Essa semana, a propósito de uma notícia divulgada aqui no site ecbahia.com.br sobre a evolução do estado de saúde do jogador Cléber e a possibilidade (felizmente já descartada) de nova intervenção cirúrgica, fiquei sabendo que os jogadores do Bahia ficaram apreensivos ao ler a dita notícia. Isso me chamou a atenção para o fato de que os jogadores estão ligados no que rola por aqui. Que eles lêem o que escrevemos.
Com isso em mente e na esperança de poder alcançá-los, vou pedir licença aos outros internautas para me dirigir especificamente aos jogadores do Bahia. E quero fazê-lo em tom paternal afinal, tenho idade suficiente para ser pai de boa parte deles (à exceção de Eduardo, que esse é gato e já deve estar beirando os 40 anos!).
Meus caros jogadores tricolores:
Quando eu tinha lá meus 13 ou 14 anos, disputei um campeonato de times de bairros lá em Nazaré, minha cidade. Eu tinha um físico que estava mais para Woody Allen do que para Arnold Schwarzenneger, mas ainda assim me metia a ser centroavante (ou centrefór, como se chamava foneticamente o centre forward).
A sorte, um dia inspirado e a fragilidade de um time adversário, contribuíram para que eu fizesse 05 gols numa só partida, transformando-me no artilheiro instantâneo do campeonato. A partir daí os adversários começaram a tomar precauções extras comigo e ficou difícil manter o aproveitamento. Eu estava precisando de uma força adicional e essa força era a presença de meu pai, que nunca ia me ver jogar. Eu sentia que com a presença e o apoio dele eu poderia me superar e voltar a balançar as redes.
Um belo dia de domingo pela manhã, meu time estava se preparando para enfrentar o adversário da vez e fui surpreendido por três coisas: 1 – mudaram o técnico do meu time, sem muita explicação; 2 – esse técnico novo de merda me escalou de lateral-direito! E pra marcar o melhor e mais arisco jogador deles, que era o ponta esquerda!; 3 para acabar de esculhambar a situação, meu pai deu as caras na platéia. Imaginem só o que eu senti antes de começar a partida. Logo naquele jogo, naquele dia, naquela situação, meu pai resolvia dar o ar de sua graça…
Tremi nas bases. Comecei a me imaginar tomando bola por debaixo das pernas, caindo pelas tabelas, errando passes na defesa, fazendo gols contra, só miséria; e pensei na expressão de meu pai vendo o seu filho ali sendo humilhado, ridicularizado, e se retirando cabisbaixo, envergonhado, negando para os amigos qualquer tipo de parentesco comigo. Mas esses pensamentos só duraram um átimo, quer dizer, uma fração de segundo. Esse jogador fraco não era eu. Esse ser covarde não era o meu pai.
Logo eu me enchi foi de confiança. O jogo começou e tome lançamento para o ponta esquerda deles. O cara era bom. Dominou a bola, veio pra cima de mim, fez uma ginga e jogou a bola pelo lado para me dar um drible da vaca. Imediatamente ouvi o grito de meu pai, dizendo algo tipo pega ele!. Não conseguirei reproduzir aqui a intensidade que tinha um grito do meu pai. Perto dele, Paulo Maracajá e Petrônio Barradas eram sopranos!
Tirei forças e velocidade sei lá de onde e cheguei junto, prensando a bola e evitando o cruzamento que ele iria fazer. Ouvi o boa… é isso aí, vindo de meu pai. A partir daí eu voei em campo. Meu pai continuou com seu incentivo tonitruante (com voz de trovão). O ponta passou a ter que me marcar, recuou, mudou de posição e eu lá na cola, até que ele foi substituído. De um cruzamento meu, surgiu o gol de cabeça do nosso ponta, um tampinha de binga chamado Bofe. Ganhamos o jogo.
Ao final, meu pai não me disse nada. Ele não era dado a nenhuma manifestação efusiva de alegria ou apreço. Mas não precisava. A cara dele já dizia tudo. Ele foi me dar só um tapinha nos ombros, mas a mão dele não quis desgrudar da parte de trás do meu pescoço até chegarmos em casa. Acho até que ainda sinto aquela mão até hoje. E é ela que me impulsiona vida afora.
Os mais sagazes entre vocês já haverão de ter concluído que, com essa alegoria, eu estou querendo traçar um paralelo entre a minha situação pessoal descrita e a relação de vocês, jogadores, com a torcida do Bahia. Os torcedores estão lá para lhes dar força. Querem o melhor para vocês e para o time. Pensem nisso. Fortaleçam-se, superem-se, com esse incentivo. Deixem de ter comportamentos apreensivos e traumas infantis ao encarar o estádio repleto de tricolores. Estamos todos do lado de vocês. No mesmo barco e remando juntos.
Nessa quarta-feira pegaremos o Bragantino. É o time que está em primeiro lugar até agora. Ninguém, em sã consciência, espera que saia nenhuma goleada. Só se espera luta, empenho, vontade de acertar, calma e alguma organização de jogadas. E um a zerinho já tá bom demais (pelo menos é o que penso) se der pra fazer mais para aumentar o saldo de gols, ótimo! Mas o essencial são os 3 pontos, que deixamos escapar contra o Barras, por puro desespero e desarticulação (sem falar no juizinho-de-meia-tigela).
Concentrem-se em anular e superar cada um dos jogadores do Bragantino. Vejam a escalação deles nesse último jogo em que venceram o Nacional de Patos: Gléguer; Thiago Vieira, Cris e Wanderley; Somália, Mário (Adãozinho), César Gaúcho, Rubens (Niander) e Paulinho; Davi (Bill) e Valdir Papel. Mentalizem de que forma vocês irão vencê-los. Estudem junto com o técnico Arturzinho as formas de fazê-lo. Creio que Arturzinho, pelo menos, é um melhor técnico que aquele que me escalou de lateral-direito.
As vozes das torcidas organizadas e das desorganizadas podem emitir aqui e ali durante o jogo um ooh, um uuh, um solta a bola porra, mas podem ter certeza que essa turma que ninguém vence em vibração quer mesmo é gritar: Vamos avante, Esquadrão/Vamos, serás o vencedor/Vamos, conquista mais um tento/ Bahia, Bahia, Bahia!
Ao final do jogo, com o triunfo conquistado, olhem para as arquibancadas e levem para casa e para o resto de suas vidas o aplauso, o semblante de alegria, o tapinha nas costas e o duradouro abraço orgulhoso de todos nós.
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