O torcedor do Bahia é um cara drástico, de extremos. É, ao mesmo tempo, Binha e anti-Binha. Ganhou o Baiano, então poderia ganhar qualquer campeonato. Perdeu em casa do Grêmio, quatro dias depois, e vai lutar pra não cair, ninguém presta, Falcão é um engodo e o elenco é ridículo. Nem tanto ao céu, nem tanto à terra. Assim como ganhar o Baiano contra um time de segunda divisão não representa a glória definitiva, perder um dos jogos de um mata-mata, mesmo em casa, também pode não ser o calvário que se pinta.
O Bahia jogou mal, perdeu em casa e levou dois gols. O mais importante, agora, é se entender porque o time teve essa noite ruim e o que fazer para melhorar a performance nos próximos jogos. A derrota de ontem teve alguns fatores preponderantes que precisam, com a mais absoluta certeza, serem trabalhados para que o time faça uma campanha segura no Brasileiro e tenha chance de avançar na Copa do Brasil.
Foi uma noite em que até a torcida falhou. 11 mil pessoas, no jogo pós-título baiano, nas quartas-de-final de uma Copa do Brasil, é pouco pra torcida do Bahia. Sei que choveu muito em Salvador e que há uma profusão de jogos em casa em pouco tempo, mas, mesmo assim, não acho desculpa. A torcida do Bahia não é composta apenas pelos 30 mil que foram no BA-vi. A torcida é de milhões.
O esquema com 3 volantes, que pareceu funcionar no BA-vi, não funcionou. Hélder não conseguiu fazer uma partida tão boa quanto a de domingo (até se movimentou bastante, mas errou muito mais passes – como todo o time, aliás). A contusão de Madson também atrapalhou demais os avanços do Bahia pela direita, o principal lado de ataque do time.
Além disso, o mérito do esquema, no domingo, tinha a ver com as possibilidades que o jogo fornecia. O Bahia podia empatar, e jogou abraçado a essa opção. Ainda assim, tomou 3 gols (e conseguiu fazer outros 3). Ou seja, o esquema defensivo levou 5 gols em dois jogos, e fez 4. É menos eficiente na defesa do que deveria, enquanto no ataque vai relativamente bem. O gol contra o Grêmio saiu de um belíssimo lançamento de Diones para Gabriel.
Como ontem o Bahia deveria fazer o resultado, e não esperar uma iniciativa do adversário, o esquema sem um meia ofensivo atrapalhou mais que ajudou. Porque a postura do time foi extremamente covarde no 1º tempo. O Bahia marcava muito atrás, dava campo e posse de bola para o Grêmio, e se fiava em contra-ataques que, na jornada ruim de Hélder e Lulinha, pouco surgiram. Quando saiu, tivemos o gol, mas foi só. E só isso é pouco pra um time que joga em casa e devia se comportar melhor. O Bahia só finalizou 2 vezes no primeiro tempo (o Grêmio, umas 10). Isso demonstra a retranca feia que Falcão armou, e isso não pode ser considerado bom. Me preocupa o discurso de Falcão após o jogo (“fizemos um bom primeiro tempo”).
Para o nosso azar, tomamos um gol bobo, de chute de falta desviada na barreira. Uma azar que veio para mostrar que aquele 1×0 momentâneo era ilusório. O Grêmio, então, já havia perdido pelo menos dois gols feitos. Um em que Marco Antônio chutou pra fora, da marca do pênalti, e outro que Lomba fez milagre num chute de Marcelo Moreno quase na pequena área.
No segundo tempo, o time melhorou. A marcação foi mais adiantada, o time exerceu pressão e conseguiu dominar o Grêmio. Mesmo assim, acho que Falcão demorou a substituir. Então acabamos levando o segundo gol, numa bola que Lomba afastou mal e ninguém marcava o atacante deles. Atrás no placar, fomos de Morais e Vander, pra saída de Fahel e Júnior.
Muitos contestam Falcão na troca de Júnior por Vander. Eu entendo as críticas (tínhamos que fazer gol e perdemos o cara que, efetivamente, mais sabe botar pra dentro). Mas Júnior estava muito mal. É fato: Júnior não tem técnica pra jogar fora da área. Só domina de canela, não consegue fazer tabelas nem dribles. Está há anos luz de Souza. A tentativa de Falcão era ter muita gente veloz e dar uma canseira na zaga pesada do Grêmio. Mas não deu certo e o jogo ficou na derrota de 2×1 mesmo.
O que esse jogo mostra:
– Falcão não pode achar que Hélder é meia e criativo. Quando o resultado não nos favorece, não podemos nos fiar em atacar apenas com Gabriel.
– Nosso lado esquerdo precisa urgentemente de reforços. Sobretudo para a lateral, porque Gerley e William Matheus mal davam conta do Estadual, quem dirá de uma Série A.
– Quem jogará na lateral direita? Coelho está sem contrato (e vinha jogando mal) e Madson acabou de ter uma contusão muscular, que sempre tira o atleta por várias semanas.
– Nossa jogada aérea é boa, mas não pode ser nossa única fonte de perigo aos adversários. Porém, sem a aproximação dos meias com os atacantes, só vamos conseguir ver tabelas entre Gabriel e Madson pela lateral direita, que resultam em cruzamentos a maior parte das vezes. Contribui para a falta de tabelas, também, a extrema dificuldade de Júnior em dominar uma bola e passar para um companheiro.
Foi uma noite muito, muito ruim. Mas não é o fim do mundo. É hora de exercitar o lado Binha e pensar que, sim, há esperança de reverter esse placar. Ou alguém acredita que o Grêmio jogou um bolão? Foi uma bolinha bem mais ou menos. Uma pena é o calendário dos jogos colocar tantos jogos-chave (decisão de estadual, mata-mata de Copa do Brasil e estréia do Brasileirão) numa mesma semana. Sem chance de descanso ou preparação do time. Não veria mal em preservar, contra o Santos, alguns jogadores que possam estar desgastados e sentindo a maratona. É importante começar bem o Brasileiro, mas eu acho que temos chance ainda na Copa do Brasil e espero que Falcão também ache, e que não pense que a fatura está fechada. Sem complexo de inferioridade, Falcão!
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