Agora que já chegamos a quase metade da competição e o Bahia praticamente já fechou o elenco, creio que eu possa fazer uma análise mais precisa sobre o cenário atual e o que nos espera num futuro próximo.
Começamos bem a disputa da Série B. Chegamos a liderar durante algumas rodadas. Antes da Copa tivemos alguns tropeços que culminaram com queda na tabela. A torcida ficou eufórica com o início, mesmo ainda não sentindo firmeza no que via em campo.
Aí veio, a meu ver, um erro de estratégia: colocar um time considerado B para disputar o Nordestão. Ora, se estávamos iniciando uma pequena reformulação no elenco, e precisávamos dar mais conjunto ao grupo que começou na Série B, como não aproveitar essa competição para entrosar um pouco mais os possíveis titulares? Dar férias a um elenco que necessitava de mais trabalho, pareceu-me uma incoerência.
Não compactuo com a idéia de desmerecimento a essa ou àquela competição. Pra mim, todas são importantes. É assim que se faz um clube glorioso, respeitado. Os títulos conquistados terminam sendo o diferencial para qualquer agremiação.
Poderíamos ter entrado no Nordestão com uma equipe mista, aproveitando os jogadores titulares e alguns reservas. Mesclando de uma partida pra outra, testando possibilidades e, acima de tudo, não expondo o clube. Ser um dos piores de uma competição como essa fica muito ruim para uma imagem já desgastada, ainda mais se considerarmos o fato de que já estamos há anos na fila de espera por um título.
No retorno pós-Copa, encontramos um time apático, que foi abatido facilmente pelo Guaratinguetá. Vencemos o São Caetano, perdemos pro Náutico, empatamos com o Figueirense em casa… Por fim, no último sábado, conseguimos superar o ASA-AL. Estamos numa posição intermediária da tabela, porém está tudo muito embolado.
Dentro de campo, ao contrário de muitos, vejo um time organizado, mesmo não concordando com o esquema adotado por Renato (4-5-1). Futebol pra mim é simplicidade, e quanto mais eu vejo novas tendências, mais fico assustado. De todas as formações que conheço (4-3-3, 4-4-2, 3-5-2, 4-3-1-2), essa escolhida por nosso treinador é a que menos me agrada. Jogar com um apenas na frente é um sacrifício desnecessário, ainda mais se esse único atacante tiver as características de Rodrigo Gral.
Olhando para o que temos, acho que um meio-campo com Marcone, Ananias, Rogerinho e Morais poderia ser uma boa. Na frente com Gral e Jael, teríamos mais força ofensiva. Do jeito que vejo o time hoje, em alguns momentos da partida, há falta de organização, jogadores marcando no mesmo espaço, deixando outros vazios e com um pouco de indecisão, o famoso deixa que eu deixo.
Nossa carência maior é na lateral-direita. Pelo que vi, acho que Fábio Bahia vai ser utilizado por ali. Pelo menos, não devemos ter tanta bola nas costas, já que o forte dele não é o apoio. Isso pode facilitar o lado de Ávine, que tem ido pouco ao ataque. Se fosse possível, contrataria mais um zagueiro e um meio também.
Renato tem o grupo nas mãos. Ele sabe o que está fazendo. Conseguiu montar uma espinha dorsal forte, mesmo com certa limitação. O time sabe o que faz, pode faltar um pouco mais de calma ou qualidade, mas os jogadores trabalham bem a bola e chegam com freqüência ao ataque. A ansiedade é que atrapalha em alguns lances.
Agora Renato está aproveitando o Nordestão para dar ritmo e trabalhar outros jogadores. Vander, Aleílson e Adriano estão no caminho certo, tornando-se boas opções no elenco. Bruno Otávio e Hélder vão nos fazer esquecer Leandro. Bom mesmo é ver a firmação de Marcone e Ananias. Longe de serem craques, são apenas constatações de que calma é importante nesse processo com jogadores da base, e que nem sempre a torcida tem razão.
