Se a CBF olhasse as convocações pelo lado absolutamente técnico, norteada pelos números e livre de interesses escusos, Douglas e Gregore seriam convocados. Em tese, é para selecionar os melhores que serve uma comissão técnica. O Brasil vem de muitos insucessos desde a Copa do Mundo realizada no Japão/Coréia, e de lá para cá é fiasco após fiasco. É preciso então rever critérios fora da mesmice desse corporativismo insano.
Mudar é preciso, porque esses métodos injustos, que só fazem nosso futebol crescer como rabo de cavalo, não podem seguir adiante. O Brasil é o celeiro do mundo também no futebol. A história e os fatos estão aí de forma inconteste e a CBF tem de olhar esses fatos com a nobreza do reconhecimento de quem precisa mudar moralmente para ganhar.
– De acordo com o escritor Alvin Toffler, o mundo está entrando na “Quinta Onda” da evolução humana. Mas no Brasil, preso às culturas tradicionais na forma de se fazer política, tendo como locomotiva a Corrupção, há os que acham que a honestidade e a vassoura de quem chega para avançar, limpar e transformar, é a sétima besta do apocalipse… Pena que uma instituição com a importância social da CBF também tenha a mesma cultura da Velha Política no Brasil.
É necessária, sim, a convocação de mais atletas que atuam no Brasil, porque isso, além de recuperar o amor verdadeiro pela amarelinha, aumenta o prestígio do futebol brasileiro e enriquece mais os campeonatos internos. Problema é que o lobby dos agentes que circundam a CBF é muito influente e forte, e essa é uma das dificuldades que a Lei Pelé criou para o futebol brasileiro.
Depois da convocação do desconhecido goleiro Ivan, da Ponte Preta, não dá para pensar outra coisa sobre o fato inusitado que não seja colocar algum dinheiro no caixa da Ponte – é bom lembrar que há meses o goleiro pontepretano está à venda.
– Essa convocação é típica do jeitinho brasileiro influente e levanta dúvida quanto à eficácia pela falta de um critério técnico justo. Se fosse pelo mérito e pela lógica, Ivan seria convocado pela comissão técnica da Seleção Olímpica, assim como foi Arthur.
Soa, sim, como uma ajuda à Ponte Preta – para fortalecer seu caixa. Diga-se também que desde o início do ano a Ponte vinha com folha salarial atrasada em dois meses e só em julho conseguiu atualizar às duras penas, e quem emprestou a grana quer retorno.
Quando penso que os clubes do Nordeste que jogam na Série A estão com seus salários em dia, estrutura física e administrativa modernas, com a maioria fazendo boa campanha no Brasileirão, então entendo que o Nordeste precisa ter clubes de real excelência e não de simples participação no Brasileirão para ter os mesmos privilégios dos clubes sudestinos.
Infelizmente, o preconceito que a CBF tem contra o Nordeste é evidente. Por isso mesmo que enquanto essa região ensolarada e de gente simples tiver carência de dirigentes capazes de virar esse jogo, nada mudará e continuaremos tendo — especialmente no futebol — o Brasil do Nordeste e o Brasil do Sul/Sudeste. Convenhamos que assim a luta é desigual e Douglas, Gregore, Gilberto e outros que surjam correm o risco do “esquecimento” de Tite & Cia. Ltda.
Esse quadro discriminatório só mudará quando a CBF mudar moralmente e se tornar, por esse vetor ético, independente. Por enquanto, aos nordestinos que estiverem nas séries A, B, C e D, pão e água. Pelos idos de 1990/91, Bebeto Gama estava jogando o fino aqui na Bahia, mesmo assim Zagalo disse-lhe que se ele quisesse ser convocado teria de ir para algum clube do Sudeste. E foi. Essa lei ainda continua valendo nos dias atuais. É que mudam os caranguejos, mas o mangue é o mesmo.
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