é goleada tricolor na internet
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Publicada em 9 de julho de 2019 às 13:03 por Autor Genérico

Autor Genérico

O nove de julho na História

Há exatos oitenta e sete anos, em 1932, os paulistas iniciaram um levante militar contra as tropas federais, estas comandadas pelo revolucionário/ditador/caudilho Getúlio Vargas, em defesa da constitucionalidade da eleição do presidente café-com-leite Júlio Prestes, respondendo ao golpe de Estado conhecido como Revolução de 1930.

Como todo levante, revolução ou guerra, é comum os historiadores elegerem um fato ou factóide como o estopim da revolta: no caso da contra-revolução de 1932, a morte dos jovens militantes estudantis de iniciais MMDC, em praça pública, após confronto com forças do Estado fiéis ao governo federal. Havia, na ocasião, uma grande instabilidade, de mais de 40 anos, desde o pós-golpe da proclamação da República, período em que a atual forma de governo e o duvidoso federalismo brasileiro foram implantados às custas de um vultoso derramamento de sangue brasileiro, em várias regiões do país.

Neste mesmo 9 de julho, desta vez em 2013, ocorreu o que se chama de estopim do processo de readequação do clube ao atual panorama futebolístico nacional e internacional: a sentença que decretou intervenção judicial no clube, em resposta a sucessivos desmandos administrativos de notória família então no comando da agremiação.

O objeto da referida intervenção não foi necessariamente relacionado com as péssimas práticas de gestão e suspeitas de malversação de recursos do Bahia: partiu de um conselheiro, o qual sentira-se alijado do processo decisório da Assembleia Geral enquanto votante, o que pôs as eleições para presidente do clube sob suspeita. Contextualmente, tal brecha processual permitiu mudanças que foram muito além de uma simples filigrana judicial.

Ao mesmo tempo que o levante paulista de 1932 guardava estreita relação entre a crescente hegemonia do Estado de São Paulo no contexto econômico e industrial do Brasil, a intervenção do Bahia não ocorreu por acaso. Rebaixamentos para sub-séries do campeonato nacional, derrotas acachapantes para o maior rival e para adversários sem expressão no futebol brasileiro; uma demanda reprimida por maior participação e controle nos atos do clube – quando o torcedor e/ou sócio passaram a exigir transparência sobre o que o clube faz da sua paixão – são fatores basilares que sustentam a ação judicial de autoria de Jorge Maia, culminando com a decisão retrocitada.

O contexto de questionamentos políticos em âmbito nacional, com a criação de grupos políticos organizados pela sociedade civil; a demanda social gerada pelo “padrão FIFA” do pré e pós Copa 2014, as mudanças impostas pelo Estatuto do Torcedor e a abertura dos clubes brasileiros ao grande capital financeiro e midiático estão inseridos no contexto histórico da época: velhas formas de se fazer política têm sido questionadas, dentro e fora do esporte. No futebol, o modelo hegemônico do dirigente abnegado, folclórico, de personalidade acima de qualquer suspeita, cujo posto seria inalcançável aos “torcedores comuns”, tem sido derrubado e colocado sob suspeita, inclusive no âmbito criminal.

É notório que as mudanças na política nacional encontram paralelo com a forma que os torcedores veem o seu clube e desejam inserir-se nos processos decisórios dos mesmos. A coisa pública merece respeito da mesma forma com que os gastos de um clube de grande torcida, no qual os seus sócios tem seu lugar e vez.

O multipartidarismo no âmbito do Esporte Clube Bahia, por mais que se questionem algumas correntes e práticas de gestão, é prática salutar e reflexo das mudanças democráticas no campo do pensamento. Surgem grupos organizados que pensam o clube, que interagem com o torcedor nas redes sociais… dirigentes que levam a sério os comentários dos torcedores, por mais simplórios que sejam, sem mandá-los tomar em certos lugares; dirigentes e torcedores que discutem planejamento, austeridade e eficiência nos gastos, em detrimento do imediatismo… o Bahia, certamente, mudou.

O 9 de julho de 2013 teve o seu estopim, com certeza: mas este processo não se iniciou naquele dia: foi fruto de um aprendizado, de uma vivência… do aprendizado pela dor, conforme já pontuei aqui em coluna da época – porém um aprendizado de muito amor pelo Bahia, no qual o torcedor volta a sonhar, sonhar com voos mais elevados, em busca da formação de uma consciência futebolística-cultural que, certamente, há de ultrapassar fronteiras um dia.

Parabéns, nação tricolor! Parabéns, Bahia, pelo dia do seu renascimento!

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