Nessas enquetes que o site ecbahia.com promove, eu não acerto uma. Se a voz do povo é a voz de Deus, então eu devo estar com um encosto de outra entidade menos nobre, menos divina, mais secular.
Acabo de votar na enquete Você aprovou a contratação de Renato Gaúcho?. Votei NÃO e levei chumbo na asa: 64% aprovam a contratação do Cacique (como meu confrade Ocemar Furquim, do Grupo Bahia Futebol, denomina o pseudo-técnico Renato Portaluppi).
O resultado parcial dessa enquete demonstra quão magnânima é a torcida do Bahia, que está disposta a aceitar um nome tão questionável no comando do time em 2010. Vou começar minha sessão de análise/difamação/calúnia por esse sobrenome aí, que pode estar carregado de significados.
Numa tradução meio literal ou livre do italiano, Portaluppi seria aquele que leva lobos, que conduz lobos, ou coisa que o valha. De que circunstância teria surgido esse sobrenome que o nosso futuro técnico ostenta? Os seus antepassados remotos, certamente, não deveriam ser pastores de ovelhas. Talvez muito pelo contrário: eles deviam conduzir lobos (literal ou metaforicamente). Com que propósitos? Seriam pacíficos? Eram pessoas de boa índole? Evidentemente só posso fazer conjecturas a respeito e não me é possível chegar ou induzir a qualquer conclusão, até porque a família não é o indivíduo, mas posso assegurar que o perfil público demonstrado até aqui pelo cara pelo qual eu vou ter que torcer doravante, direta ou indiretamente, não deixa muita margem para supor que estou diante de uma flor de pessoa.
O episódio em que Renato, coadjuvado pelo baiano Bebeto (argh!), vociferou que a Bahia era terra de índio, ainda ecoa bem audível em minhas lembranças. Jamais me esquecerei e guardo coisas desse gênero como imprescritíveis e imperdoáveis. Nós aqui na Bahia somos muito cordeirinhos. Aceitamos logo esquecer qualquer ofensa, em nome da nossa proverbial amistosidade, hospitalidade, fraternidade, do axé, da negritude, da afrobaianidade, do arrocha, do reggae, do forró, da alegria e outras características que os alienígenas costumam eventualmente usar em nosso prejuízo, para nos humilhar, sacanear e espezinhar muitas vezes.
Claro que a ofensa não está no uso da palavra índio que, em si, nada tem de ofensivo (nem necessariamente de elogiável), como não seria ofensa ou elogio para mim se fosse dito preto, mulato, caboclo, português, espanhol ou qualquer outro povo ou etnia, em outro contexto. Pois aí é que está: a questão está no contexto, no tom e na dimensão e significado que estavam implícitos na expressão. Ela quis significar que a Bahia era terra de selvagens, de incivilizados, de pessoas rudes, de indolentes e tudo o mais que negativa e preconceituosamente se costuma associar aos povos indígenas historicamente.
O técnico Portaluppi poderia até tentar dizer cinicamente em sua defesa que, quando fez alusão aos indígenas, estava se referindo à coragem, à valentia, à resistência, ao convívio harmônico com a Natureza, tão associados a esses povos. Se ele for capaz de tentar, só a gente se fazendo de besta pra engolir essa potoca hipócrita!
Por que denominei o Sr. Renato Portaluppi de pseudo-técnico? Certamente ele deve ter o tal curso que todo técnico de futebol é obrigado a fazer para seguir essa carreira. Mas não é por aí que eu justifico a minha (des)qualificação do profissional em referência. Para mim (e só para mim e para pouca gente mais, pelo visto) Renato Gaúcho como técnico de futebol é uma fraude. Uma obra de ficção. Eu tenho alguma simpatia pelo Flu-RJ e acompanhei as passagens dele por lá. Eu nunca consegui detectar um esquema tático, um estilo de jogo, uma marca que pudesse ser atribuída ao técnico (falha minha?). Até os técnicos mambembes que tivemos este ano aqui (Gallo, Sérgio Guedes, Bonamigo) mostraram algo de estilo de jogo imposto ao time. Os times de Renato não têm alma; não tem cara; não têm personalidade. E é isso que temo e espero do Bahia sob o seu comando.
Se ele me fizer quebrar a cara e se sagrar campeão baiano, da Copa do Brasil e da Série B em 2010 (estilo Binha), eu vou ficar muito satisfeito em constatar que a sua saída do Rio para a Bahia finalmente serviu para que mostrasse alguma coisa e se tornasse verdadeiramente e finalmente um técnico. Até agora ele não me mostrou isso. Pegou um Fluminense já na reta final da Copa do Brasil e o time conseguiu o título não por causa dele, mas apesar dele. Na Libertadores, o time viveu da individualidade de Thiago Neves, Conca e Washington. Quando eles falharam, o time perdeu o título no Maracanã um fiasco comparável ao desastre da Copa de 1950. E olhem que esses foram os pontos altos da carreira de Renato como técnico até agora. Os fracassos retumbantes eu nem vou me dar ao trabalho de citar.
Como era de se esperar, a notícia de sua vinda para o Bahia teve grande repercussão na mídia. Mas, ao contrário do que pensa o ingênuo presidente do meu clube, a exposição à mídia tem sido muito mais da pessoa Renato Gaúcho, do que do Bahia. As manchetes têm dado destaque ao fato de Renato estar saindo do Rio para treinar um time qualquer da Série B e não o que o presidente imaginava, que seria O Bahia, o Tricolor de Aço da Boa Terra, duas vezes campeão brasileiro, time de maior e apaixonada torcida do Norte e Nordeste, 3º maior time em média de público dos campeonatos brasileiros, contrata o famosíssimo, celebérrimo e notório técnico carioca Renato Gaúcho. O presidente pode estar se iludindo com as entrevistas que deu ao SporTV ou à ESPN, mas para a imprensa do Sudeste a imagem de Renato vai sempre eclipsar a do Bahia. Eu já estou vendo esse pessoal falando o Bahia de Renato Gaúcho. E o Bahia, todo o mundo sabe, é meu!
Por falar no presidente MGF, devo dizer ao meu eleitorado que o tal Conselho Consultivo no qual, para minha honra, fui incluído, ao que eu saiba, nunca se reuniu. Imagino que o presidente não deva estar precisando fazer nenhuma consulta para pedir conselhos às pessoas que ele selecionou com tal propósito. Se ele tivesse me consultado, eu emitiria esse parecer negativo sobre a vinda do técnico. Mas como o Conselho Consultivo parece ter sido uma obra de marketing político e demagógico, eu estou tornando público o que poderia ter sido privado. Se eu pudesse ainda dar um conselho ao presidente, eu diria para ele pensar seriamente em fazer uma escolha: ou continua como deputado ou como presidente do Bahia. Creio que ele pode ser um bom presidente se tiver tempo para se dedicar exclusivamente a essa função. Se quiser fazer as duas coisas simultaneamente vai ter desempenho insatisfatório duplamente. Se ele se candidatar a deputado e se mantiver como presidente, pode ter certeza que não contará com meu voto nem para um cargo nem para outro. Pode fazer uma enquete aí para ver o resultado.
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