Não iria encantar-me uma belíssima campanha na série B, mesmo que culminando no “título”, porque se isto fosse bom, gozando o “campeão” dos mesmos benefícios na séria A, em tese, o acesso não seria necessário. Melhor seria continuar na série B para conquistar o bi, o tri, o tetra etc. e tais, mas nesse caso seriam dois campeonatos – o que por si só é contrassenso. Portanto, título de séria B vale o acesso e fim de papo. Quem sai de lá, sai triturando seus paradigmas e tirando das costas uma carga de humilhantes estigmas para criar novos paradigmas na elite do futebol brasileiro.
O fascínio da série A para os clubes brasileiros é como se fosse o fascínio das montanhas sobre os alpinistas. Estar na Primeira Divisão representa estar no topo da montanha, no ninho das águias onde a ambição é uma constante luta para conquistar o mundo. As andorinhas até chegam ao cume, mas não fazem ninhos, chegam e logo descem ao sopé da montanha – a metáfora é só para explicar que sem estrutura nenhum clube se sustenta na série A.
Se o Bahia de agora briga para não cair é devido ao aprendizado pelo qual passa o grupo que o adquiriu, que forçosamente precisou vivenciar essa “guerra” que é o futebol brasileiro, para entender o métier e aprender a batalha de igual para igual. Não à toa, o CEO do Bahia veio a público e se pronunciou sobre investimento de porte alto que será feito já a partir do próximo ano. A cultura do nosso futebol é imensamente diferente da cultura do futebol europeu, devido a isso seria impossível chegar no Brasil arriar as malas e fazer tudo funcionar como num passe de mágica.
Encarar nossas experiências como fontes importantes de recursos e de riquezas é o caminho que nos leva ao destino programado. O medo e a intolerância em relação ao futuro são possivelmente reflexos das sensações negativas em experiências passadas e agora projetadas em nosso futuro. Entretanto, é preciso entendermos que um bom planejamento a médio e longo prazos potencializa as chances do sucesso e minimiza os riscos envolvidos para chegar ao objetivo.
Estou entre os mortais que acham que a cada vez que nos lembramos de uma experiência rotulada por nós mesmos de negativa, recuperamos as sensações ruins que tivemos na vivência original, acrescentando mais alguma coisa pelo exagero, por crenças adquiridas posteriormente, por julgamentos precipitados, ou pela crítica impiedosa sem a devida analogia dos fatos. A paixão é uma péssima analista.
O que venho escrevendo ultimamente pode não ter apelo, entretanto tem conteúdo. É só perceber através de uma razão muito simples: a realidade dos fatos contraria as expectativas exacerbadas e isso causa traumas. Critico sim o imediatismo; não comungo com quem acha que dentro de uma transição sensível pode se planejar algo com eficiência; não ajudo ninguém a fazer caçada às bruxas a cada fase da lua; também não vejo o caos onde há vida, trabalho e meios facilitadores. Como disse na coluna anterior, prefiro ver o copo meio cheio a meio vazio. Parece filosófico isso, mas na verdade é convivência com o otimismo.
Nos fluxos e refluxos deste ano, o torcedor do Bahia convive com a incerteza como se o Tricolor fosse o patinho mais feio da lagoa. Esquece o torcedor que do 11º colocado na tabela do Brasileirão para baixo estão todos de vela nas mãos, uns com elas apagadas e outros com elas já acesas. Isto não é um consolo, é uma realidade inegável matematicamente. Logo, o Bahia não é o patinho mais feio do lago, tem angustiados concorrentes. Na sexta-feira passada o Patinho fez uma linda e inesperada festa no lago e trouxe para ela muitos convidados.
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