Rogerinho é o motorzinho do time, muito útil e capaz de decidir o jogo numa bola parada. Falta um pouco mais de calma e inteligência para saber dosar o fôlego. No afã de querer decidir e ajudar na marcação termina muitas vezes dando piques desnecessários, o que contribui consideravelmente para que ele ao fim das partidas exausto.
Morais está aos poucos entrando em forma. Não é fácil para alguém que praticamente só jogou ano passado, acompanhar aqueles que já estão no ritmo ideal. Ele vem tentando, se forçando e mostrando que quer ajudar o clube. Não vejo falta de comprometimento, omissão ou corpo mole. A qualidade técnica dele, acredito, não seja motivo para tantos questionamentos. E, pelo temos no elenco, ele é a nossa melhor opção na criação. Foi uma aposta ousada da diretoria e estou torcendo para que dê certo.
Analisando nossos adversários, vejo a nossa situação complicada. Os times se equivalem tecnicamente, bem diferente dos anos anteriores. A maior prova disso é a pontuação na classificação. Há um equilíbrio muito grande, e oscilação também. Times que já estiveram na liderança, caíram. Alguns que estavam na parte intermediária, subiram e estão permanecendo.
Ainda assim, diante de toda essa adversidade, vejo o time nessa temporada mais forte. Não estou comparando esse elenco com o das edições anteriores. A minha assertividade vem da análise que faço em cima daquilo que enxergo como principal para uma equipe: a coletividade.
Renato conseguiu moldar o time utilizando o elenco que tem nas mãos. Pode-se questionar esse ou aquele jogador, mas todos nós sabemos já há bastante tempo quem são os titulares. Eu acredito que, com o decorrer dos jogos, o time vá ganhando mais entrosamento e fique mais forte coletivamente. E é nesse diferencial que aposto minhas fichas.
Nas temporadas passadas, eu tinha mais fé do que qualquer outra coisa. Nessa, o que vi até agora, me deixa à vontade para afirmar que sim, nós podemos.
XXX
O tempo passa e algumas coisas não mudam. Não, eu não vou falar da nossa diretoria e seu comportamento. Já existe muita gente fazendo isso e eu não quero ser mais um a aumentar o coro dos descontentes. Sei que cedo ou tarde, os homens de bem vão entrar em acordo. Espero que eu viva o suficiente.
Falo da imprensa. Estive em Salvador nas férias e vi que a pobreza jornalística e o compromisso com o leitor, e o ouvinte principalmente, estão indo de mal a pior. O que se lê não é tão nocivo quanto aquilo que ouvimos e assistimos. Os textos são restritos a poucos, mas a palavra é aberta a muitos.
De um simples treino fechado, até a escolha técnica baseada naquilo que o treinador vê de melhor pro seu time, vira motivo de polêmica. É muita gente falando para um público cada vez maior, aquele que não se interessa pela verdade e que vai atrás do que os entendidos ecoam aos quatro cantos.
Ouvi um desabafo de Renato em que ele fazia uma comparação, dizendo que ele não tinha condições técnicas de opinar no trabalho de determinado repórter, justamente por faltar embasamento. E que o mesmo deveria se aplicar ao futebol, já que muita gente não conhece tecnicamente ou não foi preparada para tal e fala como se soubesse.
Uma coisa é você ter opinião e outra é querer interferir ou induzir milhões de pessoas a acharem que aquilo é o certo. E o que acontece na imprensa esportiva em Salvador – eu não vou falar dos outros centros, apesar de agirem da mesma forma – é exatamente isso. Um monte de gente sem compromisso com a informação, querendo apenas um pouco de audiência, espalha a semente, povo planta a árvore e depois colhe os frutos da discórdia.
Se existirem interesses escusos, então, a coisa ainda pode piorar, e muito. Tudo depende do que está em jogo e dos objetivos pessoais de cada envolvido. É um nojo, chega ser até vergonhoso saber que a proliferação desse tipo de jornalismo continua a passos largos, sem previsão de parada.
Mas talvez isso seja tema para outro debate.
Saudações Tricolores!
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