é goleada tricolor na internet
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Publicada em 30 de março de 2013 às 00:00 por Autor Genérico

Autor Genérico

Novos tempos e velhas práticas

Amanhã celebrar-se-á a ressurreição de Jesus Cristo. Para os religiosos cristãos católicos é tempo de renovação, de reflexão e de comemorar em família, de voltar a frequentar churrascarias, de ovos de chocolate cada vez mais caros e de, na segunda-feira, voltarmos a praticar os pecados nossos de cada dia… Conforme o fetiche humano pelas efemérides, seguimos em frente rumo a mais um feriado prolongado de farta libação alcoólica, da boa moqueca de peixe, de matar os diabéticos de raiva… e rumo ao dèbut de uma Nova Fonte Nova daqui a uma semana.

Mais de cinco anos após a lamentável e evitável tragédia que ceifou sete jovens vidas na antiga praça esportiva, finalmente um belo e imponente estádio surge, sinalizando uma nova era no futebol baiano e brasileiro, a era das “Arenas Multiuso”. Conceito de espaço para a prática do futebol e de mega-shows, surgem as arenas sob pretexto para a Copa-2014 e as Olimpíadas-2016 (no caso de Salvador, que sediará jogos do futebol no evento olímpico).

Bilhões de reais foram gastos por governantes a fim de se garantir um padrão de “primeiro mundo” aos estádios. Licitações eternamente sob suspeita, contratos nem sempre transparentes, empreiteiras cada vez mais ricas e dirigentes de futebol com um largo sorriso de orelha. Muitas críticas, compreensíveis e justas, foram ditas por formadores de opinião quando apontam que “o Brasil tem outras prioridades” em vez de ficar fazendo um monte de estádio. No entanto, muito antes da escolha do Brasil como sede da Copa, nunca vi estas prioridades sendo colocadas em prática…

Certamente, há o “lado positivo” do que se chama “legado da Copa”, com as tais obras de mobilidade urbana, de infra-estrutura, etc. No caso de Salvador mesmo, resta por exemplo a esperança na revitalização do Centro Antigo, e a melhoria das cercanias destes bairros, assolados pela violência, pelo tráfico de drogas e pelo abandono. Apesar desse legado, vemos um metrô montanha-russa que virou motivo de piada nacional e internacional, com seus longos seis quilômetros ligando o nada a lugar algum; vemos uma cidade endividada e um prefeito neófito, politicamente sem forças para promover grandes mudanças no curto prazo; vemos uma Salvador de renda per capita e qualidade de vida apontada como algumas das piores do país, com trânsito caótico e segurança pública idem… durante a competição, tudo serão flores num raio de 20 Km do evento e nos principais pontos turísticos; mas após a competição, engana-se quem pensa que as coisas vão mudar, porque não vão mudar em essência.

Na verdade, quando falamos em mudanças no parágrafo anterior, falamos em renovação mesmo, em mudanças estruturais para a população da cidade de Salvador e o Estado da Bahia. Estou mentindo quando falo que NADA vai mudar. Por exemplo: o preço dos imóveis nas cidades-sede da Copa vem disparando para valores irracionais, especialmente na Capital Federal. As grandes empreiteiras assumem obras (do “legado”) cada vez mais vultosas e resta saber de onde vem tanto dinheiro e para onde vai tanto dinheiro público. Ok, algumas coisas mudam, porém mudam para o lado do capital, e não da capital necessariamente.

Por falar em capital, temos um estádio em Salvador dotado de grande estrutura de conforto, com instalações no melhor estilo Champions League. Foi-se o tempo das frias arquibancadas de cimento da Velha Fonte, do comércio informal descontrolado em suas cercanias, do público nas escadas e muretas, da Bamor cantando de pé e pulando sem parar durante os noventa minutos… agora é tudo mundo sentadinho, em suas cadeirinhas. Interessante isso, não? Pelo que vimos recentemente, quando da venda dos ingressos para o jogo inaugural da Nova Fonte, será necessária muita paciência para conter o ímpeto de uma massa que ainda carece de um pouco mais de civilidade.

