedade local, e ultrapassar esses limites invisíveis, passível de punição – física, verbal ou velada.
Falar do assunto incomoda, e suscita comentários do tipo “falar disso só chama a atenção para mais racismo, deixa isso pra lá”; ou “somos um povo feliz, miscigenado e cordial”, até parafraseando Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda… até dentre um grupo de juízes pernambucanos, um convite para discutir o assunto teve nota de repúdio de um subgrupo contrário. “Somos todos irmãos, não vamos dividir, porque é isso que eles querem”. Eles quem? Partidos de certa corrente política, hoje longe do poder hegemônico nacional.
E isso chega ao Bahia: não foi a campanha de marketing de Belintani (ao meu ver, muito positiva) que foi responsável pelo mau desempenho em campo, e sim, a incompetência mesmo. Deu-se foco demais nas “ações afirmativas” e esquecemos de propor como fazer Gilberto jogar bola, por exemplo. Ninguém tá preocupado com a mão de quiabo do loiríssimo Douglas Friedrich ou da inoperância do negro Elias no meio-campo.
Do ponto de vista ideológico, a igualdade pela igualdade (a Lei é para todos, sem distinção) se confronta com a equidade, com empoderamentos assimétricos numa sociedade assimétrica. Não é isso que pretendemos discutir, posto que é algo mais acadêmico; e sim, que possamos estimular mais e mais negros a dizerem “sim, posso ser um grande executivo, um presidente da república ou um médico famoso”, e para tal, a grande massa dos descendentes de ex-escravos que jazem em favelas e bairros periféricos precisam ter seu orgulho fomentado e auxiliados de alguma forma, seja lá como for. “Que o meu cabelo não seja mais incômodo”; “que eu possa frequentar uma faculdade sem ser olhado com espanto” ou “que eu possa comprar no shopping sem ser seguido por câmeras de vigilância ou presencialmente por vigilantes patrimoniais”. É disso que estamos falando.
Deixem Belintani fazer o marketing dele em paz, e se ele quiser se aproveitar disso para se eleger prefeito ou deputado, quem aperta o “confirma” é cada um de nós, torcedores (vota nele quem quer). Precisamos debater de modo a quebrantar padrões sociais, seja no futebol, no meio acadêmico, no varejo, na indústria; em todos os setores. Precisamos martelar esse assunto até chegar na cabeça do garoto de hoje que será o segurança de supermercado de amanhã; e que o mesmo possa agir diferente se um dia se deparar com situação semelhante.
Quem não quer discutir isso quer manter as coisas como estão, seja por indiferença, medo, ódio, ou necessidade de manter privilégios. Isso não é assunto de esquerda ou direita ou centro: é assunto que interessa a todos nós, brasileiros. Quebrando paradigmas e analisando-os, um dia chegaremos ao ponto de não mais falar desse assunto, passando a cor de pele a um mero tom de vários cinzas da paleta da vida.
Saudações!
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