Por falar em capital, no sentido de pecúnia, o Bahia deverá jogar exclusivamente no belíssimo estádio, inclusive contra catuenses e camaçaris, mobilizando uma imensa e cara estrutura para os jogos do grandioso e titânico Campeonato Baiano, já em curso. Fica o bom e caro estádio de Pituaçu, reformado às pressas pelo Governo do Estado para albergar o Tricolor de Aço no pós-tragédia de 2007, relegado a segundo plano para galícias e ypirangas em verdadeiras partidas de várzea… pronta a Fonte Nova nova, resta agora convocar de Ivete Sangalo à Madonna para tornar Salvador a capital mundial do entretenimento a fim de recuperar o investimento. Enfim, quem tem a melhor explicação para o porquê disso é Sua Alteza, o Presidente do Esporte Clube Bahia, e seus briosos vass… digo, conselheiros deliberativos.

Enquanto isso, nas outras cidades-sede, a pequena Cuiabá assiste uma onda de especulação imobiliária sem precedentes e obras atrasadas, ao passo que a grande cidade de Manaus, também com obras atrasadas e um trânsito absurdamente caótico, possivelmente deverá apertar o passo com as famigeradas licitações emergenciais se não quiser passar vergonha. Ao passo que temos um estádio infinitamente aquém do que a Velha Fonte proporcionava em termos de público, Brasília tem um gigante, caro, sobrefaturado e imponente estádio para deleite de sobradinhos, brasilienses e ceilândias, e de vez em quando, o Flamengo… certamente quem está lucrando com isso não são os cidadãos destas capitais, torcedores incluídos.

Os tempos avançam e jamais regridem. O futebol brasileiro se elitiza cada vez mais, tanto nos orçamentos dos maiores clubes versus os menores quanto no preço dos ingressos, o que deverá afastar mais o povão, a massa destas praças esportivas. Dos direitos federativos de atletas aos milionários contratos de publicidade, everything is business no nosso ludopédio. A espontaneidade do torcedor caricato, a pressão de mais de 60 mil pessoas empurrando o time, dará lugar a um reduzido público voltado tão-somente ao espetáculo dos noventa minutos, ao passo que a grande massa deverá contentar-se em assistir no bar da esquina o seu clube do coração e se deleitar com as pérolas da imprensa local para poder atualizar-se a respeito do seu time. Futebol tende a se equivaler aos grandes espetáculos teatrais e shows de grandes artistas.

Na Bahia de dirigentes dinásticos, de conselheiros coniventes e imprensa sequiosa de escândalos, Souza segue as palavras do seu empregador em recente treino do Bahia e manda alguém se sodomizar… embora tenha dito que não foi direcionado ao treinador Jorginho, certamente em seu íntimo, o atacante tricolor deseja a toda a torcida que tanto ela como o Bahia se explodam (pra não dizer outra coisa). Este mesmo Souza da fracassada Copa do Nordeste e das parcas atuações no Campeonato Brasileiro do ano passado, quando, por incrença que parível, era o salvador da equipe e infelizmente dependíamos do seu futebol como nunca. Eis o rei da baixaria parte dois: seguindo estritamente as políticas da empresa para a qual trabalha.

Novos tempos, novos rumos aguardam o futebol baiano e brasileiro. Assim como os ditames de renovação da páscoa nunca são cumpridos pelo homem mediano, o mesmo se aplica ao futebol brasileiro em tempos de Copa. Evoluímos científica e tecnologicamente, porém ainda insistimos em manter as velhas práticas de sempre quando o maior e mais antigo de todos interesses humanos está em jogo. O Capital, ele sempre, é quem manda e quem comanda. Futebol é uma mina de ouro, e é por tal ouro que o absolutismo durou tanto tempo na Humanidade, e suseranos e vassalos se mantinham mutuamente dentro daquele sistema. A hora da iluminação no futebol baiano está cada vez mais distante, e sob o palco de moderno estádio e moderno centro de treinamentos, vemos a alternância de poder no Esporte Clube Bahia cada vez mais distante. Ganham todos com isso, menos o torcedor tricolor, inclusive o quadro de sócios “plebeus” do clube. Do mesmo modo que os cidadãos do Distrito Federal veem seus caríssimos impostos convertidos num gigante de concreto o qual servirá apenas a uma parcela da população em breve, o torcedor assiste ao Bahia seguir cada vez mais distante da “nova ordem do futebol”, concentrado na mão de duas a três pessoas e a cada ano alimentando uma eterna e infrutífera esperança de um dia poder ser algo maior do que era.

Em tempo: espero que a renda do primeiro clássico inaugural da Nova Fonte possa ser revertida, em parte, às famílias dos sete mortos em novembro de 2007. Seria o mínimo e o mais justo, em vez de homenagens sem sentido quando algo que poderia ter sido feito há mais tempo não o foi.

Saudações Tricolores!

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